16/12/2022 - 9:30
O Brasil não anda bem. Mesmo.
Anda de lado, para não dizer que anda para trás, seja lá onde você olhar.
Na Cultura, na Educação, na Economia, na Saúde e no Esporte.
A desclassificação da Copa do Mundo, no jogo contra a Croácia, foi apenas mais uma prova disso.
Foi a cereja do bolo.
Mas o problema vem de antes.
Algum desavisado pode achar que a culpa de todos os nossos males foi da pandemia.
Ou por suas trágicas consequências ou pelo apagão na economia.
Que nada.
A pandemia foi só mais uma cereja. Uma cereja podre, é verdade.
Aí virão os petistas dizendo que as provações que estamos passando devem-se ao Bolsonaro.
Também não. Já não vínhamos bem quando este senhor foi eleito.
O ano de 2018 foi só mais uma cereja.
Temer foi outra.
Dilma, pedaladas, impeachment, mais uma.
Bolsonaristas dirão que a culpa é do PT. Não é também.
PT é apenas vermelho, como o que mesmo?
Isso. Uma cereja. Mais uma.
A coisa descambou foi durante a Lava Jato, Petrolão, Mensalão, acreditam os politizados.
Ou no 7×1, dirão os apaixonados pelo futebol.
Nosso bolo de azar tem cerejas que não acabam mais.
Tem a morte do último herói nacional, Ayrton Senna, numa curva de San Marino.
Tem o Collor, tem a Seleção de 86.
Para não falar da de 82, aquela que encantou, mas não levou.
A verdade é que o Brasil não consegue sair dessa fase em que tudo dá errado, por mais que a gente reclame.
Esforço, de verdade, não praticamos.
Mas reclama que nem doido.
A última boa notícia, dirão alguns, foi aquela capa do The Economist, com o Cristo Redentor decolando para nosso futuro que seria brilhante.
Mal sabiam eles. Na verdade, o Cristo Redentor já sabia o que teríamos de enfrentar e cansou. Decolou em busca de novos ares, isso sim.
Deus não é mais brasileiro e, com a polarização que se instituiu, nem nós mesmos sabemos quem é e quem não é brasileiro.
Somos um País abandonado pela sorte.
Vem chegando o final do ano e com ele, a ilusão de que, na madrugada de 31 de dezembro, alguma coisa misteriosa vai acontecer.
Iemanjá irá nos redimir, quando o Brasil pular sete ondas vestido de branco.
E aí sim, finalmente, espantaremos nossos fantasmas.
Pensamento mágico é o que nos move.
De alguma maneira o brasileiro, sempre Poliana, quer acreditar que algum fato novo vai resgatar a sorte que tivemos um dia.
Se é que tivemos.
A alegria nas ruas do tempo das Diretas Já. O fim heróico da inflação. O topete sensual do Itamar ou os marimbondos do Sarney.
Bobagem.
Aquilo foi só uma marolinha, Tancredo que o diga.
Das décadas de governo militar, então, nem se fala.
Disse Camões que a alegria plena não existe.
O Brasil é um bolo azarado coberto de cerejas
Mas poxa, poeta, nem você poderia prever o que temos passado nos últimos anos.
Nas últimas décadas.
Nos últimos séculos.
Somos um País que se ilude com pequenas doses de alegria.
A alegria da vez era o hexa, que neste ano viria, com toda a certeza.
Só que não.
E agora vamos acreditar num novo milagre brasileiro.
A próxima esperança é o governo Lula.
Com ele, agora sim a Nação vai para frente.
Finalmente vamos espantar essa má fase atávica, que é nossa maldição.
Aí vejo a Gleisi Hoffmann, vejo o Lindbergh Farias e lembro que já vimos esse filme antes.
Como já vimos as lágrimas dos nossos jogadores pelos gramados do mundo.
Que fase…