“Na sociedade, não era respeitado o espaço do povo preto periférico de sentir. A gente sempre falou sobre reação, reação ao ódio e às violências, e pouco era falado do que sentíamos com tudo isso, para além da revolta”, diz a rapper Drik Barbosa.

A cantora, de 28 anos, lançou neste mês de novembro o projeto multiplataforma NÓS e, em entrevista ao Estadão, falou sobre a importância do debate sobre a saúde mental da população negra, principalmente no rap.

O projeto é composto pela música Sobre Nós, lançada no dia 12 de novembro, com a participação do rapper Rashid e mais três singles, ainda sem data de lançamento confirmada.

Na canção, ela cita o termo banzo. A definição, segundo o escritor Nei Lopes, é “uma nostalgia mortal que acometia negros africanos escravizados no Brasil”. Drik conta que se inspirou na força dessa população. “Mesmo no meio da dor, os escravizados não pararam de cantar. A gente ainda tem a voz, a música e a expressão. É isso que me fortalece”.

Além disso, NÓS também contará com uma audionovela, prevista para o primeiro semestre de 2021, que visa resgatar a autoestima da comunidade negra em quatro episódios, através de histórias reais compartilhadas pelos fãs da cantora.

NÓS: O afeto como resistência

“As violências não te dão tempo de cuidar da sua saúde mental, porque o racismo estrutural te faz acreditar que viver com plenitude é conseguir pôr comida na sua mesa, isso é, mas não é só isso, e para gente sempre foi só isso”, afirma Drik.

A artista explica que a ideia desse projeto surgiu “como se estivesse numa sessão de terapia”, em junho deste ano. Devido a pandemia e diversos acontecimentos com a comunidade negra na época, como a morte de George Floyd, ela passou por um momento de maior introspecção, sem escrever canções.

“Eu estava revoltada, mas eu precisava me curar. Me fortificar por um caminho menos violento para mim mesma (…) Então nasceu essa ideia para resgatar uma potência que tem dentro de todas as pessoas, mas o povo preto precisa ainda mais desse abraço nesse momento. A gente tá trabalhando o projeto NÓS como cura mesmo”, explicou.

Segundo a cantora, esse “abraço” também é uma forma de resistência. “Quando eu canto sobre felicidade é resistência, quando eu canto sobre amor é resistência, porque é o que foi arrancado dos negros. Então é pegar isso de volta pra gente, inclusive o afeto”.

O que os fãs podem esperar dos próximos singles do projeto?

Vão ter misturas de gêneros musicais afro brasileiros, com diversos instrumentos que reforçam o papel da cultura negra no nosso País. O projeto tem o propósito de dar vários abraços de formas diferentes, então terá músicas sobre amor, outras mais dançantes e outras de denúncia. Provavelmente mais feats serão lançados também.

Como vai ser a audionovela?

No primeiro momento, a ideia era fazer um podcast falando sobre personalidades negras da nossa história. Mas pensamos em trazer as vivências do público, com grandes feitos no seu dia a dia, e criar uma ficção baseada nesses relatos reais. Ainda estamos organizando como iremos receber essas histórias, que serão narradas por mim e disponibilizadas nas plataformas de streaming. Serão relatos totalmente ligados com o propósito de projeto, que vão mostrar a humanidade desses personagens diante de todos esses sentimentos. Eu quis fazer isso em áudio, porque a oralidade sempre esteve presente na vida da negritude. Não tem muitos documentos sobre a nossa história, até isso foi apagado, e nossa cultura foi permanecendo no mundo porque foi sendo contada.