Quais são as chances de Moraes sofrer sanções do governo Trump

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Alexandre de Moraes, ministro do STF, teve chances de sanção mencionada por secretário de Estado dos EUA Foto: Fellipe Sampaio/STF

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse que o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes tem chances sofrer sanções aplicadas pela Casa Branca.

Isso está sob análise neste momento e há uma grande possibilidade de que aconteça”, respondeu o representante do governo Donald Trump, após ser questionado pelo congressista republicano Cory Mills.

Neste texto, a IstoÉ explica quais são as chances de punição do magistrado.

Sanções e reações

Em sessão da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes dos EUA, na quarta-feira, 21, Mills perguntou a Rubio sobre reações do governo americano à suposta “perseguição” promovida pela Suprema Corte brasileira contra opositores, jornalistas e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O que o congressista mencionou e o secretário de Estado endossou consta na Lei Magnitsky, legislação americana que autoriza sanções contra indivíduos acusados de corrupção ou graves violações de direitos humanos. As medidas incluem bloqueio de bens e contas em território americano e mesmo a proibição da entrada no país.

Essa possibilidade foi classificada como afrontosa à soberania nacional pela ministra das Relações Institucionais do governo Lula (PT), Gleisi Hoffmann, e pelo deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), líder da bancada petista na Câmara.

A ex-presidente do PT falou em “conspiração de Bolsonaro [antecessor de Lula na Presidência da República] com a extrema-direita dos EUA em busca de intervenção estrangeira no Judiciário do Brasil” em publicação no X (antigo Twitter).

Já Lindbergh escreveu, em nome da bancada: “não admitiremos qualquer forma de submissão ou ingerência estrangeira em nosso ordenamento jurídico. Nosso compromisso é com um país justo, democrático e soberano, onde o povo decida seu destino sem interferências externas”.

O que pode acontecer com Moraes

A articulação para que o governo dos Estados Unidos puna o magistrado ganhou força desde que Bolsonaro e 30 aliados se tornaram réus por uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, em processo relatado pelo magistrado no STF. Se condenado, o ex-presidente poderá pegar 43 anos de cadeia.

Conhecido pelo bom trânsito com a direita americana, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) se licenciou do mandato parlamentar e foi morar nos EUA com esse objetivo. A principal aposta do grupo é na suspensão do passaporte de Moraes, que é uma prerrogativa de Trump, mas pode gerar ruídos diplomáticos.

A IstoÉ procurou dois professores de direito internacional para entender as perspectivas de aplicação das medidas.

— Emanuel Pessoa é advogado especializado na internacionalização da empresas e professor da China Foreign Affairs University.

— Victoriana Gonzaga é advogada especializada em direito internacional e professora da FIA-SP (Fundação Instituto de Administração)

A decisão de sancionar o ministro depende só de Trump?

EP No geral, há uma regra discricionária, dado que um estrangeiro não tem “direito” a entrar em outro país, e faz isso em conformidade com o que é determinado pelas autoridades locais. Sendo assim, cada país se reserva o direito de estabelecer suas próprias regras, tendo o interesse nacional e as políticas internas como critérios suficientes no que toca a vistos.

VG Em qualquer país, a concessão, suspensão ou revogação de vistos é responsabilidade dos órgãos do Executivo, a quem cabe gerir a política migratória. Nos EUA, quem cuida disso é o Departamento de Estado, submetido à Casa Branca. Com razão em bases justificadas de política externa ou política de segurança, esse órgão tem a prerrogativa de cancelar ou suspender um visto a qualquer momento, o que pode ser provocado por uma orientação presidencial.

A suspensão do documento pode ser usada como ferramenta de pressão em um entrevero diplomático ou resposta a atos de autoridades estrangeiras que são contrárias aos interesses do país. O governo americano já fez isso com autoridades estrangeiras envolvidas em violações de direitos humanos e corrupção, mas essas decisões foram embasadas por sanções determinadas por entidades internacionais, o que não é o caso.

Há uma baliza para essa medida? E no que ela poderia implicar para as relações entre Brasil e EUA?

EP A conduta de Moraes já foi alvo de reprovação de diversos congressistas americanos, especialmente no que toca às punições ao X [o juiz chegou a bloquear o funcionamento da plataforma no Brasil], dado que muitos políticos dos EUA interpretam suas sentenças como restritivas à liberdade de expressão.

Dado que a decisão sobre o visto do ministro não depende do processo judicial e é discricionária do Poder Executivo, há possibilidade de definição por um argumento exclusivamente político, sem a necessidade de uma baliza do processo legal.

Em caso de suspensão, o recado será de que a Casa Branca entende que o ministro feriu regras legais, em particular as de liberdade de expressão, servindo como um reproche direto e claro dos EUA à conduta de Moraes e a chancela dada a ela pela Suprema Corte brasileira.

VG Não há proporcionalidade que justifique a suspensão do visto de Moraes, dado que ele não foi implicado em nenhum escândalo ou violação reconhecida dos direitos humanos. Além da falta de razão plausível, trata-se de uma autoridade de um país com quem os EUA nutrem boas relações, e portador do passaporte diplomático, que é protegido por tratados internacionais. A decisão, portanto, seria considera um ato hostil por parte de Trump.

No geral, governos priorizam o multilateralismo e a preservação de diálogo com outras nações, ainda que em condição de discordância, o que faz com que a suspensão seja improvável. A Casa Branca não demonstra afeição por abrir esse tipo de precedente.