Atualmente, dezessete países do mundo proíbem a aterrissagem de voos que saíram do Brasil. O país está empatado nesse ranking com a África do Sul. À frente deles, apenas o Reino Unido, com voos barrados por 25 nações.

O que esses três países têm em comum você já deve ter adivinhado: todos deram origem a novas variantes do coronavírus, mais eficazes na sua capacidade de infectar pessoas.

É fácil de entender. Nenhum sistema de saúde quer se ver comprometido porque pessoas que escaparam do vírus “velho” correm o risco de sucumbir a um recém-chegado mais agressivo.

Quanto tempo vão durar as restrições? Uma aposta seria dizer que, à medida que os países vacinem suas populações, as barreiras vão ser derrubadas. Mas não é assim tão simples.

As novas variantes ainda não foram bem estudadas. Não se sabe qual será a eficácia das vacinas contra elas, nem se elas são capazes de causar a doença em pessoas que tiveram a Covid-19 anteriormente.

Assim, talvez a viagem à Disney ainda não esteja liberada para os brasileiros nas férias de julho, mesmo que os Estados Unidos consigam cumprir a meta de vacinar toda a sua população até o final de maio.

Imagine então se outra variante surgisse no Brasil.

É um cenário distópico, de filme-catástrofe. Viveríamos numa zona de exclusão permanente, fechados para o mundo. Seríamos uma Coreia do Norte sanitária. Reeleito para a presidência em 2024, Donald Trump mandaria erguer um muro não na fronteira com o México, mas em volta do Brasil. Com snipers no topo.

Sim, estou brincando de ficção científica. Mas, dada a maneira como a pandemia vem sendo tratada no Brasil, especialmente pelo desgoverno federal, a hipótese do surgimento de outra variante do coronavírus, ainda mais apta a causar estragos, não é impossível.

Não disse que é provável, muito menos que vai acontecer. Só que não é impossível.

Afinal, a cada 15 ou 20 minutos uma nova geração do vírus surge dentro de uma pessoa infectada. E a cada vez que um vírus se reproduz, uma mutação pode vir ao mundo.

É como se alguém tivesse de copiar milhões de vezes uma mesma carta: em muitas cópias haveria erros. Mutações.

As mutações podem ser fatais para o vírus, ou podem torná-lo mais apto a cumprir seu papel: propagar-se, infectar, replicar-se, propagar-se, infectar, replicar-se…

Quanto mais chances o vírus tiver de passear pela população, maiores serão as probabilidades de surgirem mutações, digamos assim, virulentas. Pessoas são laboratórios de teste para o coronavírus. Pessoas que não se protegem, cobaias voluntárias.

Quando os cientistas, esses frouxos que insistem em não ouvir o que Jair Bolsonaro diz, recomendam o isolamento social, eles também estão pensando nisso. Além de evitar mortes desnecessárias, querem impedir que o coronavírus se reproduza descontroladamente, levando ao surgimento de variantes piores (para nós, não para o bicho).

No Brasil, as coisas se agravam ainda mais porque não existe testagem em massa coordenada, não existe rastreamento de casos (impossível com 50.000 novas infecções diárias), não existe capacidade nenhuma de fazer um controle epidemiológico mais detalhado da doença, porque o Ministério da Saúde abdicou dessa tarefa há muito tempo. O nível de desinformação do governo sobre a Covid-19 é criminoso.

Como sabemos tão pouco, talvez uma nova geração do coronavírus, crossfiteira e equipada com a arma mais potente do Fortnite, esteja se desenvolvendo na garganta do seu vizinho neste exato momento. Talvez seja uma variante que vai transformar todos em bolsonaristas, antes de aniquilar a humanidade. Talvez…

Estou divagando. Escrevi tudo isso para dizer que, se o país continuar na mesma rota, as restrições às viagens dos brasileiros podem demorar bastante para cair. Talvez aumentem, antes de melhorar. Aquela meta do governo – transformar-nos em párias – já foi alcançada.