01/10/2019 - 12:08
A quatro semanas das eleições presidenciais na Argentina, os analistas e as pesquisas preveem uma confortável vitória do peronista de centro esquerda Alberto Fernández frente ao presidente liberal Mauricio Macri, mas as incógnitas sobre a volátil economia estão abertas.
Com crises recorrentes ao longo de sua história, que incluíram “default” e hiperinflação, a Argentina se encontra mais uma vez em uma situação de muita vulnerabilidade, e ninguém parece ter a receita para estabilizá-la.
Comprometido com um programa de ajuste fiscal com o Fundo Monetário Internacional (FMI), Macri testa, neste último período de seu mandato, medidas anteriormente criticadas por ele, como controle cambial e de preços.
Chefe de gabinete na Presidência de Néstor Kirchner (2003-2007), quando a Argentina pôs em suspenso sua relação com o FMI e ficou fora do mercado de capitais pelo “default” de 2001, Fernández reitera, volta e meia, que, em um eventual mandato seu, o calote está descartado.
Nenhum detalhe de seu programa econômico em um futuro governo foi divulgado até agora, porém. A incerteza política mantém os mercados em alerta. Nesse contexto, o FMI ainda não anunciou quando vai liberar a próxima parcela de US$ 5,4 bilhões, inicialmente prevista para setembro, de um empréstimo total de US$ 57 bilhões.
– Dívida, reservas e mercados –
A Argentina se encontra em recessão desde 2018, com alta inflação (30% até agosto) e aumento da pobreza, que alcançou 35,4% no primeiro semestre de 2019, o pior dado desde 2001. Os prognósticos para 2020 não são bons. A expectativa da agência Moody’s é de um prolongamento da recessão e de uma inflação de até 40%.
Desde as primárias de 11 de agosto, nas quais Fernández obteve 47% dos votos frente a 32% de Macri, as reservas internacionais caíram de US$ 66 bilhões para US$ 49 bilhões, a moeda se desvalorizou 20%, e a inflação se acelerou.
Para enfrentar essa situação, “é necessário muito consenso e muito poder político, o apoio do Congresso e dos governadores. É um desafio mais político do que econômico”, comentou o economista Martín Vauthier, da firma Ecogo.
“O próximo governo vai precisar de um programa confiável que permita baixar o índice do risco-país”, atualmente acima dos 1.200 pontos, e recuperar a confiança, afirmou Vauthier.
A dívida da Argentina se aproxima de 100% do Produto Interno Bruto (PIB). O governo Macri acaba de estender os vencimentos dos bônus de curto prazo sob legislação nacional e propôs uma renegociação dos créditos restantes. Todos esperam que as condições dessa reestruturação sejam definidas depois da eleição.
Gabriel Torres, analista da Moody’s para a Argentina, considera que o país apresenta “números consistentes com o pagamento da dívida”, desde que tenha acesso aos mercados.
A principal conquista econômica da gestão Macri foi a diminuição do déficit fiscal, que deve fechar 2019 em 0,5% do PIB.
“Se o próximo governo não fizer um ajuste fiscal e pretender financiar o gasto público com emissão monetária, caminharemos para uma inflação de três dígitos”, advertiu o economista Ramiro Castiñeira.
Fernández pede uma trégua de 180 dias aos sindicatos e movimentos sociais para fazer a indústria decolar e para retomar o crescimento econômico. Já Macri pede um voto de confiança para continuar na linha da austeridade, que, garante ele, deve render frutos muito em breve.