O Brasil não anda bem. Mesmo.

Anda de lado, para não dizer que anda para trás, seja lá onde você olhar.

Na Cultura, na Educação, na Economia, na Saúde e no Esporte.

A desclassificação da Copa do Mundo, no jogo contra a Croácia, foi apenas mais uma prova disso.

Foi a cereja do bolo.

Mas o problema vem de antes.

 

Algum desavisado pode achar que a culpa de todos os nossos males foi da pandemia.

Ou por suas trágicas consequências ou pelo apagão na economia.
Que nada.

A pandemia foi só mais uma cereja. Uma cereja podre, é verdade.

Aí virão os petistas dizendo que as provações que estamos passando devem-se ao Bolsonaro.

Também não. Já não vínhamos bem quando este senhor foi eleito.

O ano de 2018 foi só mais uma cereja.

Temer foi outra.

Dilma, pedaladas, impeachment, mais uma.

Bolsonaristas dirão que a culpa é do PT. Não é também.

PT é apenas vermelho, como o que mesmo?

Isso. Uma cereja. Mais uma.

A coisa descambou foi durante a Lava Jato, Petrolão, Mensalão, acreditam os politizados.

Ou no 7×1, dirão os apaixonados pelo futebol.

Nosso bolo de azar tem cerejas que não acabam mais.

Tem a morte do último herói nacional, Ayrton Senna, numa curva de San Marino.

Tem o Collor, tem a Seleção de 86.

Para não falar da de 82, aquela que encantou, mas não levou.

A verdade é que o Brasil não consegue sair dessa fase em que tudo dá errado, por mais que a gente reclame.

Esforço, de verdade, não praticamos.

Mas reclama que nem doido.

A última boa notícia, dirão alguns, foi aquela capa do The Economist, com o Cristo Redentor decolando para nosso futuro que seria brilhante.

Mal sabiam eles. Na verdade, o Cristo Redentor já sabia o que teríamos de enfrentar e cansou. Decolou em busca de novos ares, isso sim.

Deus não é mais brasileiro e, com a polarização que se instituiu, nem nós mesmos sabemos quem é e quem não é brasileiro.

Somos um País abandonado pela sorte.

Vem chegando o final do ano e com ele, a ilusão de que, na madrugada de 31 de dezembro, alguma coisa misteriosa vai acontecer.

Iemanjá irá nos redimir, quando o Brasil pular sete ondas vestido de branco.

E aí sim, finalmente, espantaremos nossos fantasmas.

Pensamento mágico é o que nos move.

De alguma maneira o brasileiro, sempre Poliana, quer acreditar que algum fato novo vai resgatar a sorte que tivemos um dia.

Se é que tivemos.

A alegria nas ruas do tempo das Diretas Já. O fim heróico da inflação. O topete sensual do Itamar ou os marimbondos do Sarney.

Bobagem.

Aquilo foi só uma marolinha, Tancredo que o diga.

Das décadas de governo militar, então, nem se fala.

Disse Camões que a alegria plena não existe.

O Brasil é um bolo azarado coberto de cerejas

Mas poxa, poeta, nem você poderia prever o que temos passado nos últimos anos.

Nas últimas décadas.

Nos últimos séculos.

Somos um País que se ilude com pequenas doses de alegria.

A alegria da vez era o hexa, que neste ano viria, com toda a certeza.

Só que não.

E agora vamos acreditar num novo milagre brasileiro.

A próxima esperança é o governo Lula.

Com ele, agora sim a Nação vai para frente.

Finalmente vamos espantar essa má fase atávica, que é  nossa maldição.

Aí vejo a Gleisi Hoffmann, vejo o Lindbergh Farias e lembro que já vimos esse filme antes.

Como já vimos as lágrimas dos nossos jogadores pelos gramados do mundo.

Que fase…