Definidos os principais candidatos para a eleição presidencial, o foco vai para a escolha dos vices. A maior surpresa acontece com a negociação entre Lula e Alckmin. Estamos entrando, assim, numa era de falta de conteúdo programático. Não há coerência ideológica. Nem o mais visionário dos cientistas políticos poderia prever sequer uma aproximação. A resistência em setores mais críticos do PT e aliados históricos, como PSOL e CUT, pode inviabilizar a coligação. Que bicho é esse que pode surgir da coligação? O cientista político Rubens Figueiredo pensa que será difícil explicar ao eleitor como aconteceu a negociação. “Alckmin é visto como um antipetista.”

O pragmatismo impera e Lula acena com uma trégua para a direita. O especialista em Comunicação Política Bruno Soller diz que a escolha do vice busca agregar virtudes que o candidato não consiga por si. “Alckmin é um nome que agrada o setor financeiro e produtivo, além de acalmar os ânimos sobre o risco PT”, afirma. Por sua vez, a sedução de uma campanha que começa liderando as pesquisas anima Alckmin. Ele está com seus dias contados no PSDB e encontraria no PSB uma legenda segura para consumar a empreitada.

DESARTICULADO Bolsonaro prefere Braga Netto, que não tem influência no Congresso (Crédito:Pablo Jacob)

Bolsonaro afirmou na quarta-feira, 8, que já conversa com um provável vice e deve anunciá-lo em março. Disse que deseja dar “respeitabilidade” à chapa e que “não pode ser um casamento de última hora”. O mais cotado é o ministro da Defesa, general Braga Netto. O presidente é conhecido por não confiar em ninguém. Assim, ele substituiria o general Hamilton Mourão, mas manteria a lógica de ter um vice que não faz sombra no Congresso. Correm por fora os ministros Tereza Cristina (Agricultura), Fábio Faria (Comunicação) e Ciro Nogueira (Casa Civil). Especialistas afirmam que é importante escolher um vice que fale para um público diferente. Então o ideal seria Bolsonaro escolher uma mulher, apoiada pelo Centrão e que representasse uma região diferente do Sudeste. Figueiredo afirma que Bolsonaro vai escolher “um político de perfil modesto”.

A ideia de ter uma mulher na chapa é vista com bons olhos também pela campanha do governador João Doria, candidato do PSDB. Ele admite estar negociando com MDB e disse à ISTOÉ que “Simone Tebet é um grande nome, tem meu respeito e admiração. Uma mulher é a minha preferência. Até porque as mulheres representam a maioria do eleitorado”. Soller acredita que a senadora “é um nome leve, que se encaixaria bem em qualquer candidatura”. O MDB ainda tem outros atrativos numa composição. O fundo partidário, o tempo de TV e a capilaridade.

A campanha de Ciro Gomes é outra que avalia o nome de uma mulher. Principalmente que seja dos estados de São Paulo ou Minas Gerais, os dois maiores colégios eleitorais. Isolado nas discussões, Ciro flertou com o apresentador José Datena, mas as discussões foram interrompidas e o apresentador anunciou o apoio a Doria. Deve concorrer ao Senado.

COBIÇADA Simone Tebet (MDB) é sonho para ser vice de várias campanhas (Crédito:Pedro França)

Logo após anunciar sua filiação ao Podemos, Sergio Moro já aparece em terceiro lugar nas pesquisas. Sem um partido forte, ele terá que se aproximar de siglas com mais recursos e tempo de TV. As negociações estão avançadas com o União Brasil (fusão entre PSL e DEM) e já há uma disputa interna pelo posto de vice do ex-juiz. O acordo inicial trazia o ex-ministro da Saúde, Luiz Mandetta, como o provável vice. No entanto, entrou em cena o presidente do novo partido, Luciano Bivar, como postulante. Ele não tem os votos de Mandetta, mas detém a liderança da sigla e o controle das verbas e do tempo de TV. A história recente mostrou que as influências de Itamar Franco, no governo de Fernando Collor, e de Michel Temer, vice de Dilma Rousseff, colaboraram para a aprovação do impeachment. Proteger-se do fogo amigo é um cuidado que todos os presidenciáveis priorizam.