Não poderiam ser piores as primeiras declarações de Marcelo Queiroga como ministro da Saúde, na manhã de hoje.

Ele disse que não pode ser política de governo fazer lockdown. Diga isso a todos os países da Europa, obviamente muito mais atrasados do que o Brasil, que em algum momento adotaram a medida.

Disse também que os médicos devem ter liberdade para prescrever cloroquina o quanto quiserem. Diga isso aos intensivistas, responsáveis por cuidar de gente que desaba na UTI em estado grave, porque achou que estava protegida usando o placebo de Jair Bolsonaro.

Queiroga repetiu, como um boneco de ventríloquo, o discurso irresponsável do presidente. Deixou claro que entrou no Ministério com a cabeça baixa e as costas curvadas.

Afirmei ontem que só dois tipos de médico aceitariam o convite de Bolsonaro para substituir Eduardo Pazuello: os charlatães e os oportunistas. Não vou incluir Queiroga na primeira categoria. Sobra, então, considerá-lo um oportunista, querendo lustrar o currículo com um cargo vistoso.

Se acha que terá tempo para conquistar simpatia com sorrisos e tapinhas nas costas, Queiroga está enganado. Sua margem de erro é zero. Se o Congresso e os governos estaduais sentirem que ele está no Ministério da Saúde para tergiversar, vão destroçá-lo.

Quanto a Bolsonaro, ele fez um jogo perigoso. Decidiu manter a saúde dos brasileiros submetida aos seus caprichos e achismos, em vez de compartilhar a responsabilidade pelo manejo da pandemia com o Centrão, que pretendia emplacar um dos seus no ministério.

Os sinais em Brasília são claros: a paciência acabou. Se Queiroga não tirar vacinas e esperança da cartola, não haverá leniência. Aumentaram grandemente as chances de haver a CPI da Pandemia.