Os 3 fatores que pesam a favor do PSB na chapa de Lula em SP

Partido do vice-presidente Geraldo Alckmin coloca nomes à disposição e busca filiações diante das dificuldades do PT no estado

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB), presidente e vice-presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB), presidente e vice-presidente da República Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

A articulação do grupo político do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para montar chapas estaduais nas eleições de 2026, quando o petista deve concorrer a um quarto mandato, tem o PSB em posição de protagonismo em São Paulo.

Da estratégia do partido à extensa crise eleitoral enfrentada pelo PT paulista, a IstoÉ explica neste texto quais são os três fatores que pesam para essa relação política.

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Tarcísio tem palanque robusto

O PT se afastou de uma tendência histórica e abraçou, desde as eleições municipais de 2024, o movimento de abrir mão da cabeça de chapa em disputas onde teria menores condições competitivas e apoiar candidaturas de partidos do centro à esquerda — com o objetivo, sempre, de garantir mais apoios ao projeto nacional de Lula.

Para 2026, essa lógica predomina nos estados das regiões Sul e Sudeste — onde Jair Bolsonaro (PL) teve mais votos na última eleição presidencial. Em busca de bons palanques para a tentativa de reeleição do presidente, petistas têm trabalhado para apoiar o prefeito Eduardo Paes (PSD) ao governo do Rio de Janeiro e o senador Rodrigo Pacheco (PSD) ao governo de Minas Gerais, um objetivo hoje mais distante.

Em São Paulo, alianças com PSD e MDB são obstruídas pelo fato de que ambos comungam com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Ex-ministro de Bolsonaro, Tarcísio declara publicamente que concorrerá à reeleição, mas é o favorito de setores do centrão à Faria Lima para enfrentar Lula na disputa presidencial e, neste caso, tem seu vice Felício Ramuth (PSD) e o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), cotados à sucessão estadual em equação que amarra as siglas a seu projeto.

O ‘time em formação’ do PSB

Com o caminho ao centro bloqueado, o PSB ganha status de parceiro prioritário para a composição da chapa governista no estado mais populoso da nação — e, portanto, imprescindível para o pleito federal. Se o PT nunca chefiou o Palácio dos Bandeirantes, os socialistas têm em seu quadro de filiados o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Márcio França, do Empreendedorismo, ambos ex-governadores paulistas.

França chegou ao segundo turno contra João Doria (então no PSDB), em 2018, quando disputava a reeleição, abriu mão de nova candidatura para apoiar Fernando Haddad (PT) na eleição seguinte e é tratado pelo PSB como pré-candidato ao cargo em 2026.

Márcio França: ministro do Empreendedorismo é tratado como pré-candidato ao governo paulista pelo PSB

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Alckmin, quatro vezes governador, é defendido pelos correligionários para repetir a parceria com Lula no ano que vem e tem, entre os argumentos para isso, a capacidade de atrair o eleitorado paulista para a chapa; por sua vez, petistas consideram-no para a eleição estadual.

Pensando nas duas vagas que estarão em disputa no Senado, hoje ocupadas por Alexandre Giordano (MDB) e Mara Gabrilli (PSD), que não devem buscar a reeleição, os socialistas convidaram as ministras do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), e do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB)que é do Mato Grosso do Sul e tem sido incentivada por aliados do governo a mudar não só de sigla, mas de domicílio eleitoral. Nos dois casos, pesa a capacidade de, mesmo numa sigla de esquerda, representarem um perfil político mais ao centro.

A deputada Tabata Amaral, vice-presidente estadual do PSB, disse que a legenda considera para a definição das candidaturas que o Brasil tem um eleitorado “de centro” e “cansado dos extremos”. “As duas ministras são mulheres que me inspiram. Tebet tem a cara do PSB, equilibra sensibilidade para o social e olhar para o fiscal, seria um nome muito competitivo em São Paulo. Marina tem história e resultados que dispensam apresentações, e também é uma liderança mais de centro. Estamos montando nosso time”, afirmou à IstoÉ.

A reticência de Haddad

Enquanto o PSB abriga políticos testados no estado e vislumbra novas filiações, o PT vê mais distante a possibilidade do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participar novamente das eleições paulistas. Derrotado pelo governador Tarcísio em 2022, o ex-prefeito da capital paulista anunciou que deixará a pasta que chefia até fevereiro e antecipou sua pretensão política em entrevista ao jornal O Globo. “Tenho a intenção de colaborar com a campanha do presidente Lula. Não pretendo ser candidato em 2026, mas quero contribuir para pensar o programa de governo e como estruturar a campanha”, disse.

Mesmo com o resultado negativo — 55,27% a 44,73% no segundo turno —, a avaliação de aliados a pesquisadores é de que a participação do ministro no último pleito foi essencial para Lula ampliar sua votação entre os paulistas e, por consequência, derrotar Bolsonaro. O presidente venceu na capital e teve 44,76% dos votos no estado, superando por mais de 4 milhões de eleitores o desempenho do próprio Haddad em 2018.

Fernando Haddad: candidato a governador de SP no último pleito, não pretende ser candidato em 2026

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Membros da base do governo ainda alimentam a expectativa de convencer o chefe da Fazenda a mudar de ideia e concorrer ao Palácio dos Bandeirantes ou ao Senado no próximo pleito, considerando também a falta de alternativas no PT para qualquer uma das missões. Paulistas, os ministros Alexandre Padilha, da Saúde, e Luiz Marinho, do Trabalho, já disputaram o governo, mas não empolgam; petistas aventaram até mesmo a possibilidade de buscar nomes de fora da política, como o ex-jogador Raí, diante do vácuo interno.

Na sexta-feira, 18, Lula resumiu o que pensa dessa história em entrevista concedida no Palácio do Planalto. “O Haddad tem maioridade e biografia para decidir o que quer fazer. Se você perguntar para mim se ele fosse [candidato], eu gostaria ele fosse. Mas eu não sei, tenho que perguntar para ele”, afirmou o presidente.