O Brasil continua em compasso de espera. Desde o final do ano passado o País aguarda que se tornem públicas as 77 delações dos diretores e altos funcionários da Odebrecht. São mais de 800 depoimentos e que envolveriam 130 políticos de diversos partidos políticos – além de membros do Judiciário, segundo alguns – no recebimento de propinas para o favorecimento de negócios da empresa. A homologação das delações criou a expectativa de que a PGR agisse de forma célere e apresentasse ao STF as solicitações de abertura de ações penais. Contudo, a PGR, até o momento, não parece interessada em agir rapidamente. Rodrigo Janot, com a morosidade habitual, insinuou que ofereceria as denúncias depois do Carnaval. Causa estranheza a demora pois não faltam instrumentos para agilizar essas delações. A PGR tem uma excelente estrutura de trabalho e não carece de recursos. A lentidão só pode ser explicada no campo político – e aí mora o perigo.

A PGR, ao longo da história recente, não tem desempenhado bem as suas funções, especialmente nos casos mais rumorosos envolvendo políticos de expressão. Não custa recordar que na Ação Penal 470, o processo do mensalão, a denúncia recebida pelo STF em agosto de 2007, em quatro sessões, pouco aproveitou do excelente trabalho realizado pela CPMI dos Correios. Se compararmos as informações recolhidas e o inquérito 2245, base do oferecimento da denúncia ao STF, causa estranheza o abandono de uma rica documentação que reforçava o elo do PT com o até então maior escândalo de corrupção da história do Brasil. Isso levou à absolvição diversos culpados e à amena condenação dos políticos – a pena mais severa foi para Marcos Valério, 38 anos de reclusão, como se o mensalão tivesse como dirigente um simples e desconhecido publicitário de Belo Horizonte.

Da mesma forma como no impeachment de Dilma Rousseff, caberá às ruas o papel de principal protagonista. Em 2015 poucos acreditavam que o projeto criminoso seria apeado do poder. E foi. Agora, as delações da Odebrecht só produzirão resultados políticos com a pressão popular. A tentativa de um grande acordão, imoral, antirrepublicano, continua seduzindo a praça dos Três Poderes. Imaginam que o impeachment encerrou a crise política. Ledo engano. A crise está apenas no começo.

A PGR tem excelente estrutura de trabalho e não carece de recursos. A lentidão só pode ser explicada no campo político – e aí mora o perigo