Um sentimento de perplexidade e medo tomou conta do paulistano no dia em que a maior metrópole do País quase parou. Cerca de 90% do comércio de São Paulo obedeceu ao decreto que determinou o fechamento das lojas para tentar conter o avanço do novo coronavírus, conforme estimativa é da Secretaria de Coordenação das Subprefeituras.

Esta sexta-feira, 20, foi o primeiro dia de vigência da norma. A Polícia Militar deu apoio pela manhã a fiscais da secretaria que fizeram verificação na região da Rua 25 de Março, centro de comércio popular de rua da cidade. Agentes das 32 subprefeituras fizeram blitze.

Comerciante flagrados abertos serão fechados pela Prefeitura, mas sem autuação. Só na reincidência é que o local será lacrado. “As ações são de convencimento, temos de contar com a colaboração da sociedade”, disse o secretário das Subprefeituras, Alexandre Modonezi. “Não tem fiscais nem policiais para fiscalizar a cidade toda. As pessoas precisam ser convencidas”, afirmou. Por isso, não há dado exato sobre o total de comerciantes que desrespeitaram o decreto.

“Mesmo os ambulantes, que tinham TPU (o documento que atesta a legalidade) e foram para a rua, nós conversamos e não apreendemos as mercadorias. Com os lojistas, temos de pensar que eles são comerciantes, estão regularizados”, complementou Modonezi.

Mas quem circulou por São Paulo nesta sexta, que mais parecia uma tarde de sábado, com trânsito livre, viu várias pessoas caminhando protegidas. Umas usavam máscaras, luvas, outras nem tanto. Mas todas assustadas com o vazio das ruas e com a ameaça do inimigo comum e invisível: o novo coronavírus.

25. Na 25 de Março, o maior pólo de comércio de rua da América Latina, que recebe cerca de 400 mil pessoas diariamente, só se viam lojas de portas fechadas – apenas Bradesco e McDonald’s funcionavam. Poucas pessoas circulavam pela rua, mas por dever de ofício, como um carteiro que não quis ser identificado. “Não consigo entregar a correspondência, os prédios estão fechados”, reclamou, exibindo a mão cheia de envelopes.

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Ao longo da rua, funcionários da Prefeitura encarregados de conter a ocupação dos camelôs, nem precisavam estar por lá, pois nenhum ambulante foi vender bugigangas. “Não éramos para estar aqui nos arriscando”, disse um fiscal da Prefeitura, sob a condição de anonimato. Mais adiante, na frente de lojas importantes, como Armarinhos Fernando e Clóvis Calçados, por exemplo, homens sentados no meio-fio jogavam conversa fora. Eram profissionais de segurança fazendo o seu trabalho, mesmo com os estabelecimentos fechados.

Consumidor mesmo, o que não falta normalmente na rua 25 de março, nesta sexta- feira era raro. Uma das poucas que circulavam era a influenciadora digital Mannu Macêdo, de 28 anos. “Vim aqui comprar máscara, mas está tudo está fechado.”

E o vazio se repetia no pólo de comércio mais sofisticado de compras do País: o Shopping Iguatemi, na avenida Faria Lima. O primeiro shopping center do País, local de gente que gosta de ver e ser vista, também parou por causa do novo coronavírus. Um cartaz na porta principal indicava o horário reduzido de funcionamento: das 12 às 20 horas, e só para “operações essenciais”. Isto é, o supermercado e a farmácia.

Fé e luto. Raros casos de lojas abertas foram encontrados nesta sexta-feira pela reportagem. Um deles foi a Casa São Jorge, de artigos religiosos na rua Nossa Senhora da Lapa, no bairro da Lapa. Rafael Zatta, funcionário da loja, contou que nem sabia que abertura do comércio estava proibida por causa da epidemia. “Estou com a minha avó internada no hospital e não me atentei para isso.” Mas, em tempos de pandemia, muitos estão em busca de milagres. Antes do meio-dia, ele tinha feito seis vendas, entre velas, incensos.

Mas a pandemia paralisou a rotina até dos velórios da cidade. No cemitério do Araçá, um aviso logo na entrada informava que os velórios só podem durar uma hora e ter até dez pessoas para evitar aglomerações e contágio do vírus. Ronaldo Albanese, jornalista, usando máscara, foi se despedir de uma tia. Enquanto os eventos seguem à risca as determinações, notou que tem muita gente que não está respeitando nada. “O trânsito está um pouco melhor, mas eu preferia ter um trânsito entupido, mas sem coronavírus.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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