A fusão do PSL e do DEM provoca muito mais fumaça do que fogo. Está sendo anunciada como uma mudança no jogo eleitoral de 2022. Se concretizada, formará a legenda mais robusta do Congresso. O novo partido terá a maior bancada da Câmara, com 81 deputados. No Senado, terá 8 senadores, a quarta maior bancada. São quatro governadores e 554 prefeitos. Uma potência, certo? Errado. Esse casamento é apenas de conveniência, para tentar manter a relevância das duas agremiações, o que será impossível.

O PSL teve um crescimento explosivo apenas porque surfou na onda bolsonarista de 2018. É um partido nanico hipertrofiado, que não tem a menor chance de manter sua bancada em 2022 sem o atual presidente. Não quis entregar seu controle para ele, mas também não sabe ser oposição, nem tem vocação para isso. Apenas negocia pequenos interesses no varejo, almejando um naco de verbas e cargos do governo, qualquer governo. Já o DEM perdeu a chance de integrar algum  projeto alternativo ao bolsonarismo e ao lulismo. ACM Neto conseguiu implodir o partido que simbolizou um movimento conservador em consórcio com o PSDB na redemocratização. Atualmente, o DEM é apenas um braço do bolsonarismo que tenta servir a alguns interesses locais – a própria carreira do herdeiro do carlismo na Bahia, antes de mais nada.

Esse movimento dos dois partidos é apenas defensivo, para eles não se tornarem irrelevantes no balcão de negócios do Centrão. Nem a manutenção dessas bancadas vai se concretizar. A união das legendas criará um saco de gatos ideológico (se é que existe algum próximo a isso nessa turma) com inúmeros conflitos locais. Há interesses regionais conflitantes por todo o País, e já se espera uma debandada nos estados. O quem têm a oferecer no Rio os herdeiros de Sérgio Cabral, Eduardo Cunha, Anthony Garotinho e do bicheiro Aniz Abraão David?

As duas legendas receberam R$ 320 milhões do fundo eleitoral no ano passado, de longe o maior volume (o segundo é o do PT, R$ 201 milhões). E abocanham anualmente R$ 140 milhões do fundo partidário (o PT, na vice-liderança, recebe R$ 82 milhões). Querem manter essa bolada sem derreter no pleito de 2022. Não conseguirão.

Esses partidos tentam sobreviver ao enxugamento partidário determinado pela cláusula de barreira e pelo fim das coligações. Arhtur Lira e o Centrão tentam evitar a todo custo esse movimento saudável, mas até agora não conseguiram. Espera-se, então, mais clareza e representatividade no Parlamento. Dificilmente ela é representada por essa fusão. O novo mostrengo partidário é apenas uma tentativa de renovar o Centrão.