O PT foi derrotado nas disputas de segundo turno pelas prefeituras de Porto Alegre, Cuiabá e Natal neste domingo, 27, e comandará apenas uma capital, Fortaleza, enquanto ocupa a Presidência da República.

As derrotas

Nas quatro cidades em que concorriam, os postulantes do partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva receberam menos votos no primeiro turno e chegaram às urnas neste domingo com a difícil missão de virar o jogo — apenas Evandro Leitão, na capital cearense, conseguiu.

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Em maior ou menor grau, os três oponentes eleitos exploraram na campanha elementos de rejeição ao petismo. Para o cientista político Renato Dorgan, presidente do instituto de pesquisas Travessia, as derrotas dão continuidade a um processo de enfraquecimento que foi aberto na Operação Lava Jato.

Evandro Leitão (PT), à esquerda, busca reproduzir feito da colega de partido Luizianne Lins, que conquistou prefeitura de Fortaleza após virada | Reprodução/X
Evandro Leitão, prefeito eleito de Fortaleza: único mandatário do PT em capitais | Reprodução/X

O PT não percebeu que quem ganhou as eleições presidenciais de 2022 foram o Lula e o antibolsonarismo. Seus quadros ainda têm grande dificuldade para superar o teto do partido e ganhar disputas pelo Executivo”, afirmou ao site IstoÉ.

O vácuo de poder petista nas capitais conflui com um desempenho ruim do partido no geral nas urnas em 2024, que com quatro vitórias neste domingo, chegou a 252 prefeituras conquistadas, atrás até de um PSDB em crise, que fez 276.

Além disso, aliados importantes do governo federal, como Guilherme Boulos (PSOL), em São Paulo, também acabaram derrotados apesar dos esforços — inclusive financeiros — do PT na campanha.

O presidente Lula reconheceu que a agremiação precisa “rediscutir seu papel” eleitoral, mas o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, amenizou os resultados e preferiu afirmar que “ícones do bolsonarismo foram derrotados” neste domingo, 27. Fato é que, quando chefia o Executivo nacional, o PT historicamente conquista o comando de capitais.

Ineditismo

Em 2004, o PT faturou as prefeituras de oito capitais em eleição que marcou a metade do primeiro mandato de Lula no Planalto — o número não se repetiu.

Correligionários do mandatário foram eleitos em Aracaju, Belo Horizonte, Fortaleza, Palmas, Porto Velho, Recife, Rio Branco e Vitória com participação relevante de Lula nas campanhas. Vale lembrar que a sigla ainda perdeu os comandos de Porto Alegre — que administrava há 16 anos — e São Paulo — com a derrota de Marta Suplicy —, o que faria do domínio ainda mais amplo.

Em 2008, mesmo com aliados solapados pelo escândalo do Mensalão, Lula chegava ao pleito municipal com a popularidade em alta e viu petistas serem eleitos em seis capitais: Fortaleza, Palmas, Porto Velho, Recife, Rio Branco e Vitória.

Nas eleições municipais seguintes, com Dilma Rousseff (PT) no Palácio do Planalto, petistas assumiram ou permaneceram no comando de quatro capitais. Além da reeleição de Paulo Garcia em Goiânia e as eleições no Rio Branco e em João Pessoa, o partido retomou São Paulo com uma cartada da influência de Lula: Fernando Haddad, o ministro da Educação dos governos petistas.

Nos pleitos municipais de 2016 e 2020, o partido estava fora do poder federal — Michel Temer (PMDB) era presidente durante o afastamento de Dilma, que sofreu impeachment, e Jair Bolsonaro (PL) se elegeu em 2018. No terceiro mandato de Lula, a sigla não comanda nenhuma capital.

Para Dorgan, o cenário tende a gerar consequências para o projeto de reeleição do político em 2026. “Os comandos de Executivos garantem distribuição de cargos e tocam a militância. Esse esvaziamento pode gerar um quadro delicado para a próxima eleição”, disse ao site IstoÉ.