19/03/2024 - 15:04
A inculta e bela, última flor do Lácio, de Bilac (Olavo 1865-1918), é rica em sinônimos e significados ampliados para um sem número de termos. Miseravelmente me ocorreu, agora, trazer uma figura de expressão canhestra e misturá-la, pecaminosamente, ao mesmo parágrafo de um dos maiores jornalistas e poetas brasileiros. Refiro-me à Deputada Carla Zambelli. Pobre Olavo Bilac, em tão má companhia, hehe. Admito: Mea culpa. Mea máxima culpa!!
Zambelli me processa por tê-la chamado de “pistoleira”. Tenho a mania de chamar as coisas e pessoas pelos nomes que têm. E quem corre com uma pistola em riste, pelas ruas de São Paulo, atrás de um rapaz preto, pela “forma vulgar” do latim – o Português – é pistoleira. No processo, a amiga de hacker e investigada por conspiração golpista alega que a chamei de “prostituta, vagabunda” e outros sinônimos de pistoleira. Bem, a carapuça não é minha.
Antes de eu prosseguir, uma curiosidade: é o segundo processo que recebo nestes mais de oito anos como colunista e comentarista (Jornal Estado de Minas, Portal UAI, Revista e Site Istoé, Rádio Itatiaia, Rede 98, Revista Encontro). O outro foi da colega de Congresso da pistoleira, Gleisi Hoffmann, que se ofendeu com uma coluna minha quando culpou as privatizações de FHC pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG).
BOLSOLULISMO
Voltando à língua portuguesa, depois de demonstrar que estou no caminho certo ao ser processado por tão “nobres” figuras, encontrei no “pai dos burros” a perfeita definição para delinquente: “quem ou o que delinque, contrariando a lei ou a moral; criminoso, infrator”. Ulalá… Nada mais Jair Bolsonaro do que isso! Afinal, o que este sujeito realizou em apenas quatro anos, neste sentido, é de fazer corar seu adversário (amplo, geral e irrestrito), Lula da Silva.
Como golpismo pouco é bobagem, o patriarca do clã das rachadinhas foi indiciado pela Polícia Federal por fraude no cartão de vacinas. Em verdade, o “mito” irá responder, se a Justiça acatar o pedido da PF, por Associação Criminosa e Inserção de Dados Falsos em Sistemas de Informações, e poderá ser condenado a até 15 anos de tranca. Delinquência brava, portanto. Diferente de quando “apenas” propagandeava remédios ineficazes para a Covid-19.
O MEU É MAIOR QUE O SEU
Aqui e ali, já assisto às torcidas organizadas duelando pelo “infrator de estimação”, qual deles (Lula e Bolsonaro) é mais, ou menos, “criminoso”. Chega a ser chocante a naturalidade com que comparam mensalão, petrolão, rachadinha, golpe de Estado, falsificação de documentos, contrabando de joias. As pessoas ou tornaram-se cegas diante o fanatismo, ou simplesmente perderam a noção de moral, e já não enxergam crimes onde crimes existem.
A sociedade brasileira, ou ao menos 2/3 dela, de acordo com as pesquisas, tornou-se, de certa forma, igualmente delinquente. Aceitar fraude em cartão de vacina porque o “outro” roubou, ou admitir corrupção porque o “outro” contrabandeou relógio e diamantes, torna o relativista tão responsável quanto os infratores, ou mesmo equivalente. Se considero um assassino bom porque há um ainda pior, assassino, pois, me torno, ainda que, digamos, metafisicamente.
ENCERRO
Eu não saberia dizer – e acho que ninguém sabe – quando nos tornamos tão igualmente delinquentes. Historicamente, o brasileiro, via Estado, não apenas aceitou como organizou o crime e a impunidade reinantes no País. A turma de cima não caiu do céu, ao contrário, emergiu de baixo. Portanto, não há distinção entre “eles” e “nós”, mas apenas a separação, talvez momentânea, e/ou por falta de oportunidade. Se cada povo tem o governo que merece, aí está a prova. E as consequências.