Grupos contrários ao ex-presidente Lula protestaram na noite desta terça-feira(03) em diversas capitais do País. As principais lideranças foram o Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem pra Rua. Ambos pedem que não seja concedido o habeas corpus ao petista no julgamento que ocorre nesta quarta-feira (04) no Supremo Tribunal Federal (STF).

São Paulo

O líder do MBL Kim Kataguiri disse antes de subir no carro de som do movimento, na Avenida Paulista, que o (STF) não deveria se deixar pressionar, mas salientou que o ato de hoje é “contraponto” à pressão de parlamentares e advogados.

“Acho que o Judiciário não deveria dar margem a pressões externas, sejam políticas ou populares, mas infelizmente o que a gente viu na decisão da liminar de não prender Lula enquanto não houvesse julgamento do habeas corpus foi pura pressão política, porque não existe nenhuma previsão legal pra isso. Então, pra contrapor essa pressão de parlamentares, de advogados, que tem ido ao Supremo, batido de porta em porta em porta, de gabinete em gabinete, pra que o Supremo mude esse entendimento, a gente faz essa pressão e eu acredito que sim, vai fazer diferença”, afirmou.

O pré-candidato à Presidência da República pelo PRB, Flávio Rocha, disse que veio para a manifestação na Avenida Paulista por ser contra a impunidade, e não contra um ou outro “bandido”. Perguntado sobre a prisão de amigos do presidente Michel Temer, soltos no fim de semana, ele afirmou que as manifestações também servem para essas figuras. O presidenciável admitiu que sua presença no ato pode servir como palanque. “Eu estou defendendo minhas posições. Se é palanque, é um palanque legítimo”, disse. Rocha, que tem o apoio do Movimento Brasil Livre (MBL) para sua pré-candidatura, defendeu que o País precisa discutir uma reforma do Estado, e não apenas prender corruptos. “Hoje muitos corruptos são tentados a entrar na política. É preciso tirar o presunto da sala, aqui só estamos espantando as moscas.” Ele afirmou que a manifestação deve lembrar a prisão de amigos do presidente Michel Temer, e não apenas Lula. “Ninguém pode ter bandidos favoritos, você é a favor ou contra a corrupção. Estamos lutando contra a impunidade e para o STF manter a posição tomada [sobre a prisão após condenação em segunda instância].”

Miguel Reale Junior, autor do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, afirmou que “é um momento crucial”. “O País conseguiu romper com o vetor da corrupção. O povo percebeu que precisa quebrar com o que vem sendo sofridamente realizado no Brasil”

Durante a manifestação, Roberto Livianu, promotor do Instituto Não Aceito Corrupção, pediu mudanças no mandato dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). “É o momento de repensarmos sobre o STF, os ministros têm de ser escolhidos pela população. Não é razoável que permaneçam infinitamente no poder”.

O cantor Paulo Ricardo discursou em cima de um dos carros do movimento “Nas Ruas” e lamentou a situação do Brasil. “Por causa da corrupção muitas das melhores mentes do Brasil acabam saindo do País”.

Renato Felder, fundador do ranking dos políticos disse que essa é a hora de mudanças: “É uma onda que veio para ficar. A política mudou no Brasil. Agora é importante que o Congresso passe pela mesma limpeza. É hora do eleitor mostrar que sabe votar. O ranking é a ferramenta porque toda a memória dos senadores e deputados federais está lá, cada centavo gasto, tudo”.


Rio de Janeiro

Os manifestantes se reuniram na Avenida Atlântica, no quarteirão entre a Xavier da Silveira e a Miguel Lemos. O trânsito foi interrompido na via, na altura do Posto 5. “Lula na papuda. O Brasil não é igual a Cuba” e “A nossa bandeira jamais será vermelha” são os gritos de ordem dos manifestantes, vestidos de verde e amarelo.

O ex-casseta Marcelo Madureira discursou em Copacabana sob fortes aplausos. “Viemos pra rua fazer valer nosso direito. Estamos do lado da Justiça e da democracia”, discursou. Entre os manifestantes reunidos na orla, muitos exibem a camiseta com a inscrição “Bolsonaro presidente”.

Brasília

O protesto em Brasília contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu uma série de pautas que não têm a ver com o pedido de habeas corpus do ex-chefe do Executivo: religiosos criticam o aborto, houve faixas contra o comunismo e a favor de uma intervenção militar e, do carro de som, sobraram gritos contra o uso de dinheiro público em campanhas, o novo Fundo Eleitoral.

Havia muitos apoiadores do juiz Sérgio Moro e eleitores do deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), pré-candidato a presidente. Os rostos de ambos estampavam camisas de manifestantes. Por causa da chuva, organizadores convocaram, do carro de som, pessoas para voltar à Esplanada nesta quarta-feira (04), dia do julgamento do recurso de Lula, mas os manifestantes permaneceram em frente ao Congresso.

O Movimento Limpa Brasil, que levou carro de som ao Congresso, deu a palavra a um dirigente Associação Comercial do Distrito Federal, instituição apresentada como parceira do grupo. O protesto teve música ao vivo: de sátiras a “Lula Santo” e à “mala de Geddel” a sucessos de Jorge Ben Jor.

Os governadores de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), e do Piauí, Wellington Dias (PT), confirmaram viagem a São Paulo amanhã para assistir ao julgamento ao lado de Lula.

Curitiba

A expectativa inicial era de reunir cerca de 3 mil pessoas, mas no começo da noite, as manifestações começaram a atrair pessoas que saíam do trabalho e os organizadores chegaram a estimar a presença de 18 mil pessoas – o que não correspondeu às observações da Polícia Militar.

Para o coordenador do MBL no Paraná, Júnior Ramos, o mais importante é a mensagem que os atos em todo o Brasil pretendem passar à Justiça: “Não só Lula, mas vários outros vão acabar saindo da prisão e pode complicar ainda mais a situação da Lava Jato. A manifestação popular tem o objetivo de abrir os olhos do STF do que pode acontecer”, afirma Ramos.

Na frente do prédio da Justiça Federal, os manifestantes gritaram palavras de ordem em favor do juiz Sérgio Moro (que estava no prédio, mas não saiu para prestigiar o grupo). De camisas amarelas e apitos, os participantes penduraram faixas nas grades do edifício, com frases de apoio à Operação Lava Jato.

Na Boca Maldita, os animadores gritaram palavras de ordem pela prisão imediata de Lula. “As pessoas de bem deste País não podem aceitar que o STF liberte este bandido”, disse um empresário, presente no ato ao lado de toda a família.