09/06/2021 - 12:03
Desde que iniciou seus trabalhos, em abril, a CPI da Covid no Senado conseguiu reunir uma série de evidências que apontam que o governo Bolsonaro tem responsabilidade pelo caos sanitário que se instalou no Brasil e que faz hoje o País ostentar uma pilha de quase 500 mil mortos na pandemia.
Os indicativos são graves. Os senadores já conseguiram, por exemplo, jogar luz para a existência de um gabinete negacionista que aconselhou o capitão durante esse período. Descobriram também que o mandatário ignorou pelo menos 53 vezes ofertas de vacina feitas pela Pfizer, o que poderia ter salvado a vida de milhares de brasileiros, e, de quebra, poupado famílias do sofrimento que é perder um ente querido.
Existem outros exemplos. Muitos outros. Eles surgem naturalmente, à medida que os parlamentares vão colhendo novos depoimentos. Nesta terça-feira, 8, surgiu mais um, talvez um dos mais absurdos que vieram à tona até agora. E pior: saiu da boca do atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, um médico que tem feito questão de afirmar sempre que é um defensor da ciência.
Ao ser ouvido novamente pela CPI, Queiroga revelou com uma naturalidade grotesca o fato de o Ministério da Saúde não contar com nenhum infectologista em seu corpo técnico. Isto mesmo. Hoje, existe um total de zero especialistas em doenças como a Covid no órgão que representa a maior autoridade sanitária do País. É trágico, mas também esclarecedor a quem tenta entender como é que o Brasil chegou na situação que está. É como se tivéssemos que fazer uma cirurgia e ela fosse conduzida por uma equipe médica que jamais tenha operado alguém. Você toparia correr um risco como esse? É claro que não.
A nova informação trazida por Queiroga em seu novo depoimento diz muito. Mostra, principalmente, que seu compromisso com a ciência é uma farsa. Se realmente fosse verdade, teria tomado providências quando a contratação da infectologista internacionalmente reconhecida Luana Araújo foi barrada por Bolsonaro. Mas não tomou.
Queiroga se dispôs a ser uma espécie de nova versão de Eduardo Pazuello, dizendo “amém” a tudo o que pede um presidente negacionista. A única diferença entre eles é que um veste farda, e o outro, jaleco. De resto, não passam de dois paus mandados.