Quase 2.100 migrantes morreram, em sua tentativa de chegar à Espanha pelo mar, nos primeiros seis meses de 2021, praticamente o mesmo número de todo ano passado – informou uma ONG de defesa de seus direitos, nesta quarta-feira (7).
O número de óbitos é cinco vezes maior do que o registrado no mesmo período do ano passado e também representa o maior do primeiro semestre desde que a ONG Caminando Fronteras, que monitora os fluxos migratórios, iniciou seus registros em 2007.
“Foi um ano horrível”, disse Helena Maleno, ativista desta ONG espanhola, durante a apresentação do último relatório da organização.
Ao todo, 2.087 migrantes de 18 nações, especialmente da África Ocidental, morreram tentando chegar à Espanha entre janeiro e junho. Em todo ano de 2020, houve 2.170 óbitos.
Mais de 90% das mortes registradas este ano (1.922) ocorreram em 57 naufrágios na rota para as Ilhas Canárias.
Estas tragédias são recorrentes na costa deste arquipélago atlântico, que registra um aumento da chegada de imigrantes desde o final de 2019. Neste momento, houve um reforço da vigilância no litoral do sul da Europa, que reduziu drasticamente as entradas no continente através do Mediterrâneo.
A rota mais curta para estas ilhas fica a cerca de 100 quilômetros da costa marroquina, mas é especialmente perigosa, devido às fortes correntes do Atlântico.
Segundo Maleno, o aumento do número de mortes este ano decorre do maior uso de embarcações infláveis – muito menos seguras, mas mais acessíveis devido à dificuldade de conseguir barcos de madeira -, assim como da cooperação inadequada entre os serviços de resgate da Espanha e do Marrocos.
As relações entre ambos os países pioraram desde a crise deflagrada em maio, que levou à chegada de mais de 10.000 migrantes do Marrocos a Ceuta, um pequeno enclave espanhol do norte da África.
“Não há coordenação. A informação não fluindo entre os dois estados”, criticou Maleno.
Em muitos casos, mesmo depois de a ONG alertar sobre um navio em dificuldades, ninguém vai em seu socorro, acrescentou.
“Os migrantes podem passar um dia inteiro se afogando”, denunciou Maleno.
O aumento do número de mortos também se deve ao fato de que cada vez mais familiares desses migrantes procuram a ONG, quando seus entes queridos desaparecem no mar, disse Maleno.
Segundo o Ministério do Interior, entre 1º de janeiro e 30 de junho, 12.622 migrantes chegaram à Espanha pelo mar, contra 7.256 no mesmo período um ano antes.
O Ministério não tem registro de quantos deles morreram, ou desapareceram na rota, disse um porta-voz à AFP.