O ex-presidente Lula admitiu, em manifestação recente, que o PT pode não ter candidato próprio em 2022. Mas essa possibilidade hoje é remota e a própria fala de Lula aponta nessa direção. “Ou apresenta um candidato maior do que o PT ou não tem chance”. Desde 1989, o PT nunca deixou de concorrer a uma eleição presidencial. Apenas nos pleitos de 1994 e 1995, quando a eleição foi vencida no primeiro turno pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o PT não foi para o segundo turno. E saiu vitorioso do segundo turno por quatro vezes seguidas (2002, 2006, 2010 e 2014). Hoje, entre os nomes mais cotados no PT, pelo menos dois aparecem como favoritos: o do governador da Bahia, Rui Costa; e o do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, candidato à Presidência pelo partido em 2018.

A legenda ainda alimenta, mesmo sabendo que a chance é pequena, a esperança de que Lula consiga recuperar sua condição de elegibilidade. Essa possibilidade ganhou um novo fôlego na semana passada, após a licença médica do ministro Celso de Mello, que integra a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal. Ele analisa a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro na condenação de Lula no caso do triplex do Guarujá (SP). A condenação do ex-presidente por Moro foi confirmada pelo TRF4 e resultou na inelegibilidade de Lula. A Segunda Turma é composta por cinco ministros: Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia, Edson Fachin e Celso de Mello. O julgamento foi suspenso após o pedido de vista de Gilmar Mendes quando o placar estava em 2 X 1 contra Lula. Restam os votos de Mendes e Celso de Mello.

Sem Celso de Mello, a Segunda Turma ficará temporariamente com quatro ministros e os votos de Lewandowski (que votou a favor) e Gilmar seriam suficientes para beneficiar Lula. Ou seja, o placar na Turma estaria empatado e, nesse caso, a própria norma processual aponta o caminho favorável ao réu. Embora essa possibilidade exista, é remota. Inelegível ou não, quem indicará o rumo do partido em 2022 será, como sempre, Lula. E dificilmente ele optará pela possibilidade de o PT concorrer apenas como vice, apoiando um candidato de outro partido na cabeça da chapa. No pleito de 2022, o PT deve enfrentar uma de suas eleições mais difíceis. Além de não conseguir unir as esquerdas, ver Jair Bolsonaro avançar no Norte e Nordeste, reduto lulista, a partir do pagamento do auxílio emergencial e do lançamento do Renda Brasil, uma nova roupagem do Bolsa Família.

No pleito de 2022, o Partido dos Trabalhadores deve enfrentar uma de suas eleições mais difíceis, com crescimento de Bolsonaro no Nordeste