Ao pedir demissão na segunda-feira 13, o ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB), surpreendeu o presidente Michel Temer, mas lhe abriu a oportunidade para realizar uma oportuna reforma ministerial. Com a mudança de peças, Temer quer assegurar a maioria necessária para aprovar a reforma da Previdência. Algumas vozes do governo chegaram a anunciar a troca imediata de 17 dos 28 ministros. Mas uma mudança tão drástica provocou efeito contrário ao desejado, com reação adversa nos partidos da base aliada. A ISTOÉ apurou que os nomes serão trocados, mas em etapas. A primeira leva deve contemplar apenas quatro ministros. Três deles do PSDB, aliado que tem se tornado uma pedra no sapato do Palácio do Planalto. Afinal, os próprios tucanos anunciam que devem desembarcar do governo no início de dezembro.

A debandada tucana é usada pelos deputados do Centrão – composto por 12 partidos, entre eles DEM e PP – como o principal argumento para que Temer despeje da Esplanada todos os ministros do PSDB. Em troca, o bloco aliado promete continuar apoiando as reformas que a equipe econômica considera imprescindíveis, como a espinhosa mudança das regras da aposentadoria. Portanto, os mais cotados para deixarem o cargo são: Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo), Luislinda Valois (Direitos Humanos), além de Bruno Araújo, que se despediu do Ministério das Cidades. Outro tucano na alça de mira é o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes. Deveria cair com os outros correligionários. Mas tem apoio de Temer para continuar no cargo pelo menos até abril ou quem sabe até o fim do governo. Há forte pressão também pela troca do ministro do Turismo, Marx Beltrão, do PMDB de Alagoas – sua pasta é alvo de investigação da PF.

Antônio Imbassahy também tornou-se alvo do Centrão, principalmente depois da segunda denúncia de Rodrigo Janot pedindo a cabeça de Temer. Cabia-lhe a tarefa de arregimentar votos da base aliada para impedir a abertura de inquérito contra o presidente no STF. Mas foi boicotado por deputados de partidos da situação que não viram nele autoridade para intermediar pedido de seu interesse. E o ministro tucano não conseguiu cumprir a missão que lhe foi delegada. O próprio Temer se encarregou de receber os deputados em seu gabinete. Com a pressão do Centrão por mais espaço, Imbassahy, que é amigo pessoal de Temer, deve ceder sua cadeira para algum indicado pelo bloco aliado. Comenta-se que pode trocar o PSDB pelo PMDB e ganhar o Ministério da Transparência.

A “escrava” perderá o emprego

A ministra dos Direitos Humanos, Luislinda Valois, também deve recolher seus pertences do gabinete que ocupa. O nome dela entrou na lista dos possíveis ministros demitidos por causa do polêmico pedido que fez ao governo para acumular seu salário integral com o de desembargadora aposentada, o que elevaria seus proventos a um total de R$ 61,4 mil. Disse que seu salário de R$ 33,7 mil era comparado ao de uma “escrava”. Seu afastamento vem a calhar, pois Luislinda pertence à cota do PSDB. A revoada de tucanos se completa com a perda do Ministério das Cidades. A pasta é a mais cobiçada pelo Centrão. A depender dos interesses políticos de quem assuma, Cidades pode ser uma boa vitrine para as eleições de 2018, já que o ministério lida diretamente com o Minha Casa Minha Vida. Durante a semana, falou-se nome do presidente da Caixa, Gilberto Occhi, para ocupar a vaga. Mas Planalto ainda não confirmou.

O presidente Temer anunciou que vai escolher os substitutos a partir dos projetos para 2018. Ou seja, ele quer dar posse a ministros que não se candidatarão a cargo eletivo no ano que vem. Sua intenção é evitar que eles usem a máquina pública para capitalizar votos. Como boa parte dos ministros pretende se candidatar, a reforma pode não ser imediata, mas será ampla até abril, quando vence o prazo da desincompatibilização. Na terça-feira 14, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), chegou a antecipar a dança de cadeiras aconteceria em 17 ministérios: “A saída do ministro das Cidades precipita a discussão da reforma ministerial, tendo em vista que há ministério vago. Será uma reforma ampla e acontecerá no prazo que o presidente determinar”, disse Jucá.

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A declaração de Jucá provocou fortes reações no Congresso. Alguns parlamentares da base aliada chegaram a telefonar para o presidente aconselhando-o a não promover já essa verdadeira limpa no Ministério. Temer ouviu as ponderações. A maioria dos ministros só quer sair em abril. Por enquanto, as trocas virão em conta gotas.

O governo queria trocar 17 ministros em dezembro, mas a reação negativa
da base aliada fez com que as mudanças aconteçam a conta gotas

 


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