Oanúncio pelo ministro Henrique Meirelles de uma meta fiscal com déficit de R$ 139 bilhões de em 2017 revela o tamanho do estrago causado pela crise política no Brasil. De 2011 a 2013, nos três primeiros anos de governo da presidente Dilma Rousseff, o Brasil acumulou superávits primários de R$ 258,7 bilhões. A curva se inverteu em 2014 quando se cavou o primeiro rombo, de R$ 17,2 bilhões.

No entanto, essa tendência poderia ter sido abortada no primeiro ano do segundo mandato, se o ajuste fiscal proposto pelo então ministro Joaquim Levy não tivesse sido sabotado não apenas pelas forças políticas interessadas no impeachment, como também pela própria base de Dilma, que se sentiu “traída” com a mudança de rumo na política econômica – ignorando o fato de que o ex-presidente Lula, em seu primeiro mandato, promoveu um dos mais duros ajustes fiscais da história do País.

Se não bastasse a sabotagem ampla, geral e irrestrita ao plano Levy, a circunstância política de Michel Temer, que ainda é interino, criou uma nova “lógica” em política fiscal – a do paciente obeso que, antes de iniciar uma dieta, promove um banquete, ganhando alguns quilos a mais, como definiu o economista Márcio Garcia, da PUC do Rio de Janeiro. Temer ampliou as despesas em R$ 125 bilhões, sob o argumento de que isso seria necessário para garantir o impeachment.

O resultado, segundo economistas de diversas tendências, é que, se nada for feito, a dívida interna brasileira poderá se aproximar de 80% do PIB antes de 2018 – o que seria até normal em países europeus, mas traz riscos gigantescos num país como o Brasil, com baixa proteção social e com a maior taxa de juros do mundo.

Por baixo, a crise política já custou pelo menos R$ 424 bilhões – valor que é a soma do déficit de 2015 com os rombos projetados para este e para o próximo ano. Mas quando se leva em conta a queda do PIB dos últimos dois anos, semelhante à de países em situação de guerra, a conta entra na casa dos trilhões.

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