Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da França, Emmanuel Macron, disseram nesta sexta-feira (19) que estão a favor do envio urgente de uma missão de inspeção da ONU à central nuclear ucraniana de Zaporizhzhia, alvo de bombardeios dos quais russos e ucranianos se acusam mutuamente.

Em uma conversa telefônica, Putin e Macron defenderam o envio, “o mais breve possível”, de uma missão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) a esse complexo nuclear no sul da Ucrânia, ocupado pelas tropas russas desde março, com o objetivo de “avaliar a situação real no terreno”, indicou o Kremlin.

Putin acusou os militares ucranianos de “bombardearem sistematicamente o território de Zaporizhzhia”, o que “gera o risco de uma catástrofe de grande magnitude”, acrescentou a presidência russa em comunicado.

A Ucrânia, por sua vez, garante que a Rússia utiliza a área da usina nuclear para armazenar armas pesadas e realizar bombardeios contra posições ucranianas, o que Moscou nega.

Por outro lado, Putin aceitou que a missão de verificação passasse pela Ucrânia, “respeitando a soberania” ucraniana, informou o Palácio do Eliseu, a sede da presidência francesa.

A situação em Zaporizhzhia causa preocupação mundial.

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O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, instou as Nações Unidas a garantirem a segurança do recinto, após receber na quinta-feira o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e o secretário-geral da ONU, António Guterres, em Lviv (oeste).

O presidente turco se declarou “preocupado” diante do perigo de uma “nova Chernobyl”, em referência ao acidente nesta central ucraniana em 1986, o pior da história nuclear civil. E António Guterres afirmou que qualquer dano infligido à usina de Zaporizhzhia seria “suicídio”.

– ‘Desastre’ –

Nesta sexta, Guterres pediu que a Rússia não cortasse o fornecimento de Zaporizhzhia à rede elétrica da Ucrânia, fazendo eco dos temores manifestados pela operadora das centrais ucranianas, Energoatom.

O corte de fornecimento privaria de eletricidade quatro milhões de lares ucranianos.

“Obviamente, a eletricidade de Zaporizhzhia é ucraniana”, disse Guterres na cidade portuária de Odessa (sul).

“Naturalmente, sua energia deve ser utilizada pelo povo ucraniano”, declarou, mais tarde, o diplomata português à AFP.

– ‘Impedimentos’ –

A visita de Guterres a Odessa acontece no contexto das negociações para conseguir “intensificar” as exportações de cereais dos dois países beligerantes, o que é essencial para aliviar o risco de crise alimentar mundial.


Até o acordo alcançado no mês passado entre Kiev e Moscou, com mediação da Turquia e patrocínio da ONU, as exportações ucranianas estavam bloqueadas pela presença de embarcações de guerra russas e de minas colocadas por Kiev para defender seu litoral no Mar Negro.

Durante a conversa telefônica com Macron, Putin se queixou da persistência de “impedimentos” às exportações agrícolas da Rússia, apesar do acordo, informou o Kremlin. Uma queixa que, no entanto, foi rechaçada pela França.

Segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA), 345 milhões de pessoas em 82 países estão em situação de insegurança alimentar aguda – um número recorde – e cerca de 50 milhões em 45 países correm risco de morrer de fome sem ajuda humanitária.

– Bombardeios no leste –

Na frente de batalha, a Rússia continuou bombardeando a província de Donetsk, no leste da Ucrânia, uma região parcialmente controlada por rebeldes pró-Rússia desde 2014.

O responsável ucraniano da província, Pavlo Kyrylenko, informou nas redes sociais que esses ataques deixaram cinco mortos e mais de dez feridos nas últimas 24 horas.

No início da invasão, a Rússia pretendia tomar Kiev rapidamente, mas se deparou com uma resistência ucraniana ferrenha, que recebeu forte apoio financeiro e militar do Ocidente.

O Departamento de Defesa dos Estados Unidos anunciou hoje um novo pacote de US$ 775 milhões em equipamentos de defesa e munições para a Ucrânia, que inclui mísseis Himars, artilharia e sistemas de limpeza de minas.


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