Uma pintura antiga, supostamente roubada durante o regime nazista, foi detectada em fotos publicadas por uma imobiliária na Argentina, e agora a Justiça tenta localizar a obra desaparecida há mais de oito décadas.
O quadro foi identificado pelo jornal holandês AD por meio de uma fotografia tirada em uma casa à venda em Mar del Plata, cidade litorânea 400 km ao sul de Buenos Aires.
A obra, cuja autenticidade não pode ser comprovada até que seja recuperada, seria “Retrato de uma dama”, do italiano Giuseppe Ghislandi (1655-1743), que pertencia ao colecionador judeu holandês Jacques Goudstikker.
A propriedade está vinculada à família de Friedrich Kadgien, conhecido em sua época como o “mago das finanças” das SS, a força paramilitar do regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
A foto da sala de estar, publicada no anúncio de venda da casa pela imobiliária Robles Casas & Campos, mostrava o que parece ser a pintura roubada pendurada acima de um sofá verde.
Após a publicação da descoberta pelo jornal holandês AD na segunda-feira (25), o promotor federal Carlos Martínez ordenou uma busca na residência na terça-feira, mas a tela de Ghislandi já não estava mais lá.
“O quadro não está lá, apenas foram apreendidos uma carabina e um revólver calibre 32”, disse o promotor à imprensa no local.
O anúncio de venda foi removido da página e a imobiliária não respondeu às consultas da AFP.
Participam da busca pela obra a Interpol e a polícia federal argentina. Acredita-se que ela tenha sido retirada após a divulgação das fotos.
“Infelizmente, os procedimentos realizados ontem não tiveram resultado positivo, por enquanto a investigação continua em andamento”, afirmou à AFP uma fonte vinculada ao caso que pediu para não ser identificada.
Patricia Kadgien, herdeira da propriedade, não foi acusada formalmente, embora seu advogado Carlos Murias tenha informado ao jornal local La Capital de Mar del Plata que ela e seu marido planejam se colocar à disposição da Justiça.
Por outro lado, os herdeiros do colecionador holandês estão determinados a recuperar o quadro, que consta em uma lista internacional de obras de arte desaparecidas.
“Minha busca pelas obras de arte do meu sogro, Jacques Goudstikker, começou no final dos anos 1990 e não a abandonei até hoje”, disse sua nora Marei von Saher, de 81 anos, ao jornal AD.
A agência do patrimônio cultural dos Países Baixos, dedicada à identificação, rastreamento e restituição de bens culturais roubados pelos nazistas, mostra o quadro como desaparecido em seu site. Aparentemente, trata-se do mesmo que apareceu no site da imobiliária.
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