PSDB aposta em retornos e figurões para 2026 após perder jovens governadores

Sem Eduardo Leite, Raquel Lyra e Eduardo Riedel, tucanos filiaram Ciro Gomes e miram candidaturas de ex-governadores

Aecio Neves (MG), Ciro Gomes (CE) e Marconi Perillo (GO), ex-governadores e colegas de PSDB
Aecio Neves (MG), Ciro Gomes (CE) e Marconi Perillo (GO), ex-governadores e colegas de PSDB Foto: Montagem/IstoÉ

A filiação do Ciro Gomes ao PSDB, nesta semana, foi anunciada com um vídeo que remontou as origens do partido pelo qual o político ganharia projeção nacional antes de concorrer quatro vezes à Presidência da República.

Embora o movimento tenha caráter mais estadual do que nacional, a volta do ex-presidenciável ao ninho recolocou o PSDB nas manchetes e refletiu a aposta do partido em lideranças tarimbadas para as eleições de 2026 como estratégia para superar as próprias crises, como a IstoÉ relata neste texto.

A derrocada tucana

Quando Geraldo Alckmin (hoje vice-presidente da República, pelo PSB) recebeu 4,76% dos votos nas eleições de 2018, mesmo com um amplo arco de alianças e o maior tempo de propaganda eleitoral da corrida, o PSDB ficou fora do segundo turno de uma disputa presidencial pela primeira vez desde 1989, quando Fernando Collor se elegeu pelo extinto PRN.

Depois de faturar a corrida pelo Palácio do Planalto duas vezes, em 1994 e 1998, com Fernando Henrique Cardoso, os tucanos enfrentaram Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (duas vezes cada) representados por José Serra, Aécio Neves e pelo próprio Alckmin. Mesmo com as vitórias petistas, o projeto de social-democracia representou a principal alternativa à esquerda no país, fez bancadas expressivas no Congresso Nacional, manteve o governo de São Paulo e protagonizou o que já se chamava de polarização política.

PSDB aposta em retornos e figurões para 2026 após perder jovens governadores

O vice-presidente Geraldo Alckmin: ainda no PSDB, teve resultado decepcionante na disputa presidencial de 2018

Mas em 2018, com Lula preso e o PT representado por Fernando Haddad, foi Jair Bolsonaro (no então nanico PSL) quem conquistou a vitória nas urnas. Para Felipe Nunes e Thomas Traumann, autores de “Biografia do Abismo” (HarperCollins Brasil, 2023), os anos de Operação Lava Jato e recessão econômica gestaram uma crise de legitimidade crucial para transferir o eleitorado tradicionalmente antipetista do PSDB para um “candidato antipolítica”.

“É nesse contexto que o centro político explode, fragmenta-se, e Bolsonaro aparece como alternativa mais viável eleitoralmente para aplacar a raiva contra a política. A eleição de 2018 é o ponto de inflexão para a transformação da polarização partidária em um fenômeno mais extremado, no qual o radicalismo começou a transbordar para o cotidiano“, escreveram os pesquisadores.

Neste contexto, a legenda historicamente liderada por representantes da centro-esquerda à centro-direita e distante dos discursos radicais foi sufocada. Na eleição seguinte, em 2022, o PSDB passou de 29 para 13 deputados federais e fez apenas três governadores — a lista não incluiu São Paulo, agora nas mãos do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), após 28 anos.

Desde então, tucanos históricos como Alckmin e Aloysio Nunes pediram desfiliação e distanciaram o PSDB de suas premissas tradicionais; os remanescentes hesitaram entre se aliar à gestão do arquirrival Lula ou embarcar no bolsonarismo. Em 2024, os tucanos conquistaram 269 prefeituras e, na maior cidade do país, viram o neofiliado José Luiz Datena dar uma cadeirada em Pablo Marçal (PRTB) durante um debate e terminar com menos de 2% dos votos.

PSDB perdeu jovens estrelas

Com as negociações para formar uma federação com o Podemos e salvar a própria pele frustradas — o financiamento público e a propaganda eleitoral são distribuídos aos partidos de acordo com suas bancadas na Câmara dos Deputados –, o partido viu seus três governadores eleitos em 2022 debandarem.

Primeiro foi Raquel Lyra, de Pernambuco, que rumou ao PSD para se aproximar do governo federal em um estado de maioria lulista. Em seguida Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, também em direção ao partido de Gilberto Kassab depois de criticar publicamente o tucanato e em busca de viabilizar a própria candidatura à Presidência. Por último Eduardo Riedel, do Mato Grosso do Sul, que em movimento oposto ao da pernambucana foi para o PP para acenar à direita. Além da saída do ninho, os três têm menos de 60 anos e eram encarados como perspectivas de futuro de uma agremiação em crise de identidade.

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Saída pela experiência

Presidente nacional da legenda, Marconi Perillo disse à IstoÉ em fevereiro que o partido transmitiu “mensagens equivocadas” ao seu eleitor e perdeu espaço como alternativa ao petismo. Com o discurso de renovação das bases, o dirigente lançou-se pré-candidato ao governo de Goiás contra o grupo do governador Ronaldo Caiado (União Brasil), que deve ungir o vice Daniel Vilela (MDB) à sucessão.

O próprio Perillo, no entanto, está longe de dar garantia de longevidade ao PSDB. Aos 62 anos e na política desde 1982, governou quatro vezes o estado, chegou a ser preso preventivamente na Operação Cash Delivery por suspeita de receber propina da Odebrecht — foi liberado após habeas corpus — e perdeu eleições para o Senado em 2018 e 2022. Em agosto, registrou 22% das intenções de voto para voltar ao governo, tecnicamente empatado com os 26% de Vilela, segundo a Atlas.

Outro tucano conhecido que se movimenta pelo Executivo estadual é Aecio Neves, que governou Minas Gerais entre 2003 e 2010. O mineiro foi quem chegou mais perto do Palácio do Planalto depois de FHC (teve 48,36% dos votos no segundo turno de 2014, contra Dilma), encampou uma guinada à direita da sigla ao contestar o resultado das urnas e se projetava para concorrer novamente a presidente em 2018, mas foi denunciado pela Lava Jato por suspeita de receber propina de empreiteiras.

Mesmo com a denúncia rejeitada pelo STF, teve a trajetória aplacada pela onda antipolítica. Acabou relegado a campanhas discretas pela Câmara dos Deputados, onde está desde 2019 e tem papel relevante em articulações, mas longe da repercussão pública de outrora. Em novembro, assumirá a presidência do partido no lugar de Perillo.

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Tasso Jereissati: experiente tucano, antecedeu Ciro no governo do Ceará e articulou a volta do aliado ao PSDB

A aposta mais ousada na experiência é no recém-filiado Ciro Gomes, de 67 anos. Com passagem marcante pelo PSDB, pelo qual governou o Ceará e foi ministro da Fazenda de Itamar Franco, ainda na década de 1990, o político fincou os pés na centro-esquerda nos anos seguintes ao concorrer quatro vezes à Presidência, por PPS (hoje Cidadania) e PDT, e comandar o ministério da Integração Nacional no primeiro governo Lula.

A decepção da última eleição presidencial (recebeu 3,04% dos votos), porém, precedeu uma migração completa para o antipetismo, em especial a nível estadual. Nos últimos meses, o grupo de oposição ao governador Elmano de Freitas (PL) passou a gestar uma nova candidatura de Ciro ao Palácio da Abolição. Ao deixar o pedetismo, ele chegou a ser chamado pelo União Brasil, mas o convite do ex-senador Tasso Jereissati, seu padrinho político, pesou a favor de um retorno ao ninho em alinhamento conveniente para os dois lados.

Ciro não declara, mas o presidente estadual da legenda, Ozires Pontes, disse à IstoÉ que o objetivo da filiação é a campanha ao governo cearense, e a pretensão foi reforçada por lideranças da direita radical, como o deputado Alcides Fernandes (PL). Mais competitiva entre as experientes apostas, o ex-presidenciável registrou em setembro 37% das intenções de voto pelo governo, em empate técnico com Elmano, que teve 37%, segundo a Real Time. Se a empreitada vingar nas urnas, o PSDB reassume o oitavo estado mais populoso do país.