A mudança na estratégia do PT para as eleições municipais de 2024 foi sinalizada na abdicação de lançar candidatos em 13 capitais e fica mais clara na priorização dada à campanha de Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo.

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Embora não seja petista, Boulos recebeu R$ 30 milhões do partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para fazer sua campanha. A quantia supera a soma distribuída para os 13 candidatos que a sigla lançou às prefeituras de capitais. Veja abaixo a lista:

– Aracaju: Candisse Carvalho, R$ 800 mil;

– Belo Horizonte: Rogério Correia, R$ 5 milhões;

– Campo Grande: Camila Jara, R$ 702,7 mil;

– Cuiabá: Ludio Cabral, R$ 654,5 mil;

– Florianópolis: Vanderlei ‘Lela’ Farias, R$ 320 mil;

– Fortaleza: Evandro Leitão, R$ 3,35 milhões;

– Goiânia: Adriana Acorsi, R$ 1,39 milhões;

 João Pessoa: Luciano Cartaxo, R$ 1 milhão;

– Manaus: Marcelo Ramos, R$ 995,23 mil;

– Natal: Natália Bonavides, R$ 1 milhão;

– Porto Alegre: Maria do Rosário, R$ 1,74 milhão;

 Teresina: Fabio Novo, R$ 1,5 milhão;

– Vitória: João Coser, R$ 837,67 mil.

Esforços pelo aliado

Há duas semanas, Lula esteve em São Paulo para agendas ao lado de Boulos e afirmou ser a “primeira vez” em que pedia votos para um “companheiro que não é do PT” na cidade. Além do ineditismo do apoio, o deputado do PSOL teve uma intervenção do próprio presidente para garantir a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) como candidata a vice e tem contado com a presença maciça do padrinho na campanha.

O esforço simbólico e político ganha corpo no investimento financeiro do partido, que tem direito a mais de R$ 619 milhões do fundo eleitoral, na candidatura. Na capital paulista, o limite de gastos estabelecido pela Justiça Eleitoral para as campanhas à prefeitura no primeiro turno é de R$ 67,2 milhões.

Petistas vem depois

Em dinheiro recebido do PT, Boulos é seguido de longe por Rogério Correa, com R$ 5 milhões. O deputado tem empatado com quatro adversários na segunda posição nas pesquisas para a prefeitura de Belo Horizonte.

Fechando o pódio, aparece Evandro Leitão, que chegou a receber Lula para sua convenção partidária em Fortaleza, mas ainda não decolou nas pesquisas — o deputado estadual fica atrás de Capitão Wagner (União Brasil) e do prefeito José Sarto (PDT) e empata tecnicamente com André Fernandes (PL).

Por outro lado, a delegada Adriana Accorsi lidera numericamente as pesquisas de intenções de voto em Goiânia — onde o PT enfrenta dificuldades históricas —, ainda que tenha recebido apenas R$ 1,39 milhões da legenda para fazer campanha, abaixo de diversos correligionários.

O site IstoÉ procurou a direção nacional do partido para obter uma posição a respeito da estratégia de repasses, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto à manifestação.

Causa e efeito

Para Renato Dorgan, cientista político e presidente do instituto de pesquisas Travessia, os esforços petistas por Boulos refletem uma estratégia da agremiação para fortalecer uma nova candidatura de Lula — ou um potencial sucessor — em 2026.

“Lula foi mais votado em 2022 em São Paulo sem ter o prefeito ao seu lado [Ricardo Nunes (MDB) ficou neutro no segundo turno entre o atual presidente e Jair Bolsonaro (PL)]. Ter um político de seu campo no cargo fortaleceria esse palanque para a próxima eleição”, afirmou ao site IstoÉ.

Na avaliação do cientista político, o petismo ainda se vê “encurralado” nas disputas de outras capitais, enquanto Boulos lidera numericamente pesquisas pela prefeitura — tecnicamente, ele está empatado com Nunes e Pablo Marçal (PRTB). “Estudos qualitativos demonstram uma rejeição às administrações de esquerda nas grandes cidades. A vitória nacional em 2022 parece ter sido muito mais do próprio Lula do que de seu campo político. Diante disso, Boulos se tornou uma rara esperança”, disse.

Além disso, a situação de empate técnico e o avanço de Marçal nas últimas semanas colocaram o candidato do PSOL sob risco de perder espaço na corrida, o que seria um baque para os planos de Lula e do PT. “Neste cenário, o dinheiro para fazer campanha pode ser preponderante para um candidato avançar ou não ao segundo turno”, afirmou Dorgan.