A lembrança do pai chegando em casa com um aquário redondo e um peixinho dourado é mais recorrente. Embora o final dessa história seja uma criança aprendendo sua primeira lição sobre a finitude da vida, a experiência é a responsável pelo surgimento de uma geração inteira de aquaristas amadores e profissionais.

No mundo, a população de peixes ornamentais (em aquários) é maior do que a de cães e gatos (são quase 650 milhões de peixes para menos de 500 milhões de cães). Já no País, segundo o Instituto Pet Brasil, os peixes de aquário somam um pouco mais de 19 milhões – atrás de cães (54, 2 milhões), aves (39,8 milhões) e gatos (23, 9 milhões). “Existe uma tendência natural de que a procura por peixes ornamentais aumente. Isso porque as pessoas estão morando em lares menores e aquário não demanda muito espaço físico”, diz Edson Rechi.

O aquarismo é a arte de criar organismos aquáticos como peixes, plantas, invertebrados, entre outros seres, em aquários ou lagos. Trata-se de um hobby que demanda algum conhecimento técnico, noções de biologia e química básica. Até por isso, é considerada uma “brincadeira” de adultos. “As crianças se encantam, mas o trabalho que dá acaba transformando em algo mais adulto”, diz o também aquarista Sandro Tarabay.

Ele começou na prática ainda na infância. “Meu tio tinha um aquário no escritório. Eu era fascinado com aquilo. Mas o meu início foi complicado, meus peixes morriam e eu estava quase desistindo. Aí, o meu filho ganhou um betta (uma das espécies mais comuns) da mãe. Quando o peixe morreu, ele encontrou o peixinho morto na privada. O menino ficou tão triste que eu prometi montar um aquário com ele. Resultado: estou nessa vida até hoje”, recordou. Atualmente, Tarabay tem aquários que chegam a uma tonelada e meia de água – com peixes amazônicos primitivos (que podem viver até 30 anos) e todo um paisagismo que reproduz o hábitat natural.

Presidente da Associação Brasileira de Aquariofilia (Abraqua) e produtor de peixes, Cássio Ribeiro Ramos, também teve a iniciação na infância – encantado pelos peixinhos que nasciam em ambientes controlados. “Uma vez, fui expulso da sala de aula por estar fazendo bagunça. O diretor do colégio chegou para mim e perguntou o que eu queria fazer da minha vida. Disse que era cuidar de aquários”, contou. “Esse mesmo diretor me apresentou um amigo que tinha uma loja de peixes ornamentais. Comecei minha carreira trabalhando lá.”

Ramos diz que o aquarismo só não é maior no País porque o governo tem imposto muitas barreiras para a aquisição de espécies. O Ibama, por exemplo, mantém listas “positivas” e “negativas” com os peixes que podem ou não ser criados. Os aquaristas reclamam, principalmente, do caso do peixe Aruanã da Amazônia. “O governo libera a pesca para alimentação, feita de forma agressiva com rede, e proíbe que o Aruanã seja capturado para fins ornamentais, algo muito menos predatório, feito com mergulhadores e pequenas redes”, diz. Segundo ele, o quilo do Aruanã morto (para alimentação) não passa de R$ 8. Já um “indivíduo” capturado para aquarismo pode custar R$ 500.

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Na arquitetura

O mundo do aquarismo também flerta com a arquitetura, o paisagismo e a decoração de interiores. A Aquabase, por exemplo, é uma empresa procurada por pessoas que querem projetar espaços considerando apartamentos. “O que nossos clientes procuram é, na maioria das vezes, um jardim submerso que reproduza as condições naturais”, afirma o proprietário Luca Galarraga. Segundo ele, o valor dos projetos e instalações custa a partir de R$ 3 mil, mas “o céu é o limite”. Além disso, empresas fazem o serviço de manutenção do aquário (que pode ser semanal ou quinzenal).

A designer de joias Melissa Pepe, de 44 anos, tem um aquário que foi projetado especialmente para o seu apartamento. “Quando me mudei, resolvi ter um aquário no meio da sala. Ele tem cerca de 3 metros de comprimento e chama muito a atenção das visitas”, conta. Melissa fez cursos para aprender como funciona a manutenção do aquário, mas, como isso estava tomando 4 ou 5 horas por semana, decidiu terceirizar o serviço.

Outro que instalou uma peça no meio da sala foi o consultor de tecnologia Cristiano Dencker. “Controlo todos os fatores, como pH, temperatura e nível de água, por um aplicativo”, afirma. E o aquário tem ajudado a criar uma conexão com o filho – que ajuda na alimentação. “É tão importante para uma criança… Recentemente, ele estava preocupado com o destino dos peixes depois da morte, em como eles iriam virar uma estrelinha.”

Novato deve usar reservatório mediano e espécies de água doce

Para os novatos no aquarismo, especialistas não recomendam aquários muito pequenos, pela dificuldade de manter a temperatura e o pH da água. O ideal é começar com um aquário de pelo menos 100 litros – e manter a temperatura da água com 27º C, em média, e o Ph entre 6,7 a 7,0.

Para criar um hábitat adequado, é recomendável comprar vegetação natural, troncos e tocas e cascalho de rio. Também é necessária a instalação de um filtro de água. Depois da montagem, é preciso esperar cerca de 40 dias para o ambiente do aquário se tornar adequado para a sobrevivência dos peixes.

“Só depois é aconselhável introduzir peixes e de forma segmentada: primeiro entram os peixes de fundo (que habitam o fundo do aquário) e após uma semana os de meia água. Isso se faz necessário porque existe um ciclo extremamente importante na biologia aquática que se chama ciclo do azoto, ou seja, é o momento que o aquário ganha a vida e fica pronto para fazer toda a reciclagem dos dejetos que irão aparecer dos peixes, sobra de alimentação, etc…”, explicou o aquarista Sandro Tarabay.

Os gastos com um aquário podem variar de R$ 100 a R$ 50 mil. Os mais caros são os de água salgada – os mais complicados em termos de manutenção. No caso do aquário de água salgada, o desafio é a reprodução do ambiente adequado. As espécies de água doce costumam ser mais resistentes (e recomendadas para iniciantes). Os equipamentos básicos são o filtro, termostato para aquecer a água, iluminação e os enfeites. Além dos testes para medir os parâmetros da água. Entre os peixes mais comuns se destacam kinguio, bandeira, betta, lebiste, colisa, corydoras e tetras, etc. É possível ter crustáceos.

Terapia. Os aquários também tem sido usados em terapias para crianças. Segundo a zooterapeuta e veterinária Bianca Pechinin, a indicação para sua utilização é muito ampla. “Podemos abordar questões ligadas à ansiedade, nervosismo, rotinas, distúrbios psiquiátricos e até motores, pois a abordagem nem sempre está ligado a apenas observar, mas até a manutenção desse aquário pode ser utilizada em alguns casos.”

Ainda segundo ela, nem sempre há necessidade da pessoa estar enferma. “A indicação da zooterapia é ampla, podendo ser trabalhada em crianças, adultos e idosos. Pode ser utilizada em casos para deixar a vida da pessoa ‘mais leve’, e sua utilização engloba o público com distúrbios emocionais, mentais, sociais, físicos.” /


Cuidados por espécie

Bettas

Nível básico. Um único exemplar ficaria muito feliz em um aquário entre 20 e 30 litros.

Barbus

Asiáticos, pequenos, gostam de viver em cardumes. Aquário para 5 deve ter entre 60 e 80 litros.

Tetras

São endêmicos da América do Sul. Um aquário ideal para 5 indivíduos deve ter de 60 a 80 litros.

Ciclídeos americanos

Espécies maiores que chegam em torno de 20 cm. Requer um nível intermediário no aquarismo, bem como equipamentos maiores.

Primitivos

Habitam, na grande maioria das vezes, o fundo do aquários. Chegam a viver 30 anos e precisam de reservatórios de grandes dimensões e elementos diversos, como pedras, troncos e tocas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.



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