Psicólogo comenta julgamento da sensibilidade masculina após desabafo de Júnior Lima

Cantor relembrou pressão sofrida na juventude por boatos sobre sua sexualidade e os impactos emocionais causados pelo machismo da época

Andre Iosolini
Foto: Andre Iosolini

Em entrevista ao programa ‘Saia Justa’, do canal GNT, o cantor Junior Lima, de 41 anos, abriu o jogo sobre os boatos envolvendo sua sexualidade, que ganharam força no fim dos anos 1990 e início dos anos 2000. O irmão e ex-dupla de Sandy revelou que a frequência e o peso dessas especulações tiveram um grande impacto em sua vida pessoal, levando-o a buscar o autoconhecimento por meio da terapia. “Foram duas décadas de análise”, compartilhou.

Junior relembrou que sua adolescência foi profundamente impactada por esses boatos, gerando uma insegurança que ele só conseguiu compreender anos depois. “Naquela época, surgiram muitos comentários sobre minha sexualidade, e isso me causou uma insegurança enorme. Eu não entendia na hora, mas foi muito difícil. Ser homem naquele contexto — fim dos anos 90, começo dos 2000 — era bem diferente do que é hoje, com toda a consciência que temos hoje”, refletiu.

Ele também comentou que, por estar sempre inserido em ambientes artísticos e cercado de figuras femininas, acabou sendo mal interpretado. “Minha vida sempre esteve ligada à arte — dança, música, composição. Cresci com minha mãe e minha irmã, então minha sensibilidade era algo natural. Sempre fui um homem empático, gentil, atento às mulheres ao meu redor. Mas isso, na época, era malvisto, interpretado como algo errado.”

Junior reforçou que nunca se incomodou com os comentários em si, nem guarda preconceitos, mas admitiu que o contexto machista da época deixou marcas profundas. “Era um período extremamente machista. As fofocas, mesmo sem fundamento, me atingiam de maneira muito forte. Isso tudo teve reflexos duradouros. Precisei de muita coragem para continuar sendo quem eu era, sem abrir mão da minha sensibilidade e empatia. Sempre me preocupei com os outros, mas isso era mal interpretado. Um homem dançando? Até hoje tem gente que tem preconceito comigo por causa disso.”

Assista ao vídeo:

O psicólogo Alexander Bez declarou à IstoÉ Gente que, ao falar sobre sensibilidade masculina, é fundamental entender que isso não tem relação com fraqueza ou orientação sexual, como ainda é equivocadamente associado. Segundo ele, existe um termo na psicologia para essa característica: Pessoa Altamente Sensível (PAS). Ele explica que não se trata de uma doença ou transtorno, mas de uma característica natural da personalidade, que ele denomina Característica Funcional Mental (CFM). Essa tipologia é saudável e pode ser hereditária, fazendo parte do temperamento, ou desenvolvida ao longo da vida, especialmente em ambientes familiares mais leves e afetivos.

Bez ressalta que o caso de Júnior Lima exemplifica bem como a sensibilidade masculina ainda sofre com julgamentos. O cantor foi vítima de boatos na adolescência simplesmente por ser um homem sensível, numa época marcada por um machismo estrutural muito forte. Isso gerou inseguranças que, segundo ele, Júnior carrega até hoje, mesmo após anos de terapia. O psicólogo afirma que esse tipo de situação é comum, pois a sociedade ainda associa equivocadamente sensibilidade à sexualidade, quando, na verdade, são coisas completamente distintas. “Um homem pode ser hétero e sensível, uma coisa não anula a outra”, destaca.

De acordo com o profissional, homens sensíveis costumam ter percepção mais aguçada, são mais criativos, conectados à arte, à cultura e, principalmente, mais presentes emocionalmente em seus relacionamentos. Eles têm uma escuta ativa, se doam mais e são mais empáticos com suas parceiras. É justamente essa sensibilidade que sustenta relações profundas e verdadeiras.

No entanto, ele lamenta que, por serem diferentes do padrão machista, esses homens ainda sejam alvo de críticas e preconceitos, geralmente vindos de pessoas despreparadas emocionalmente. Ele enfatiza que a sensibilidade não surge de traumas, mas é uma expressão da inteligência emocional e da capacidade de se conectar com o outro com mais humanidade. “No fim das contas, é isso que a maioria das mulheres busca: alguém emocionalmente disponível, que saiba ouvir, acolher e se entregar. Ser sensível é um diferencial, e nunca uma fraqueza”, conclui.

Referências Bibliográficas

Alexander Bez – Psicólogo; Especialista em Relacionamentos pela Universidade de Miami (UM); Especialista em Ansiedade e Síndrome do Pânico pela Universidade da Califórnia (UCLA); Especialista em Saúde Mental. Atua na profissão há mais de 27 anos.

É também autor dos livros: Inveja – O Inimigo Oculto; O Que Era Doce Virou Amargo!!! (Volumes 1, 2 e 3); A Magia da Beleza Feminina; A Paixão e Seus Encantos; e What You Don't Know About COVID-19: The Mortal Virus.