ROMA, 8 JUN (ANSA) – CONTINUAÇÃO – Mirvat, livros e determinação: Pão e determinação também para Mirvat, que tem postura de modelo e muita vontade de estudar. Tem quase 25 anos e, em Aleppo, faltava apenas uma prova para graduar-se em literatura inglesa.   

Mas, o desejo de um futuro melhor era maior e, alguns meses depois, acabou parando em Ferrara. Graças a uma bolsa de estudos da universidade, está frequentando cursos de idiomas e de literatura moderna. Começando do zero.   

“Aqui eu estou bem, mesmo tendo um pouco de nostalgia. Me fazem falta os doces árabes e Alepo, que é uma cidade que te abraça quando você chega”, com lágrimas nos olhos. Mas, a guerra parou tudo e fugir era a única coisa que podíamos fazer. Mais forte até do que o medo que sentia do mar.   

“Com a minha família, nós pensamos em ir para a Suécia, onde está meu irmão, passando pela Turquia pelo mar. Mas, no último momento, minha mãe decidiu não arriscar. Eu talvez teria ido, também em um barco, porque para uma pessoa que viveu a guerra por três anos perdendo amigos e vizinhos… infelizmente, nós nos acostumamos”, diz a jovem.   

A sua família era abastada, sua mãe tinha quatro fazendas e uma casa na montanha. Todas foram queimadas. “É verdade que são só coisas, mas são coisas que eu tenho que me habituar a não ter mais”, complementa.   

– Somos anjos de proteção, mas contamos a verdade: Satisfeitos, orgulhosos e, às vezes, incrédulos por ter conseguido fazer de verdade. O sonho que nasceu em Lampedusa, depois do naufrágio do dia 3 de outubro de 2013, tornou-se realidade graças a eles.   

Há mais de um ano, valdeses e católicos de Sant’Egídio uniram forças para seguir os corredores humanitários, o projeto ao qual aderiu o governo italiano e que até agora é único na Europa. A diferença desses para outros imigrantes, é que os 791 que chegaram de avião podem pedir asilo.   

Até agora, 79 fizeram isso e todos receberam o ok. Mas, a estrada não chegou ao fim.   

“O projeto tem grandes potencialidades e também dificuldades”, observa Giulia Gori, responsável pela federação dos evangélicos.   

De seu escritório, próximo ao local da Presidência da Itália em Roma, seguem histórias e problemas de quem chega.   

“As mulheres são mais flexíveis, mais disponíveis a colocar-se em campo do que os homens. Mas, para eles, o mais frustrante é enfrentar um status sócio-econômico que não existe mais. Na cultura deles, eles tem a honra e a honra é cuidar da própria família”, diz Gori.   

Ao não encontrar um sinônimo em árabe para o que sentem, Maria Quinto, outro “anjo protetor”, afirma que “seguramente, há uma ansiedade dado o fato de que eles perderam tudo”.   

“Andando nos campos de refugiados no Líbano, de onde vem muitos deles, tive a sensação daquilo que eles viveram antes e depois.   

É como se eu, que na vida sou professora, de repente, não tivesse mais a escola e precisasse me reinventar”, acrescenta Quinto.   

Além disso, eles precisam entrar no mundo do trabalho italiano.   

Não é apenas uma outra organização de trabalho ou um tempo de vida mais acelerado. Há também a precarização, o trabalho que falta ou certos de tipos de atividades que aqui são mais raras.   

“Alguns, por exemplo, trabalhavam reparando pequenos objetos, como no caso dos reparadores, que aqui na Itália já foram superados dada a facilidade das trocas”, acrescenta.   

Também Giulia, que defende a criação dos corredores em nome da dignidade “reencontrada”, fala claramente.   

“O conto de fadas da integração fácil não fala a verdade. A integração se encontra com as diferenças culturais, religiosas.   

Às vezes, as expectativas estão muito altas por parte de quem chega ou há a esperança, legítima mas irreal, de que vai recomeçar exatamente de onde a vida parou na Síria. Nós buscamos dizer a verdade desde o início”, diz.   

Além da sorte e da motivação, uma solução está no tempo, está segura Maria Quinto. “É um percurso longo. No primeiro ano são feitas as bases e depois se continua a construir”, diz. O esforço é menor e até desconhecido, no entanto, para as crianças.   

“Para um deles, pedi de onde ele era. Ele respondeu: ‘sou um pouco italiano e um pouco sírio’. Fácil, não?” . (ANSA)