O ex-governador de São Paulo João Doria acredita que a desistência da candidatura presidencial em 2022 foi o ponto de partida para a crise no PSDB e lamentou que o partido tenha “minguado”. Em entrevista à IstoÉ, Doria afirmou não ter arrependimentos e não vê precipitação em sua candidatura ao Palácio do Planalto em 2022.
Inicialmente um outsider na política, Doria entrou oficialmente para a vida pública em 2016, quando foi eleito prefeito de São Paulo. Deixou o cargo um ano e meio depois, quando se elegeu governador do estado. Em 2022, tentou arriscar uma candidatura presidencial, mas o partido recuou para apoiar Simone Tebet (MDB).
Na avaliação de Doria, o movimento enfraqueceu o tucanato e tornou o partido “pequeno e inexpressivo”. A avaliação é similar à do presidente do partido, Marconi Perillo, que, em entrevista à IstoÉ, pontuou o episódio como o início da derrocada tucana.
“Eu acho que foi um equívoco do PSDB, independentemente da minha posição. Veja hoje em que situação está o PSDB. Eu lamento muito que um partido construído sob a égide de Franco Montoro, Mário Covas, José Serra, Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin, tantas figuras importantes hoje, tenha minguado e se torne um partido tão pequeno e tão inexpressivo”, afirmou Doria.
Em meio à forte divisão no partido entre ele e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, o partido foi obrigado a realizar prévias para escolher o candidato. Com votação apertada, Doria desbancou Leite e preparava sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto.
Nos bastidores, porém, aliados de Leite, inclusive o então presidente da legenda Bruno Araújo, buscavam alternativas para lançar o gaúcho ao cargo e enfraquecer a candidatura do empresário. A pressão obrigou Doria a desistir da candidatura em maio de 2022, depois que deixou o cargo no Palácio dos Bandeirantes.
A decisão, para Doria, prejudicou a eleição para deputados e senadores, minguando o partido que já obteve 99 deputados federais em sua bancada. Atualmente, o partido conta com apenas 17 deputados, somados aos do Cidadania, com quem compõe uma federação partidária.
“Foram prévias difíceis. Então, acumulei vitórias. Mas, repito, o partido tomou a decisão sequer de indicar um candidato, [de não] respeitar a decisão dos filiados que votaram nas prévias, e tomou a decisão de escolher uma candidata de um outro partido para disputar pelo PSDB”, disse.
“Comprometeu a eleição ou reeleição de governadores, deputados federais, senadores, deputados estaduais. Foi um desastre como medida, como a opção feita de não ter um candidato, sendo que tinha um candidato eleito pelas bases nas prévias. Eu só lamento, estou fora da política, não quero ser juiz deste fato e nem voltar ao passado, mas fico triste de ver a cada tempo um recuo e uma diminuição da força e da expressão e da respeitabilidade do PSDB. Uma pena para uma história tão robusta na democracia brasileira, construída pelo PSDB”, concluiu.
Questionado sobre o futuro da legenda, Doria se esquivou e disse não ter arrependimentos de ter tentado se lançar ao Palácio do Planalto. O empresário reforçou não ter interesse em voltar à vida pública, mesmo com as articulações pessoais que tem feito para eventos de seu grupo empresarial, o Lide, e disse ter deixado a política “sem mágoas”.
“Nenhum arrependimento, nenhuma mágoa. Eu gosto da política e tive um intenso e importante aprendizado. A política ensina muito. Ensina você na sua vida, na sua vida pessoal, na sua vida profissional e na sua vida empresarial. A política é cheia de adversidades e cheia de adversários também”, declarou.