Vários homens acusados de estuprar ou agredir sexualmente Gisèle Pelicot na França desenvolveram um mecanismo de defesa frente ao seu ego ferido, o que lhes permitiu “atuar”, explicou nesta terça-feira (24) uma psicóloga durante o julgamento de grande repercussão.

Desde 2 de setembro, o tribunal de Avignon, no sul de França, julga 51 homens no caso de estupros a Gisèle Pelicot, cujo ex-marido Dominique a drogou durante uma década para a violá-la juntamente com dezenas de desconhecidos.

A principal vítima, que se tornou um símbolo da submissão química e da luta contra as agressões sexuais, esteve presente na audiência desta terça-feira, acompanhada pelo seu filho David, observou um jornalista da AFP.

Na quarta semana de julgamento, os magistrados abordam o perfil de seis dos 51 acusados, incluindo o mais jovem, Joan K., que tinha 22 anos quando foi duas vezes à casa dos Pelicot para estuprar Gisèle.

A psicóloga Annabelle Montagne começou a leitura de seus relatos sobre os acusados com o caso deste homem, que se alistou no exército aos 18 anos.

Joan K., um consumidor crônico de álcool e cannabis, deprimido, impulsivo e solitário, sempre precisou do apoio de suas namoradas e do exército para lidar com “ansiedades potencialmente invasivas”, explicou.

Fabien S., de 39 anos, esteve em um orfanato desde os três anos de idade e sofreu abusos sexuais quando criança. Passou sete anos sem um lar e 10 anos preso por violência doméstica, tráfico de drogas e sequestro.

Este grande consumidor de cannabis, adepto de práticas sadomasoquistas e resistente à autoridade, tem caráter impulsivo e “necessita de imediatismo”, segundo a psicóloga.

Husamettin D., de 43 anos, tem, por sua vez, uma personalidade que “orienta-se em torno de uma ferida narcísica, causada por uma infância marcada pela miséria socioeconômica e pela rejeição do pai”, estimou a especialista.

Ele desenvolveu um “vício” na sexualidade que “é uma parte importante da sua vida há anos” e representa uma forma de “combater um vazio interior e um risco de colapso narcísico”, explicou Montagne.

Estes acusados teriam construído, em comum, uma “fratura” entre a sua vida pública e a sua vida sexual como um “mecanismo de defesa” para “poderem existir”?, perguntou Béatrice Zavarro, advogada de Dominique Pelicot, que também apresenta esta característica.

“Sim, em diferentes graus, é o mesmo mecanismo que nos permite atuar”, respondeu Montagne, apontando a necessidade de individualizar os comportamentos.

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