A diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central, Fernanda Guardado, reforçou nesta terça-feira, 5, que as decisões do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) têm um impacto grande para todas as economias, principalmente via preços de ativos. “É engraçado, porque dessa vez os bancos centrais emergentes saíram na frente, então há um pouco mais de conforto de se fazer algum ajuste no nível de contração, à despeito dos EUA estarem ainda subindo ou não seus juros”, afirmou, em live promovida pela Bradesco Asset.

Para a diretora, porém, ainda há o risco de haver alguma instabilidade financeira via uma reprecificação muito forte de ativos. “Isso é sempre uma preocupação para mercados emergentes como o Brasil, é algo levado em consideração o tempo inteiro por nós”, acrescentou.

Fernanda Guardado repetiu que o cenário inspira cautela. “Esse cenário com emergentes tendo queda de juros enquanto países avançados estão subindo juros inspira mais prudência. Isso não quer dizer que você não possa seguir com seu ajuste, mas com cautela e prudência”, completou.

Condições já colocadas na ata do Copom

A diretora do BC listou as condições já ditas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) para acelerar ou reduzir o ritmo do ciclo de redução de juros. “Estou olhando para lista de condições que foi colocada na ata. Olhamos para o hiato do produto, mais de perto para a inflação de serviços, e também para a desancoragem das expectativas. São as únicas três coisas? Não, é um conjunto. Essas três variáveis têm uma conexão entre elas”, afirmou. “Fomos bem claros que precisaríamos ver mudanças ou surpresas relevantes em relação a um cenário que já projetamos de desinflação”, completou.

Para ela, essa mudança de cenário precisa ser substancial para alterar o “plano de voo” sinalizado pelo Copom. A diretora lembrou que a trajetória de inflação calculada pelo BC já é mais otimista que a do mercado no Boletim Focus. “Provavelmente o Focus e o mercado serão mais surpreendidos que o BC”, afirmou, repetindo a importância da instituição seguir agindo com cautela.

Desafio fiscal vindo dos EUA

A diretora disse também que o cenário fiscal nos Estados Unidos é outro desafio para o cenário externo que voltou a ter relevância nas últimas semanas. “Apesar da emergência da covid ter acabado, diversas medidas foram colocadas nos EUA para sustentar a atividade. A dívida americana subiu substancialmente nos últimos anos e é uma dívida muito de curto prazo, com reprecificação de custo muito grande na medida em que o Fed sobe os juros”, afirmou.

Fernanda Guardado destacou que os déficits projetados para os EUA têm sido revisados para cima em um ambiente de endividamento já bastante alto. “Não há projeção de reversão desses gastos excessivos que estão sendo feitos EUA. E o Fed deixou de ser um comprador de dívida para se desfazer de títulos. Isso significa uma emissão líquida e o mercado tem que absorver títulos da dívida adicionais dos EUA. O mercado acaba cobrando mais juros para digerir essa emissão”, acrescentou.

Enfatizou ainda que, pela primeira vez em muito tempo, há sinais de que o mercado acredita que taxa de juros longa nos EUA seja maior do que o Fed prevê. A diretora citou que a taxa de 10 anos dos juros dos EUA tem subido substancialmente.

Para ela, é possível que parte de alta de juros dos EUA seja conjuntural, mas que tenha também um componente estrutural por questionamentos sobre o resultado fiscal. “Há também aumento de taxa de juros de mercado em outros lugares, como Europa, mais ligados à questão de segurança nacional”, completou.

Realocação de cadeias globais

A diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central, Fernanda Guardado, disse também que realocação de cadeias globais após a pandemia de covid-19 até agora não parece que foi tão “dramática”.

“Ela aconteceu e beneficiou três ou quatro países. Mas não parece ser tão dramática quanto se esperava inicialmente. Já a transição energética é um assunto de longo prazo, que talvez os bancos centrais tenham incorporado melhor, com melhor percepção dos riscos financeiros e para a inflação”, afirmou Fernanda, na live promovida pela Bradesco Asset.