Atemporada de seca no Pantanal, que costuma ter início em agosto, começou mais cedo este ano devido às mudanças climáticas e aos efeitos do El Niño. Incêndios devastam a região, causando estragos semelhantes aos de 2020, ano de recorde histórico de queimadas no bioma. Desde o início de 2024 até junho, a área queimada já é quase o dobro da registrada quatro anos atrás. Com isso, o governo criou uma sala de situação para enfrentar o problema. A ideia é fazer gestão de risco preventiva, uma verdadeira operação de guerra para enfrentar a seca de proporção enorme, com planejamento antecipado para conseguir suprir as necessidades locais.
Até quarta-feira (19), o Pantanal registrou 2.333 focos de incêndio em 2024, segundo a plataforma BD Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). No mesmo período de 2023, aconteceram apenas 137 focos.

Gustavo Figueiroa, diretor de comunicação e biólogo do SOS Pantanal, disse à ISTOÉ que o instituto trabalha com valores de área queimada para entender a extensão dos danos. “A comparação que fazemos é com 2020, quando houve o pior incêndio da história no Pantanal. Naquele ano, queimaram 3,9 milhões de hectares. Se compararmos de 1º de janeiro a 18 de junho de 2020 com o ano de 2024 até agora, temos 96% mais área queimada do que em 2020. Foram atingidos 486 mil hectares. Até agora, este ano está muito pior. Nossa preocupação é que 2024 pode ultrapassar 2020”, declarou.
As causas das queimadas são diversas, mas mais de 95% dos incêndios são causados por ação humana, sejam intencionais ou não. “Tem o proprietário rural que colocou fogo para recuperar pastagem, o ribeirinho que pôs fogo para coletar mel, a população que usa para queimar o lixo, fazer fogueira. São vários usos que interferem e ocasionam esses incêndios”, disse.
Os danos das queimadas na região são incalculáveis. “Porque além da biodiversidade, da floresta que é queimada, tem muita perda financeira também. São danos financeiros e ecológicos muito altos”, disse Figueiroa.

Baixa umidade
A superfície de água vem encolhendo no Pantanal nas últimas décadas. Nos últimos 35 anos, de acordo com a rede colaborativa MapBiomas, a região perdeu 29% dessa umidade superficial, ou seja, as cheias não têm acontecido mais como antes. “Quando vem alguma cheia, inunda uma área menor e a água permanece por menos tempo. O Pantanal está secando principalmente devido à degradação do seu entorno, do Cerrado, na bacia do Alto Paraguai, que é de onde vem a água que desce para lá. Isso acaba com as matas ciliares, com as nascentes e reduz a água. Somado a fenômenos como El Niño e La Niña e impulsionado pelas mudanças climáticas, veio esse clima extremo este ano. A tendência é que a seca continue avançando nas próximas décadas”, declarou.
O bioma já está em uma fase crítica e pede ações para a mitigação, com mais brigadistas e fundos da união, estados e municípios. “É preciso unir recursos de uma forma inteligente e aplicá-los de modo integrado, com mais gente, aeronaves, tratores, tudo que estiver disponível”, disse. “A tendência para os próximos meses é ficar mais seco, a estação está só começando. O auge é em agosto e setembro, quando a situação vai ficar bem crítica. A hora de agir é agora, desde já, com toda força para não ter que gastar mais recursos ainda quando estiver mais seco”, alertou.
• Nos últimos 38 anos, de 1985 a 2023, mais de 199 milhões de hectares foram queimados ao menos uma vez no Brasil, segundo dados do MapBiomas Fogo, representando quase um quarto do território.
• Mais de dois terços da área afetada foi de vegetação nativa; cerca de um terço em área de pastagem e agricultura.
• A cada ano, em média, 18,3 milhões de hectares (2,2% do País) são afetados pelo fogo.
• A estação seca, entre julho e outubro, concentra 79% das ocorrências de área queimada no Brasil. Setembro responde por um terço do total. Cerca de 65% da área afetada no País foi queimada mais de uma vez em 39 anos, e o Cerrado é o bioma com a maior quantidade recorrente.
Entre as ações previstas pelo Governo Federal estão ampliação de recursos e operações, simplificação do processo para contratação de brigadistas, equipamentos, embarcações e aeronaves. A primeira reunião ocorreu segunda-feira (17), sob coordenação da Casa Civil, reunindo 20 ministérios, como Meio Ambiente, Justiça, Defesa e Agricultura e Pecuária, além do Ibama e do ICMBio. A próxima reunião será segunda-feira (24), quando também devem tratar de ações para o enfrentamento da estiagem na Amazônia.