06/02/2022 - 15:42
Que o racismo no Brasil é estrutural todos já sabem e essa aberração é tema constante de discussão nas universidades e entre as pessoas de bem deste País. Mas o que está acontecendo nos últimos dias no Brasil, extrapolou qualquer limite do bom senso. A carne preta, como dizia a saudosa Elza Soares, é a mais barata e pouco vale. Afinal, dois negros morreram nos últimos dias no Rio de Janeiro de forma banal e com requintes de selvageria, como se nada valessem.
Se Durval Teófilo Filho, trabalhador negro, de 38 anos, assassinado brutalmente quando chegava em casa na noite de quarta-feira 2, no bairro de Columdê em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, teria sido alvejado com três tiros se fosse branco? Claro que não.
Segundo o assassino, Aurélio Alves Bezerra, sargento da Marinha, ele atirou em Durval porque ele tinha corpo avantajado, se aproximou rapidamente do automóvel em que ele estava e mexeu na cintura, como se fosse pegar uma arma, mas soubesse depois que ele apenas tentava pegar as chaves de sua casa. Surpreendido com a ação de Durval, o militar não pensou duas vezes e, alegando defesa de sua vida e de seus familiares que, por ventura, poderiam chegar ao local naquele momento, atirou três vezes sem pestanejar.
Afinal, Durval era negro e Bezerra se considerava um ser superior, quando não passa de um marginal e racista. O militar alegou que estava defendendo sua família, como se Durval fosse uma ameaça à sociedade pelo simples fato de ser preto. Ambos eram vizinhos, mas o sargento da Marinha não acreditava que um negro pudesse morar no mesmo local que ele, considerando-se alguém de uma casta superior, da supremacia branca. Para alguém assim, atirar em um negro é em legítima defesa, sem intenção de matar, como alegou na delegacia. Por sorte, o Ministério Público não entrou nessa lorota e mandou prendê-lo preventivamente por homicídio doloso.
Mas o crime que abalou o País, de fato, foi o cometido contra o congolês Moïse Kabangambe, massacrado com golpes de porrete e pontapés pelo simples motivo de ter tido a audácia de cobrar de seu patrão o dinheiro que lhe era devido: R$ 200 por ter trabalhado em uma barraca de frutas na Barra da Tijuca, também no Rio de Janeiro. Moïse morreu de forma cruel e desumana, mais um homicídio de um homem negro em um País onde o racismo é estrutural e pouco se faz para mudar esse quadro.
Tudo bem, neste sábado ocorreram protestos nas principais cidades brasileiras, em São Paulo e Rio de Janeiro, e até no exterior, mas o combate ao racismo pouco avança. Durval e Moïse teriam sido brutalmente assassinados se fossem brancos? No Brasil, 70% dos jovens assassinados, entre 18 a 23 anos, são pretos, e quase 80% das pessoas que estão nas cadeias também são negras. Sabemos disso sobejamente, mas o que fazemos para mudar essa realidade?