Enquanto todas as atenções estão voltadas para os últimos capítulos do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, em Brasília, o governador Rodrigo Rollemberg, do PSB, só tem motivos para comemorar. Há poucos dias, por determinação do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, a deputada Celina Leão (PPS-DF) foi afastada sumariamente da presidência da Câmara Legislativa, assim como toda a sua mesa diretora. O motivo: gravações sugerem a participação dela e de seus aliados num esquema de propinas, que teria desviado R$ 31 milhões da secretaria de Saúde para parlamentares.

Celina emulava, em Brasília, o jeito Eduardo Cunha de fazer política. Um método que impõe sobre o Poder Executivo a extorsão permanente comandada pelo Legislativo. Pouco tempo depois da posse da Rollemberg, que se elegeu sem maioria parlamentar, Celina conseguiu derrubar o então secretário da Casa Civil, Hélio Doyle, que resistia a entregar todos os cargos e favores que eram exigidos por ela. Mas como o esquema de chantagens nunca termina, Rollemberg começava a ser ameaçado por uma conspiração que envolvia seu próprio vice, Renato Santana, do PSD. Ele pretendia reproduzir em Brasilia o modelo de impeachment colocado em prática contra a presidente Dilma Rousseff: arruma-se uma acusação, faz-se algum barulho na imprensa e governos sem maioria parlamentar são colocados contra a parede.

“Celina Leão era mais um exemplo do método de
extorsão parlamentar sobre o Poder Executivo”

Essa possibilidade se abriu depois que os distritais observaram a nova realidade do Legislativo federal. Numa entrevista espantosamente franca concedida nesta semana, o ministro Gilberto Kassab afirmou que o Brasil passou a ser semiparlamentarista e disse ainda que todo governo que não tiver o controle de pelo menos um terço do parlamento sofrerá processos de impeachment. Ora, se isso vale no plano federal, também pode se reproduzir nos governos estaduais e municipais. Detalhe: em 1993, quando foi consultada a respeito, a população brasileira fez uma clara opção pelo presidencialismo.

A diferença entre os destinos de Dilma e Rollemberg pode ter sido determinada pelo timing do Poder Judiciário. Cunha só foi afastado cautelarmente da presidência da Câmara, pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, depois de abrir o processo de impeachment e comandar a votação na Câmara. Celina Leão caiu antes de levar adiante seu plano. Agora, livre das ameaças, Rollemberg pode tentar construir com o Legislativo do Distrito Federal uma relação republicana.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias