MOSCOU, 18 JAN (ANSA) – Alexei Navalny, o principal opositor político do presidente da Rússia, Vladimir Putin, acusou o atual mandatário de criar um “regime feudal” no país, mas disse que não desistirá de lutar por sua nação em uma entrevista exclusiva à ANSA.   

“Vladimir Putin escolheu ficar no poder com a fórmula de um presidente eterno e está construindo um sistema feudal baseado em clãs familiares, que já controlam 85% da nossa economia”, acusou Navalny nesta quinta-feira (18).   

“A atividade política independente na Rússia tem seus riscos, mas eu vou adiante. Não há alternativa. Nós lutamos pelo nosso direito de participar da construção do futuro da Rússia”, acrescentou o opositor.   

O russo não poderá disputar as próximas eleições presidenciais, marcadas para março deste ano, por conta de uma acusação de ter subtraído US$ 500 mil em madeira de uma empresa pública em 2009.   

Ele sempre negou as acusações e disse ser alvo de uma perseguição política do atual mandatário. Por isso, convocou um boicote dos russos nas urnas.   

Na entrevista, Navalny ainda informou que, no próximo dia 28, haverá mais um grande protesto contra o atual líder do Kremlin porque “foi dito a milhões de russos que eles não importam, que os candidatos às eleições, sejam as parlamentares ou presidenciais, serão escolhidos pelo governo”.   

“Nós não aceitaremos isso nunca. O boicote às urnas é uma tática política. Como cidadão, marido e pai, eu devo lutar pelos direitos de meus concidadãos. Também no tempo da União Soviética existiam dissidentes, poucos, é verdade, mas existiam”, ressaltou à ANSA.   

Ao ser questionado sobre as acusações que responde na Justiça local, ele afirmou que tudo “foi fabricado” contra ele e a “Corte de Direitos Humanos da Estrasburgo já me deu razão”.   

“Par mim, foi dito ‘você e os parecidos com você nunca poderão participar do processo político’. Isso é aceitável? Naturalmente, não. Nós temos o apoio de milhões de pessoas nas grandes cidades como nas regiões, e a minha campanha, que quer evidenciar o direito de participar das eleições, é popular e só é possível graças a muitos voluntários”, acrescentou.   

Sobre o que espera do futuro da Rússia, ele foi direto e destacou que quer a nação como “líder na Europa”, ressaltando a consciência que o povo local tem com os europeus.   

“É correto dizer que eu me inspiro no sistema político europeu.   

O norte-americano é muito único e não replicável. A União Europeia é a união de Estados que, mesmo com todos os seus problemas, do Brexit a Catalunha, e foi capaz de garantir os próprios cidadãos uma vida estável”, disse ainda.   

Segundo ele, a “ideologia putiniana da terceira via é uma alteridade em relação ao mundo ocidental e ao asiático, sendo nociva”. “Sem contar que é falsa porque a elite tem os filhos que estudam no Ocidente, interesses no Ocidente e usam essa ideologia como cortina de fumaça para cobrir os seus interesses”, criticou.   

Navalny ainda criticou que os países ocidentais “não dão muito apoio nos meus embates” internos e que só recebeu apoio mesmo na decisão da Corte Europeia sobre seus direitos políticos.   

– Itália: O líder russo foi questionado sobre as eleições na Itália, que também ocorre em março, assim como as de seu país. Ele voltou a acusar os partidos Movimento Cinco Estrelas (M5S) e Liga Norte de terem conluio com o governo russo.   

“São irracionais e muito irritantes as ligações entre o regime de Putin e o establishment italiano. Aqueles com os partidos de extrema-direita são incompreensíveis, como no caso do Liga Norte, que ama muito Putin e Putin os ama muito. Mas, lamento muito que o M5S tenha uma posição favorável na relação com Putin porque, com base em tudo o que eles dizem, eles deveriam odiá-lo”, destacou o ativista.   

Sobre as relações que vão além das eleições, Navalny afirmou que espera que as ligações entre Itália e Rússia, que “são muito sólidas”, deveria ter uma postura “mais ativa” sobre as sanções individuais porque “o país de vocês é meta sólida a do dinheiro sujo dos oligarcas, que roubam aqui e depois vão se divertir nos resorts” italianos. (ANSA)