O presidente Vladimir Putin suspendeu nesta terça-feira (21) a participação da Rússia em um importante tratado de desarmamento nuclear e acusou o Ocidente de “atiçar” o conflito na Ucrânia, enquanto seu homólogo americano, Joe Biden, garantiu que Moscou “nunca” vencerá a guerra que iniciou um ano atrás.

Os Estados Unidos chamaram a decisão de suspender o tratado Novo START de “irresponsável”, enquanto França e Reino Unido, outras duas potências nucleares, pediram a Moscou que reconsiderasse sua “decisão precipitada” e “mostrasse responsabilidade”.

Apesar do anúncio de Putin, a chancelaria russa garantiu que Moscou “manterá uma abordagem responsável e continuará respeitando rigorosamente (…) as limitações quantitativas das armas estratégicas ofensivas” até a expiração do pacto, em 2026.

Assinado em 2010 entre a Rússia e os Estados Unidos, o acordo Novo START visa limitar os arsenais nucleares desses dois países.

Putin alertou que a Rússia poderia retomar seus testes nucleares se os Estados Unidos o fizessem primeiro.

“Ninguém deve se alimentar de ilusões, a paridade estratégica pode ser alterada”, acrescentou o mandatário russo.

A Rússia já havia suspendido em agosto as inspeções planejadas de suas instalações militares.

– Biden promete apoio total à Ucrânia –

Em seu discurso de uma hora e quarenta e cinco minutos, Putin acusou os países ocidentais de usar o conflito na Ucrânia para “acabar” com a Rússia.

“A responsabilidade por atiçar o conflito ucraniano, por sua escalada, pelo número de vítimas (…), recai inteiramente sobre as elites ocidentais”, afirmou Putin, às vésperas do primeiro aniversário do início da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022.

O presidente russo também prometeu cumprir “passo a passo, cuidadosa e sistematicamente” os objetivos da ofensiva, marcada nos últimos meses por uma série de humilhantes reveses militares para Moscou, mas também por alguns avanços no leste.

Biden, em outro aguardado discurso em Varsóvia, respondeu à tarde a essas acusações e prometeu manter um apoio inabalável à Ucrânia.

“O Ocidente não está conspirando para atacar a Rússia, como Putin disse hoje. Milhões de cidadãos russos que só querem viver em paz com seus vizinhos não são o inimigo”, proclamou Biden, diante de uma multidão reunida em frente ao Castelo Real da capital polonesa.

“Não deve haver dúvidas: nosso apoio à Ucrânia nunca vacilará” e “a Ucrânia nunca será uma vitória para a Rússia, nunca”, acrescentou, um dia após sua visita surpresa a Kiev, a capital ucraniana.

– Bombardeios em Kherson –

Durante o discurso de Putin, as forças russas bombardearam edifícios em Kherson, no sul da Ucrânia, matando pelo menos cinco civis, segundo autoridades ucranianas.

A Rússia está “matando impiedosamente a população civil”, acusou o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.

Imagens divulgadas após o ataque mostraram corpos, um deles coberto por uma lona, caídos no chão perto de um ponto de ônibus e de um supermercado destruído.

– Iniciativa de paz chinesa –

Em relação às sanções internacionais que afetam a Rússia, Putin avaliou que os ocidentais “não conseguiram nada e não conseguirão nada”.

A economia russa resistiu melhor do que os especialistas previam. O PIB contraiu 2,1% no ano passado, segundo a agência oficial de estatísticas Rosstat.

Em Pequim, o ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, disse nesta terça que seu país está “profundamente preocupado” com o conflito e se ofereceu para mediar negociações, prometendo uma proposta esta semana para buscar uma “solução política” para a crise.

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, expressou um cauteloso interesse por tal iniciativa, mas alertou que ela deve respeitar “o princípio da integridade territorial” de seu país.

A Rússia anexou a península ucraniana da Crimeia em 2014 e, no início da guerra, proclamou sob sua soberania os territórios da bacia de mineração do Donbass, no leste da Ucrânia.

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