Temos que admitir: o primeiro turno das eleições de 2022 terminou registrando um enorme fiasco.

Um fiasco para as forças progressistas, que chegaram a imaginar que o ex-presidente Lula poderia vencer ainda no primeiro turno. Doce ilusão.

Um fiasco para Ciro Gomes, que conseguiu ter menos votos que Simone Tebet, uma virtual desconhecida até outro dia, que passou como um caminhão sobre o candidato cearense, abrindo mais de um milhão de votos de diferença.

Ciro, que muitos acreditavam ter força para se tornar a terceira via, ou que era o único com uma proposta consistente de governo, mas que nas últimas semanas de campanha, desistiu de lutar pela sua eleição para arrancar votos de Lula, sem nenhuma preocupação com sua responsabilidade histórica.

Um fiasco para a maioria dos institutos de pesquisa, que erraram muito além da margem de erro.
Não foram capazes, em nenhum momento, de detectar a onda bolsonarista que tomou de assalto os votos para senador, governador e deputados.

O primeiro turno foi um fiasco para Ciro Gomes. Ele teve menos votos que Simone Tebet, uma virtual desconhecida até outro dia.

E, finalmente, um fiasco para o presidente Lula, cuja campanha começou sem tempero, chapa-branca, sem atacar seu principal adversário e, quando decidiu ser mais agressivo, tanto na propaganda eleitoral como nos debates, era tarde demais.

Lula, Ciro, progressistas, institutos de pesquisa. Ninguém foi capaz de entender o que Bolsonaro representa hoje.

Juntem-se a eles boa parte da imprensa e analistas políticos.

Ninguém antecipou o que aconteceria no último domingo.

Há quem diga que o grande vitorioso foi o pensamento conservador.

Foi nada.

Acreditar nisso é continuar míope e correr o risco de tomar outra goleada no segundo turno.
O grande vencedor desse primeiro turno tem nome e sobrenome: Jair Bolsonaro.

Basta ver a quantidade de candidatos que ninguém conhecia há 4 anos e que foram eleitos porque ganharam destaque nacional por serem parte da claque do atual presidente.

Damares Alves, o astronauta Marcos Pontes e Eduardo Pazuello. Quem eram esses antes de 2018?

Não. O resultado de domingo não espelha um voto conservador.

Representa, sim, um voto de apoio ao presidente Bolsonaro e prova que, mesmo que Lula vença o segundo turno, terá enorme dificuldade para governar.

O resultado desse primeiro turno mostra também que o brasileiro eleitor estava apenas aguardando uma janela de oportunidade para expor suas reais crenças.

Domingo provou que a eleição de 2018 não foi uma resposta à corrupção petista, como muito se divulgou.

Não foi também um ponto fora da curva.

O que aquela eleição e este primeiro turno demonstram inequivocamente é que Bolsonaro representa um Brasil intransigente, que muitos não queriam acreditar que existisse.

Um presidente que destruiu o Meio Ambiente, a Educação, a Cultura, que tratou a Saúde com enorme descaso e, mesmo assim, conseguiu enorme sucesso nas urnas.

Há algo de podre em nosso reino, ficou provado.

Temos uma sociedade que simplesmente não quer ouvir lideranças políticas moderadas.

O Brasil, que historicamente foi um País progressista nos objetivos e liberal nos costumes, hoje não existe mais.

Domingo foi o atestado de que somos um novo Brasil, alinhado com o crescimento das forças de direita em todo mundo.

Somos uma Nação que compactua com o preconceito, homofobia e que acredita que religião e política devem estar misturadas.

Um Brasil desumano, bélico, que aceita a misoginia, o racismo, o ódio.

Está tudo lá, registrado em 51 milhões de votos.

Lula passou com apenas 5,2% à frente de Bolsonaro.

Uma vitória triste, porque mostra que somos o que não queríamos ser.

Domingo provou que o Brasil não é mais nosso Brasil.

E a eleição de Lula, de provável, agora é apenas possível.