PT prepara influenciadores para guerra digital no final da campanha

PT prepara influenciadores para guerra digital no final da campanha

Por Lisandra Paraguassu

BRASƍLIA (Reuters) – Na reta final do segundo turno da eleiĆ§Ć£o presidencial, a campanha do ex-presidente Luiz InĆ”cio Lula da Silva (PT) organiza uma mobilizaĆ§Ć£o de comunicadores digitais para reagir Ć  campanha de Jair Bolsonaro (PL) nas redes sociais, e partir para o ataque.

Em uma fala durante encontro com comunicadores digitais nesta terƧa-feira –que chegou a ter 13 mil pessoas assistindo, segundo o coordenador de comunicaĆ§Ć£o da campanha, Edinho Silva– o prĆ³prio Lula pediu ao grupo que nĆ£o fique apenas rebatendo ataques e notĆ­cias falsas, mas tambĆ©m mostre fatos positivos.

“A gente nĆ£o pode ficar apenas como se fosse alvo, com um escudo tentando rebater as crĆ­ticas. Ɖ pouco. A gente nĆ£o pode sĆ³ ficar repetindo ‘Lula nĆ£o vai fechar igreja’. Temos prova histĆ³rica. Fui presidente por oito anos, nĆ£o oito dias”, pediu. “Ɖ importante (rebater as notĆ­cias falsas), mas dizer o que vamos fazer Ć© extremamente importante.”

O PT tenta contrapor a estratĆ©gia de redes tradicionalmente dominada pela equipe de Bolsonaro e organizar respostas depois de ter detectado o que considera um aumento exponencial de notĆ­cias falsas contra Lula nos Ćŗltimos dias da campanha.

“Precisamos criar um movimento de mobilizaĆ§Ć£o. Temos do outro lado uma estrutura criada hĆ” muito tempo. Em 2018 foi uma quantidade absurda de fake news gerada na reta final”, disse Edinho, ressaltando que o mesmo acontece agora.

O PT entrou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com um pedido para abertura de uma investigaĆ§Ć£o e remoĆ§Ć£o das redes de 40 perfis e identificaĆ§Ć£o de outros 34 que distribuem notĆ­cias falsas contra Lula e o partido. Na petiĆ§Ć£o, a sigla afirma que se trata de uma rede organizada de desinformaĆ§Ć£o.

“Existe um grupo que discute, organiza e faz o disparo de mentiras de forma ordenada”, acusou Edinho.

Nas Ćŗltimas semanas, puxados pelo deputado federal AndrĆ© Janones (Avante-MG), influenciadores que apoiam a candidatura de Lula passaram a se organizar para nĆ£o apenas rebater, mas criar fatos que passaram a atingir diretamente a campanha de Bolsonaro.

Foram nessa situaĆ§Ć£o que viralizaram imagens do presidente em um templo maƧƓnico –o que atingiu parte da base religiosa do eleitorado bolsonarista–, as confusƵes feitas por apoiadores do presidente na BasĆ­lica de Aparecida e, principalmente, a entrevista em que Bolsonaro diz que “pintou um clima” com adolescentes venezuelanas –a quem acusou, de forma infundada, se serem prostitutas.

O resultado foi uma semana em que a campanha de Bolsonaro, em vez de atacar, passou a se defender nas redes, e demorou a reagir. No inĆ­cio desta semana, a reaĆ§Ć£o foi em cima de Janones: o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, usou seu partido para pedir a cassaĆ§Ć£o do deputado. E a campanha pediu ao TSE a suspensĆ£o das redes sociais de Janones.

A maior parte desses influenciadores nĆ£o tĆŖm ligaĆ§Ć£o direta com a campanha petista, mas apoia Lula e tem uma base de seguidores relevante. Grupos de Telegram foram criados tambĆ©m, da mesma forma que fazem os bolsonaristas, para distribuir vĆ­deos que rebatem notĆ­cias falsas e, tambĆ©m, com falas de Bolsonaro, como a sobre as venezuelanas ou as declaraƧƵes que deu durante a pandemia de Covid-19.

AƇƃO COORDENADA

ResponsĆ”vel por iniciar a tĆ”tica de guerrilha digital na qual o PT, atĆ© agora, nĆ£o tinha expertise, Janones pediu aos influenciadores que trabalham com aƧƵes coordenadas.

“O bolsonarismo 2.0 trabalha hoje com o que chamo de robĆ“s humanos. Eles tĆŖm uma rede de pessoas que segue determinadas coordenadas e distribui material focado”, afirmou.

O deputado ainda ressaltou que os influenciadores nĆ£o devem perder o foco em Bolsonaro, e precisam tirar do alvo pessoas que declararam apoio a ele, como no caso dos cantores sertanejos que se reuniram na segunda-feira com o presidente no PalĆ”cio da Alvorada. A ideia Ć© evitar que crĆ­ticas a aliados do presidente gerem reaĆ§Ć£o adversa.

Durante o encontro, a senadora Simone Tebet (MDB-MS), terceira mais votada no primeiro turno da eleiĆ§Ć£o e que se aliou a Lula no segundo turno, esclareceu o pedido para que se usasse menos vermelho e mais branco nos eventos do ex-presidente. Ela disse ainda encontrar muitos eleitores indecisos, com medo, e a campanha precisa focar nessas pessoas.

“Ainda me surpreende como nosso eleitor ainda estĆ” indeciso e influenciado por fake news e por um medo que nĆ£o se entende. Agora nĆ£o Ć© hora de pregar para convertidos. Quando sugeri o branco da paz foi no sentido de conversar com esses indecisos, combater esse conteĆŗdo que gera medo”, disse.

Tebet sugeriu ainda que a campanha usasse conteĆŗdo tĆ©cnico, da CPI da Covid, da qual ela participou, e tambĆ©m anĆ”lises do orƧamento feitas pelos tĆ©cnicos do Congresso que mostram os cortes feitos pelo atual governo para 2023 em programas de saĆŗde, educaĆ§Ć£o, assistĆŖncia social e moradia popular.

“NĆ£o sĆ³ ficarmos na defensiva de combater conteĆŗdos de medo, mas gerar conteĆŗdos verdadeiros a respeito desse governo que Ć© desumano e desonesto”, afirmou.

 

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