Protestos tomam Israel antes de nova ofensiva em Gaza

Mobilização organizada por grupos que representam familiares de reféns e vítimas pedem fim da guerra, enquanto militares israelenses se preparam para expulsar à força moradores da Cidade de Gaza

Protestos tomam Israel antes de nova ofensiva em Gaza

Milhares de manifestantes saíram às ruas de Israel neste fim de semana para exigir o fim da guerra na Faixa de Gaza e um acordo para libertar os reféns mantidos pelo grupo extremista Hamas.

Os protestos se intensificaram neste domingo, 18, com a convocação de uma greve nacional que bloqueou o trânsito e fechou estabelecimentos. De acordo com o calendário judaico, domingo é o primeiro dia útil da semana em Israel.

A mobilização, chamada de “Israel em pausa”, foi organizada por dois grupos que representam famílias de reféns e de vítimas, dias após Israel anunciar planos para uma nova ofensiva militar.

Cerca de 251 pessoas foram feitas reféns nos ataques do Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023 – e cerca de 1.200 pessoas foram mortas na ocasião. De acordo com as autoridades israelenses, 20 dos 50 reféns restantes em Gaza, após acordos de liberação, ainda estão vivos. Os manifestantes temem que novos combates possam colocá-los em risco.

“Não ganhamos uma guerra com corpos de reféns”, entoavam os manifestantes neste domingo.

Os protestos se concentraram em dezenas de pontos em todo o país – em frente a casas de políticos, quartéis-generais militares e nas principais rodovias. Alguns restaurantes e teatros fecharam em solidariedade.

A polícia informou ter prendido 32 pessoas envolvidas nas manifestações, consideradas as mais fortes desde a morte de seis reféns encontrados em Gaza em setembro.

“A pressão militar não traz os reféns de volta — apenas os mata”, disse o ex-refém Arbel Yehoud em uma manifestação na praça dos reféns em Tel Aviv, epicento dos protestos desde o início da guerra. “A única maneira de trazê-los de volta é por meio de um acordo, de uma vez, sem jogos.”

“Hoje, paramos tudo para salvar e trazer de volta os reféns e soldados. Hoje, paramos tudo para lembrar o valor supremo da santidade da vida”, defendeu Anat Angrest, mãe do refém Matan Angrest.

A greve conta com amplo apoio da sociedade israelense. Várias universidades — entre elas a Hebraica de Jerusalém, a Technion de Haifa e a Aberta de Israel — anunciaram que permitirão que seus funcionários e alunos se juntem aos protestos. Cerca de 75 autoridades israelenses, incluindo o prefeito de Tel Aviv, Ron Huldai, expressaram apoio ao movimento.

Nova ofensiva

O governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e aliados se opõem a qualquer acordo que deixe o Hamas no poder e se preparam para ampliar a guerra em Gaza. A nova ofensiva tem o objetivo de tomar o controle do norte da Cidade de Gaza, considerada o último reduto do Hamas.

Netanyahu instou o gabinete de segurança a tomar a cidade e os bairros de refugiados no centro da Faixa pela força militar e a evacuar as pessoas das zonas de combate para “zonas seguras”, no sul. Em vários momentos da guerra, Israel bombardeou áreas que havia declarado como zonas seguras.

Os residentes de Gaza receberão tendas e outros equipamentos de abrigo antes de serem realocados das zonas de combate para o sul do enclave, segundo o exército israelense. Não foi informado quando o deslocamento em massa terá início.

O ministro da Defesa, Israel Katz, afirmou que “estamos agora em fase de discussões para finalizar o plano para derrotar o Hamas em Gaza”.

A Cidade de Gaza era o centro urbano palestino mais populoso até que a maior parte de sua população foi deslocada pela guerra, que reduziu a Faixa de Gaza a um enorme escombro, com a população em estado de fome e miséria.

Além dos ataques – que já mataram mais de 60 mil pessoas e deslocaram a maior parte da população ao longo de quase dois anos –, a população palestina sofre com o bloqueio imposto por Israel em março da maior parte da ajuda humanitária, após o colapso do acordo de cessar-fogo.

As entregas de itens básicos foram parcialmente retomadas, mas organizações humanitárias afirmam que o fluxo está muito abaixo do necessário.

A Organização das Nações Unidas alerta que os níveis de fome e desnutrição em Gaza estão nos níveis mais altos desde o início da guerra. Neste fim de semana, ao menos sete crianças morreram de causas relacionadas à desnutrição em Gaza, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.

sf (AP, DW, ots)