Um palco em que a cenografia é riscada a giz. Por ali se move o elenco de 16 atores. Este foi o achado do diretor dinamarquês Lars von Trier no filme “Dogville” (2003) para contar a história da chegada da bela Grace a um vilarejo nas montanhas do Colorado durante a Grande Depressão. Trier aplicou as regras de distanciamento do escritor Bertolt Brecht para transpor o teatro ao cinema. A fim de fazer o caminho inverso e levar o teatro filmado aos palcos na montagem de “Dogville”, o diretor Zé Henrique de Paula leva o cinema ao teatro. “No palco interferem os recursos do cinema, como telão, câmeras e a ilha de edição”, diz. “A expressão do ator é ampliada e disseminada em dois planos simultâneos”. Zé Henrique vê o roteiro de Trier como uma fábula diabólica. “É a alegoria da impossibilidade de fazer o bem”, afirma. Ele convidou Mel Lisboa para viver Grace. “O papel é um desafio e um aprendizado”, diz Mel. “Grace é uma protagonista ambígua.” A criação da personagem exigiu concentração. “À medida que ela se envolve com a comunidade, passa a ser assimilada, devorada, triturada e, por fim, estuprada pelos homens da comunidade.” Teatro Porto Seguro (SP), de 26/1 a 31/3.