POR Juliana Kalil fotOS Alê de Souza E FELIPE LESSA (PARA ABÁ MGT) Ao questionar o papel da mulher na sociedade no seu livro O Segundo Sexo (1949), Simone de Beauvoir não poderia imaginar que o sexo frágil da época se tornaria tão forte em apenas seis décadas. Imagine sua surpresa, então, ao se deparar com esta trinca de mulheres ? Eliane Giardini, Heloísa Périssé e Fabíula Nascimento ?, de gerações tão distintas, mas igualmente corajosas em sua luta pela felicidade. Não à toa, as três estão no horário nobre da tevê. Em Avenida Brasil, da Globo, elas são Muricy, Monalisa e Olenka, respectivamente, do bairro do Divino, suas mais recentes e elogiadas performances. Mas, talvez, seja quando as câmeras são desligadas e as luzes do estúdio se apagam que elas se revelam ainda mais interessantes. Como mulheres. Eliane, 60 anos, foi casada por 25 com o ator Paulo Betti, e hoje preza por sua liberdade. Contrariando Tom Jobim, para ela é possível ser feliz sozinha, sim. ?A liberdade que eu conquistei é muito importante?, afirma. Cheia de vitalidade, a atriz diz que se sente quarentona e brinca sobre as personagens fogosas que faz. ?Até quando vão me fazer passar por isso?? Heloísa, 46, é casada há dez com o diretor Mauro Farias e tem duas filhas. Tudo normal demais? Que nada. Heloísa e Mauro moram em casas separadas. ?Ele tem o apartamento dele, com todas as coisas que gosta, mas dorme em casa todos os dias. Já até moramos juntos, mas preferimos assim?, assume. Por fim, Fabíula. Feminina, 34, apostou em um amor dez anos mais jovem ? o ator George Sauma. Por conta dessa sua decisão por gostar de alguém, acabou sendo alvo de brincadeiras de amigos e ouviu comentários preconceituosos de quem vincula o amor à data de nascimento. ?Não ligo, já até virou piada entre nós?, diz ela, dando de ombros. Eliane, Heloísa e Fabíula. O que diria a escritora francesa, autora da obra que é alicerce do movimento feminista, se as conhecesse hoje? A que conclusão chegaria a parisiense diante de histórias tão surpreendentes, vividas por estas mulheres deslumbrantes, clicadas com exclusividade a Alê de Souza neste ensaio poderoso de Gente? ?Quelles femmes divine!?, certamente. Que mulheres divinas! Ping Eliane: ?ser Sexy depois dos 40 é uma conquista? Em ótima forma como a fogosa Muricy, Eliane Giardini chega aos 60 anos se considerando realizada. Foi casada por 25 anos com o ator Paulo Betti, teve duas filhas ? Juliana e Mariana ?, separou e, agora, preza por sua liberdade. Casar de novo? Fora de cogitação. Como é a parceria com Marcos Caruso e também contracenar pela primeira vez com Juliana Cazarré? Eliane Giardini: Marcos é uma pessoa que pode me ligar a qualquer hora que eu estarei pronta para ajudá-lo. E sei que ele faria o mesmo por mim. É um amigo para a vida inteira. E tenho um carinho imenso pelo Juliano. Ele é jovem, mas parece ter a minha idade. É culto, refinado. Como é o clima na hora de fazer as cenas mais quentes? São cenas sempre cômicas. Na cena da despensa, em que Muricy e Leleco foram pegos no maior amasso pelo Tufão, eu e Caruso rimos muito, é um deboche só nos bastidores. E o Juliano me deixa muito à vontade também para esse tipo de cena. Não me incomoda ser chamada para fazer essas mulheres fogosas. Acho até que é uma das bandeiras que levo da minha geração. Essa não é sua primeira personagem fogosa na tevê. Incomoda? ? Nem um pouco. Acho isso uma virtude. Você ser sexy aos 20, 30 é natural. Ser sexy depois dos 40 é uma conquista. Minha geração descobriu que é possível ser bonita e sensual depois dos 40. Sua sensualidade chama a atenção dos diretores… Acho que o meu visual ajuda e acredito que eu esteja envelhecendo bem, mas não é só essa coisa de ser ?bonita e gostosa?. A verdade é que estes papéis todos têm uma pegada cômica. Desde que interpretei a Nazira, de O Clone, descobri essa veia para o humor. O lado sensual é um tempero a mais. Como encara a chegada dos 60 anos? Sinceramente, não me sinto com 60 anos. Quando falo dessa idade parece que estou falando da minha avó. Me sinto com 42 anos. Mas também não fico paranoica com a idade chegando. Me sinto até mais leve agora, mais velha. Quando eu era mais jovem, era mais dura comigo mesma. Voltando a Muricy, ela não encarou a separação de forma positiva. Como foi com você quando se separou do ator Paulo Betti, em 1997? Fiquei supertranquila. Fui casada, morei junto, tive minhas filhas e, agora, gosto de viver sozinha. Graças a Deus me dou muito bem com ele, tenho ótima relação com a atual namorada do Paulo, a Mana Bernardes, e com os filhos dele. Na vida real, você tem preferência por homens mais novos ou mais velhos? Isso não é uma escolha. Não penso nisso quando me interesso por alguém. Primeiro tenho de me apaixonar e depois penso em quantos anos ele tem. Não há regra ou critério quando se está apaixonada. Tem vontade de se casar de novo? Estou solteira e não tenho essa vontade, não. Acho que existe um tempo certo para você casar, construir uma família, ter filhos… E isso já passou para mim. Não me vejo morando com outra pessoa. Pode até acontecer, já que não mandamos em nossos sentimentos, mas a liberdade que eu conquistei é muito importante para mim. Tenho muitos planos ainda para a minha vida. ? Ping Heloísa: ?Achamos melhor morar separados? Tal e qual sua personagem Monalisa, Heloísa Périssé guarda certa independência dentro de seu casamento com o diretor Mauro Farias. Mas garante que é uma mãe muito mais equilibrada que seu alterego na tevê. Quando suas filhas saírem de casa, acha que sofrerá tanto quanto a Monalisa sofreu com a saída do Iran? Heloísa Périssé: Não, porque não sou tão controladora. Aprendi com meus pais a amar com liberdade e que longe é um lugar que não existe. Minha família mora cada um em um canto do mundo e não é por isso que somos distante. Você tem vontade de adotar uma criança? Se eu não tivesse minhas filhas, talvez adotasse sim. Eu tenho um instinto maternal muito forte, não conseguiria viver sem ter filhos, adotados ou não. Suas filhas assistem à novela? Quem assiste mais é a Antônia, a mais novinha. Aliás, ela é minha parceira para ver novela, ir à padaria, ir à igreja. Luiza está na fase adolescente e assiste quando dá. O que me deixa impressionada é que a Antônia ama de paixão a Carminha. Uma vez ela estava assistindo novela comigo e perguntou: ?Mãe, você conhece a Carminha? A Carminha me conhece??. Eu disse que sim e ela pediu para ligar para a Adriana Esteves. Aí eu liguei, só que caiu na caixa postal e, então, Antônia deixou mensagem: ?Carminha, o que eu tenho a dizer para você são só elogios. Eu te amo?. Foi a coisa mais fofa. Você é casada há dez anos com seu marido, Mauro Farias, mas moram em casas separadas. Funciona? Achamos melhor morar separados. O Mauro tem o apartamento dele com tudo o que gosta, mas dorme em casa todos os dias. A diferença é que na minha casa, eu faço o que quero nela. Já morei junto, mas preferrimos assim. Ping Fabiúla: ?Até virou piada para a gente? Fabíula Nascimento já foi cabeleireira e até ajudante de bar antes de se tornar atriz. Agora se diverte com sua personagem Olenka e com o namorado mais jovem. Sem crise com isso, aliás. Você faria como a Olenka e se relacionaria com o ex-namorado de uma amiga? Fabíula Nascimento: Jamais! Se minhas amigas aparecem com namorado na minha frente, não passa em meus pensamentos nada de relação homem e mulher. É ali mesmo que começa minha amizade com ele e só. É verdade que já te perguntaram se você era filha da Eliane Giardini? Sim. Ela já me disse que também já foi questionada sobre isso porque acham a gente parecida. Para mim, é uma honra. Se eu chegar com a beleza dela na idade dela, estou feita. Eliane é uma deusa! E agora vejo que ela é uma pessoa incrível também. Antes de ser atriz, você teve um salão de beleza e um bar da sua família. Já foi cabeleireira, manicure, caixa, garçonete… Eu cresci trabalhando no bar da minha família. Quando minha mãe resolveu abrir um salão, eu entrei de sócia. Fazíamos chapinha, escova, corte. Fiquei lá até meus 18 anos, quando resolvi realmente seguir a carreira artística. Coincidentemente são as duas profissões que tive na novela. Seu namorado é dez anos mais novo que você. Isso já foi um problema? Por um tempo sim, me incomodei já com os comentários. O preconceito existe. Mas hoje não mais. Até já virou piada para a gente. Você já foi casada. Pensa em altar de novo? Casamento é difícil, tem de dividir o teto, os problemas, as angústias. Aos poucos, o relacionamento tende a ficar mais pesado. Namoro é mais suave. Só sai para se divertir, se liga à noite e cada um vai para sua casa depois. Siga Gente no Twitter!