Os manifestantes pró-democracia de Hong Kong tentaram perturbar novamente a circulação do metrô na ex-colônia britânica nesta segunda-feira, quando convocaram uma greve geral após um fim de semana marcado por atos de violência.

Hong Kong vive há três meses sua maior crise política desde a devolução pelo Reino Unido, em 1997, com ações quase diárias para denunciar a crescente interferência da China nesta região semiautônoma.

Nesta segunda-feira, os manifestantes bloquearam as portas dos vagões do metrô, o que impediu a saída e provocou muitos atrasos na rede.

Mas o alcance dos protestos não chegou perto do caos registrado em 5 de agosto, quando as ações de bloqueio paralisaram durante várias horas a rede, caracterizada normalmente por sua grande eficácia.

Alunos do ensino médio formaram uma corrente humana na entrada de várias escolas públicas antes do início das aulas. Alguns deles usavam máscaras antigás, capacetes e carregavam garrafas de água, o kit básico dos manifestantes nos últimos meses.

“Hong Kong é nosso lar. Somos o futuro da cidade e temos que assumir a responsabilidade de salvá-la”, declarou um estudante de 17 anos que se identificou pelo sobrenome Wong.

– Boicote às aulas –

As autoridades da cidade permitiram duas novas manifestações, ao mesmo tempo que diversos movimentos de oposição convocaram uma greve geral.

As universidades deveriam retomar as atividades nesta segunda-feira, após as férias de verão, mas os estudantes, a linha de frente das manifestações contra o governo, convocaram um boicote às aulas por duas semanas e um grande protesto para a tarde de segunda-feira.

O movimento de contestação, que nasceu em junho com a rejeição a um projeto de lei para autorizar extradições à China, ampliou consideravelmente as reivindicações: agora inclui denúncias de retrocesso das liberdades e sobre a crescente interferência da China nesta região semiautônoma, o que viola o princípio “um país, dois sistemas”.

Hong Kong viveu no sábado uma das jornadas de protestos mais violentas desde o início do movimento. E no domingo, milhares de manifestantes pró-democracia tentaram bloquear os acessos ao aeroporto com barricadas.

Muitos manifestantes seguiram depois para Tung Chung, por donde passa a única avenida que segue até o aeroporto. Eles utilizaram mangueiras para inundar a estação de metrô da localidade e queimaram uma bandeira da China, o que pode provocar a indignação de Pequim.

Muitos passageiros bloqueados pelos protestos foram obrigados a completar a pé a viagem até o aeroporto, onde 16 voos foram cancelados.

O governo local proibiu os protestos no aeroporto, depois que manifestações nos terminais em agosto provocaram cenas de caos e o cancelamento de centenas de voos. Os ativistas, no entanto, ignoram as restrições de movimento impostas pelas autoridades.

O protesto no aeroporto aconteceu depois de um sábado marcado por atos de violência em diversos bairros.

– “Escalada da violência” –

Um vídeo exibido por uma emissora local mostra policiais avançando contra a multidão e agredindo diversas pessoas em um vagão de trem. Um homem grita de joelhos e tenta proteger uma amiga, enquanto é atingido por gás de pimenta.

A Anistia Internacional criticou a “horrível” ação policial no trem e pediu uma investigação.

Em uma estação, 40 pessoas foram detidas.

“A segurança dos policiais e da população está gravemente ameaçada por esta escalada da violência e pelo uso cada vez mais frequente de armas letas por manifestantes”, afirmou a polícia em um comunicado.

A polícia indicou que deu dois tiros de advertência no sábado depois que um grupo de “manifestantes violentos tentou inclusive roubar as armas de agentes”.

Os hospitais atenderam 31 feridos, cinco deles em estado grave.

A imagem de praça financeira estável que Hong Kong tinha até recentemente foi abalada pelos protestos. O número de turistas desabou, enquanto hotéis e estabelecimentos comerciais precisam enfrentar uma importante queda do faturamento.