O presidente russo, Vladimir Putin, assegurou, nesta segunda-feira (4), que está disposto a reativar o acordo dos cereais com a Ucrânia, poucas horas depois de o Exército russo ter bombardeado infraestruturas agrícolas ucranianas em um porto fluvial no Danúbio.

“Faremos isso quando os acordos sobre as restrições às exportações de produtos agrícolas russos forem aplicados”, declarou Putin durante uma entrevista coletiva com seu contraparte turco, Recep Tayyip Erdogan, em Sochi, no litoral russo no mar Negro.

Durante essa mesma coletiva, Erdogan afirmou que seu país havia feito “novas propostas” para reativar o acordo sobre a exportação de cereais ucranianos pelo mar Negro, alcançado no verão de 2022 com mediação da Turquia e da ONU e suspenso pela Rússia em julho.

O acordo do verão passado (inverno no Brasil) contava com um convênio paralelo para que a Rússia pudesse vender seus produtos, cujos envios estão prejudicados pelas sanções ocidentais contra Moscou. O Kremlin aguarda propostas concretas para voltar a aderir ao pacto.

O presidente russo também anunciou que acordos estão a ponto de serem fechados com seis países para o envio gratuito de cereais.

Os envios serão efetuados “nas próximas semanas”, detalhou Putin.

Para além dessas declarações, os dois dirigentes não fizeram anúncios mais concretos sobre uma reativação do pacto dos cereais nas próximas semanas, o que permitiria a exportação das safras de outono (primavera no Brasil) da Ucrânia, um dos maiores exportadores de grãos e óleo do mundo e do qual depende o mercado alimentício mundial.

Erdogan é um dos poucos líderes da Otan que mantém boas relações com Putin e espera que esta reunião seja também uma plataforma para uma negociação mais ampla para a paz entre Kiev e Moscou.

– Tensões no Mar Negro –

Na linha da frente, as autoridades ucranianas relataram novos bombardeios russos contra infraestruturas agrícolas e industriais em Izmail, no sudoeste, onde fica um porto fluvial do Danúbio, fundamental para as exportações ucranianas.

À noite, Kiev afirmou que derrubou 23 drones lançados pela Rússia no sul e sudeste.

Oleg Kiper, governador da região de Odessa, no sul, informou que “várias cidades do distrito de Izmail registraram danos em armazéns e edifícios de fábricas, máquinas agrícolas e empresas industriais”, sem deixar vítimas.

O porto fluvial de Izmail tornou-se a principal rota das exportações ucranianas depois que a Rússia se retirou do acordo do Mar Negro.

Os militares ucranianos relataram que a Rússia usou drones Shahed, de fabricação iraniana, no ataque noturno, o qual descreveram como “maciço” e afirmaram que “foi dirigido contra a infraestrutura civil na região do Danúbio”.

Horas depois, o Ministério das Relações Exteriores ucraniano informou que, durante o ataque, drones russos caíram em território romeno, mas Bucareste negou “categoricamente” esta afirmação.

Nesta segunda-feira, a Rússia disse que destruiu quatro lanchas rápidas ucranianas que transportavam soldados no Mar Negro, depois que as forças russas reivindicaram, em 30 de agosto, a destruição das embarcações das forças especiais de Kiev.

As autoridades russas alegaram que as embarcações viajavam em direção a Tarjankut, a oeste da península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014.

Moscou também denunciou nesta segunda-feira que repeliu ataques de drones ucranianos, um perto da península da Crimeia e outro em Kursk, uma região do sul da Rússia, perto da fronteira com a Ucrânia.

No avanço da contraofensiva ucraniana, Kiev afirmou nesta segunda-feira que as suas tropas fizeram progressos limitados na frente sul, onde concentra a sua operação para repelir as forças russas, e que também recuperou território perto de Bakhmut, uma cidade no leste, devastada pelos combates e que a Rússia conseguiu tomar em maio, após combates ferozes.

Na capital ucraniana, as autoridades anunciaram que receberam um novo alerta de bomba contra todas as escolas de Kiev, três dias depois de uma primeira ameaça, que se revelou falsa, em 1º de setembro, data de início do ano letivo.

O ministro da Defesa ucraniano – demitido no domingo pelo presidente Volodimir Zelensky, que apelou a “uma nova abordagem” face à contraofensiva para repelir a invasão russa – disse nesta segunda-feira que entregou a sua carta de renúncia ao Parlamento.

O anúncio da mudança do ministro ocorre após diversos escândalos de corrupção que afetaram a pasta da Defesa em pleno conflito.

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