Vladimir Putin, que tenta ser o “novo imperador” da Rússia, não começou esta guerra contra a Ucrânia, Otan e União Européia no último dia 24 de fevereiro – há cinco dias – e nem em 2014, quando ele invadiu a Criméia, que fazia parte do território ucraniano, mas que os russos consideravam como parte da sua nação. Na verdade, o ditador russo imagina, no seu subconsciente neurótico, que a Ucrânia deveria continuar pertencendo à Federação Russa, da qual se tornou independente em 1991, com o fim da União Soviética (a temida URSS). Nesse ano, uma grande crise econômica afetou os russos, que após a segunda guerra tornou-se a segunda maior economia mundial, só atrás dos EUA, o que, na época, levou o presidente russo, Mikail Gorbachev, a implantar a Glasnost, a abertura do regime comunista. Foi uma tentativa de transformá-lo em uma nação com mais liberdades democráticas, ingresso na economia de mercado, etc, o que levou à dissolução do estado socialista, com vários estados de sua federação tornando-se independentes, inclusive a Ucrânia, um dos primeiros estados a cair fora da sufocante ditadura da URSS.

Desde 1991, portanto, a Ucrânia é independente da Rússia, e vinha se aproximando mais do Ocidente (leia-se EUA, Europa Ocidental, Otan e os países que poderiam tirar-lhe das amarras conservadoras, antidemocráticas e ditatórias da Rússia, criada também em 1991, com o fim da URSS). Esse movimento, disparou o sinal amarelo dos russos mais radicais e conservadores, que viam quase todas suas “ex-colônias” – como Estônia, Letônia e Lituânia, que antes faziam parte do seu território e do Pacto de Varsóvia, com sede em Moscou desde 1955 – se bandeando para o lado da Otan e dos americanos. Tanto que, em 1999, quando Vladimir Putin assumiu a presidência da Rússia pela primeira vez (ele já está no poder há 20 anos, com mandato até 2024 e parece pretender se perpetuar no cargo até o final da vida), ele advertiu o presidente americano Bill Clinton de que a Otan e seus 30 países membros estava extrapolando e atraindo outros países socialistas do extinto Pacto de Varsóvia (assinado na Polônia em 1955, como contraponto à criação da Otan, em 1954, com sede em Bruxelas, na Bélica). Ele foi claro com Clinton, dizendo que se os americanos agregassem novos países socialistas à Otan, ele iria para a guerra.

Ameaças de guerra começaram em 1999

Ninguém deu muita bola para as ameaças do Putin. Todo mundo achava que ele era um autocrata sem força alguma, dada à fragilidade econômica russa e que tinha uma dívida externa enorme, com o povo passando fome, soldados que nem comida tinham em seus exercícios militares. Resumindo: Putin tinha uma nação quebrada nas mãos. Os americanos entendiam que ele não teria força mínima para se contrapor ao imenso poderio dos países membros que sustentavam a Otan (além dos EUA, estão no Tratado do Atlântico Norte quase todos os sete membros do G-7, todos menos a Rússia, incluindo os ingleses, franceses, italianos, etc.). Mas Putin conseguiu um feito extraordinariamente negativo. Determinou o fechamento do regime, acabando com a Glasnost de Gorbachev, e começou a sair da crise econômica graças aos elevados preços do petróleo e gás – a Rússia é o segundo maior produtor mundial de petróleo, só atrás da Arábia Saudita – e os russos voltaram a falar grosso.

Mesmo assim, o tempo foi passando e Putin continuou não aceitando o assédio da Otan sobre seus vizinhos. Países como a Polônia, Romênia, Bulgária, Albânia e República Checa, por exemplo, foram aderindo à Otan, enfurecendo Putin e os políticos mais conservadores da Rússia. Para continuar com moral elevado internamente, ele fez guerras regionais contra a Chechênia e Geórgia, seus ex-territórios, e isso deu certo. Putin saiu fortalecido internamente, o que lhe garantiu várias “reeleições”. O mesmo aconteceu quando ele invadiu a Ucrânia e tomou a Criméia de volta (esse território foi doado pelos russos à Ucrânia após a separação em 1991, pelo ex-presidente Yeltsin, ainda nos anos 90, como “presente”, com o objetivo de contentar os “revoltados” ucranianos).

Ocorre que, graças ao projeto de recuperação da economia russa, em função dos melhores preços do petróleo e do gás, os anos 2000 foram de glória para o ditador russo. Mas, depois de 2013, com as revoltas “laranja” nos países que deixavam o socialismo para se tornarem liberais e ligados ao Ocidente, União Europeia e Otan, Putin voltou a ser questionado internamente e precisou, outra vez, remontar sua máquina de repressão à oposição interna, mandando matar os que o desafiavam, prendê-los na gelada Sibéria ou envenená-los, como historicamente os russos sempre fizeram. E com Putin nunca foi diferente. Ele quer se comparar ao carniceiro Josef Stalin, que permaneceu 30 anos no poder da URSS e foi considerado o maior assassino da humanidade, com milhões de compatriotas mortos, só se comparando a Hitler. O fato é que Putin passou a responsabilizar EUA/Otan/União Europeia por estarem “fazendo a cabeça” de suas ex-colônias ou países que viviam em sua órbita, com ideais de democracia, livre comércio, liberdade de imprensa e práticas do Ocidente que punham em xeque sua mentalidade retrógrada, autocrata e nojenta.

Assim, de ameaça em ameaça, veio o governo Trump, que recebeu ajuda da máquina de fraudar eleições e fake news dos russos apoiados, incrivelmente, por Putin. Foi por isso, inclusive, que Trump quis enfraquecer a Otan, não pagando pelas despesas de manutenção. Isso voltou a dar espaço para Putin dar suas demonstrações de poder, o que fortaleceu sua ideia de invadir a Ucrânia. Sem Trump no governo americano, Putin resolveu partir para o tudo ou nada, fazendo uma grave advertência com a invasão da Ucrânia: não empurrem meus vizinhos para a Otan. Não quero ver os mísseis e armas atômicas dos aliados do Tratado do Atlântico Norte no meu quintal, que, no caso, é a Ucrânia.

Não é por outra razão que Putin somente invadiu a Ucrânia já na gestão de Biden, embora ele viesse planejando essa guerra há muitos e muitos anos, possivelmente desde 1999. Como um verdadeiro agente formado pela KGB, órgão de espionagem da URSS, ele aprendeu tudo sobre táticas de guerra, colocadas em prática agora com esse confronto sanguinário na Ucrânia. Vale lembrar que os dois povos são praticamente uma coisa só. É uma luta fratricida, de irmãos atacando irmãos. Kiev, que já foi capital da Rússia no século 9, é anterior à existência de Moscou, que surgiu no século 12 (sempre lembrando que os dois países eram uma coisa só até 1991).

Bolsonaro: aliado às ditaduras que apóiam Putin

A questão é que Putin foi longe demais. Mostrou os dentes com os testes nucleares uns dias antes da invasão, para refrescar a memória de todos. Afinal, ele tem quase 4.500 artefatos atômicos, dos quais 45 submarinos equipados com esse tipo de arma de alta destruição. Foi um aviso à Otan e seus aliados. Mas o que Putin não esperava era a reação mundial às suas loucuras. O mundo está se unindo contra ele. Putin, o sanguinário ditador, está ficando sozinho. Os EUA, por seu lado, acertaram ao impor sanções contra os russos, bloqueando suas contas em bancos americanos, incluindo suas reservas em dólares investidos no tesouro americano (a China também tem US$ 1 trilhão em títulos americanos) e isso vai quebrar a Rússia, caso ela insista em continuar com essa guerra insana. Outra coisa que está sufocando os russos é a exclusão de seus bancos do Swift, o sistema bancário internacional.

Sem poder fazer movimentações financeiras, os russos não poderão vender petróleo ou gás, além de suas commodities (trigo) e nem comprar os alimentos dos quais necessitam, como a carne bovina. Aliás, o Brasil é o maior exportador de carne para a Rússia. Afinal, os russos não conseguem criar gado no seu gelado território. Os animais virariam picolé de carne. Lá, as temperaturas chegam a 38 graus negativos e nenhuma cultura alimentícia consegue ser produzida com essa temperatura. Dessa forma, Putin conseguiu unir todo o mundo contra ele. Menos, obviamente, os países com presidentes malucos e antidemocráticos, como é o caso do Brasil de Bolsonaro, Cuba, Venezuela e Nicarágua. Uma vergonha mundial.