Se há algo capaz de unir, hoje, o Fla-Flu político é o vaticínio segundo o qual o PT estará representado — quem quer que seja o candidato do partido — no 2º turno das eleições presidenciais. De tanto repetido por aí, virou verdade. Na realidade, como dizia Nietzsche, trata-se de uma “vontade de verdade”, mas não creio que “a verdade continue verdade, quando se lhe tira o véu”, para ficar no mesmo filósofo. Senão vejamos. Atualmente, o que temos de mais próximo do tangível são renitentes pesquisas de intenções de voto a exibir o potencial eleitoral de um eventual candidato de Lula, que, diga-se, ninguém sabe ainda ao certo quem será — Fernando Haddad e Jaques Wagner são os mais cotados nas bolsas de apostas. Como se o petista esgrimisse uma varinha de condão, pega-se o elemento meramente subjetivo e pronto: arrisca-se o chute de que o ungido por Lula poderá amealhar algo em torno de 20% dos votos, índice capaz de catapultá-lo à segunda etapa das eleições.

Os números do último Datafolha, no entanto, são controversos. Ao mesmo tempo em que o levantamento revela que 30% dos eleitores votariam com certeza num candidato indicado por ele, quando apresentada uma lista contendo os nomes de Haddad e Wagner, ambos amargam ínfimos 1% dos votos. Como se vê, nada é tão óbvio assim. A própria história de Lula como cabo eleitoral recomenda cautela com as supostas transferências automáticas de votos. Em 2010, o ex-presidente desfrutava o auge da popularidade. O Brasil era outro e, mesmo assim, Dilma Rousseff foi eleita com 40% dos votos totais — ou seja, 60% dos brasileiros não votaram nela. Em 2014, alcançou a reeleição com 38% do universo total de votos, índice ainda menor. Em 2016, um Lula ainda não condenado à prisão constituiu um case de fracasso nas urnas. Perdeu em São Paulo, em São Bernardo do Campo, berço político dele e do PT, e nem o filho conseguiu eleger.

Há outro aspecto importante pouco levado em consideração. A tragédia do poste 1 permanece vivíssima na memória do eleitor. O eleitorado lulista arriscaria votar de novo num preposto dele, o poste 2, diante da profunda crise legada pelo poste 1? Não digo que não seja possível acontecer. Mas há no meio político quase uma volúpia na hora de asseverar que o escolhido por Lula chegará lá. Virou convenção. Eu diria torcida. Explico: à exceção obviamente dos candidatos de esquerda, todos os demais fazem figa para duelar com o PT no segundo turno. Depois de 16 anos de PT no poder, consideram qualquer petista um candidato condenado à derrota devido à astronômica rejeição e pelo que cientistas políticos chamam de “fadiga de material”. Seria, portanto, o melhor adversário a ser enfrentado. No mundo das certezas absolutas, trata-se de mais uma unanimidade nacional, a que eu, de novo, recorro a Nietzsche: “deveríamos respeitar mais o pudor com que a natureza se escondeu por trás de enigmas e de coloridas incertezas”. Pois é.

 


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