A gestão nacional de saúde no Brasil está comprometida. Não apenas pelo fato de o ministério estar há mais de 40 dias sem um titular, ou pela saída do cargo de Luiz Henrique Mandetta, que efetuou um trabalho sério no início da pandemia, mas pela falta de conhecimento técnico e de uma estratégia de unificação de esforços com governos estaduais e municipais. O substituto de Mandetta, Nelson Teich, ficou apenas 32 dias na pasta. Em vez de médicos e especialistas, o comando do ministério passou, então, para os militares, tendo à frente o general Eduardo Pazuello, especialista em logística. Ao todo, há, agora, 22 membros da Forças Armadas ocupando cargos na Saúde. “Há uma paralisação política no ministério e para se controlar a pandemia a coordenação federal é fundamental”, afirma Gastão Campos, professor do departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. Segundo ele, desde a saída de Mandetta, o País deixou de ter um plano de contingenciamento nacional. “Há várias epidemias de coronavírus sendo tratadas de forma diferente”, diz. Hoje, o País está próximo de 1,2 milhão de contaminados e ultrapassa as 54 mil mortes.

Estratégia militar

O primeiro caso de morte em decorrência do coronavírus foi registrado em 17 de março, em São Paulo. Naquele momento, o ministro era Mandetta que havia desenvolvido um sistema claro para apresentar o que todos os brasileiros deveriam fazer na luta contra o vírus letal. Durante as entrevistas diárias, ele anunciava a quantidade de infectados e mortos. Mandetta repetia enfaticamente “fique em casa”, “lave as mãos”, “mantenha o isolamento social”, como as medidas realmente eficazes contra o coronavírus. Mas o presidente não gostou do seu protagonismo e demitiu o ministro. Em seu lugar, entrou Teich, com um discurso menos transparente no quis diz respeito à forma de divulgação dos números de mortos e infectados. Ao final de sua passagem pelo ministério, em 15 de maio, o Brasil atingiu mil mortes por dia pela Covid-19, e a pasta passou a ficar menos transparente. Bolsonaro e Pazuello elevaram o tom da discussão a respeito do uso da cloroquina e acabaram com a divulgação diária dos números de mortos e infectados. Para Campos, a administração é condizente com o pensamento militar, que preconiza a filtragem de toda informação a ser divulgada. “Na saúde é o inverso, quanto mais clara for a mensagem melhor”, diz. O ministério, porém, insiste na obscuridade.