Soundtrack//Museu da Imagem e do Som, SP/ até 16/7

“Entre essas fotos e eu, existe um personagem”, diz Oskar Metsavaht diante dos autorretratos que compõem sua exposição individual no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo. São autorretratos, garante, mesmo que quem apareça na imagem não seja ele, mas outro, um ator. Selton Mello interpreta Cris, protagonista do longa-metragem “Soundtrack”, que estreia nos cinemas em 6 de julho. Cris é o personagem que existe entre Selton Mello e Metsavaht.

No filme assinado pelo coletivo 300ml, Cris é um fotógrafo brasileiro que consegue permissão para viajar em residência a uma base científica em um lugar inóspito. Os cientistas que encontra na base ficam intrigados com a presença do artista. “Cria-se ali um embate entre arte e ciência”, continua Metsavaht. O trabalho que o artista irá desenvolver nesse lugar remoto é uma série de autorretratos, a partir da audição de uma trilha sonora que o espectador não pode ouvir.

FOTOGRAFO E RETRATADO Autorretratos de personagem vivido por Selton Mello são feitos por Metsavaht (acima.) (Crédito:Divulgação)

Metsavaht é o autor das fotografias que integram “Soundtack” — o filme e a exposição. “Essa exposição é minha, é do personagem Cris ou do ator que está na foto, o Selton?”, desafia. Todas as respostas talvez sejam válidas. Mas o que de fato conta aqui é um deslocamento de identidades, um jogo de simulacros que remete à diluição da autoria.

Para interpretar o autor dos autorretratos — isto é, os olhos do fotógrafo Cris —, Metsavaht foi muito além da selfie. Estudou a trajetória do gênero nas obras de Rembrandt, Francis Bacon, Van Gogh, Andy Warhol e Frida Kahlo. Voltou até sua adolescência, quando fazia os filmes e as fotos exibidos nas aulas da mãe, professora na Faculdade de Filosofia e História da Arte de Caxias do Sul (RS). “O autorretrato está na origem da historia da arte. Você tenta se autorrepresentar, mas aquilo não é você, aquilo é uma pintura, é uma idealização de você”, diz. Entre uma selfie — ou um autorretrato — e seu autor, existe sempre um personagem. Com duas décadas de trabalho com construção de imagem e estilo, o fundador e diretor criativo da Osklen faz essa afirmação com propriedade.

O jogo de espelhos e sobreposições proposto na individual no MIS não esconde o caráter autobiográfico das fotografias e videoinstalações que Metsavaht vem realizando e coloca em pauta suas várias personas. “Estou em um momento de interface entre o estilista e o artista, mas já vivi interfaces de medico para designer; e de designer para estilista”. Seu primeiro projeto no campo da arte, realizado em residência no Inhotim e exposto na mostra “Made by… feito por Brasileiros”, em 2014, intitula-se justamente “Interfaces 1”.

O artista Oskar Metsavaht tem no currículo seis anos de estudo de medicina, três anos de residência e clínica na área de ortopedia na UFRJ, uma década como designer de roupas técnicas esportivas e mais de 15 anos de moda e estilo. “A primeira interface que experimentei na vida foi biológica, a pele. A segunda foi uma interface física, quando comecei a fazer uma roupa esportiva técnica. Ali eu criava uma camada física sobre o corpo humano, que protege do vento, do frio, do sol. Uma segunda pele. Moda é uma camada imagética, uma camada cultural sobre o corpo. Você aplica uma estética, criando uma relação do corpo com a sociedade e com os outros. Agora estou entrando em uma camada imaginária”, resume ele, com clareza.
Se auto-definindo como um especialista em corpo e comportamento humano, o artista diz que seu interesse “é o homem e o que lhe cerca”. O embate entre arte e ciência, vivido pela personagem do longa-metragem “Soundtrack”, portanto, é seu também.

Roteiros
Modernas e visionárias

Invenções da Mulher Moderna, Para Além de Anita e Tarsila/Instituto Tomie Ohtake, SP/ até 20/8

RIBALTAS Pintura de Tomie Ohtake (abaixo) e caricatura de Rian integram a mostra (Crédito:Divulgação)

Em 2015, o Museu de Arte do Rio (MAR) apresentou uma exposição seminal sobre a influência das mulheres na transformação da cidade do Rio e da sociedade brasileira. Fruto de uma pesquisa que o curador Paulo Herkenhoff desenvolve há décadas, “Tarsila e Mulheres Modernas no Rio” explicitava o papel central de figuras femininas não apenas nas artes visuais, mas nas ciências, na saúde, na segurança pública, na política, na música, na dança, na literatura. Até mesmo na noite carioca, com a presença exuberante das coristas dos cassinos e das vedetes, que, nas palavras de Herkenhoff, “atuaram na desconstrução da vida puritana, questionando a ordem patriarcal”.

A pesquisa agora se estende ao Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, condensando o foco nas pintoras, escultoras e fotógrafas que atuaram em diversos pontos do Brasil ao longo dos séculos 19 e 20. “Invenções da Mulher Moderna, Para Além de Anita e Tarsila” traz cerca de 300 obras e documentos das “antecipadoras do Moderno”. Se, por um lado, faz-se sentir a ausência da variedade de profissões que davam à exposição do MAR um caráter universal, revelam-se aqui pintoras pioneiras de regiões remotas do país, como Antonieta Santos Feio, nascida em Belém do Pará em 1897, e a fotografa Fanny Volks, alemã radicada em Curitiba em 1881. Entre as cariocas, sempre atuantes, destaca-se a caricaturista Rian, nome artístico de Nair de Teffé, que contagiou de modernidade os altos escalões da política brasileira, ao casar-se com o Presidente da República Hermes da Fonseca em 1913. PA

Divulgação