Pelo menos 500 mil pessoas protestaram neste domingo (21) nas principais cidades da Colômbia contra o governo de Gustavo Petro, em um momento de queda da sua popularidade, após 20 meses de gestão.
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O grupo diversificado de manifestantes contava com organizações médicas, forças políticas de centro, oposição e antigos aliados de esquerda com diversas críticas: rejeitam seus projetos de estatização do serviço de saúde, sua iniciativa de convocar uma Assembleia Nacional Constituinte e as negociações de paz com grupos armados, que não deteram a violência.
“Votei pela mudança, por Petro, mas continuamos na mesma situação. Estou marchando porque ainda acredito em que a Colômbia tem alguma esperança”, disse Martha Estrada, aposentada de 64 anos, em Bogotá.
A chuva na capital não desanimou os manifestantes, e milhares se reuniram no centro da Praça de Bolívar, próxima à sede presidencial.
Petro chegou ao poder em agosto de 2020, como o primeiro líder de esquerda a governar um país tradicionalmente liderado por elites conservadoras.
Com 60% de desaprovação, de acordo com a empresa de pesquisas Invamer, o presidente tem perdido apoio das forças políticas no Congresso e também nas ruas, onde costuma ser muito ativo.
Em Cali (sudoeste), Medellín (noroeste), Barranquilla (norte), Bucaramanga (nordeste) e outras capitais, os manifestantes se juntaram com bandeiras da Colômbia, camisetas brancas e o grito “Fora, Petro!”.
As principais capitais reuniram no total cerca de 500 mil manifestantes, segundo números oficiais. Apenas em Medellín, foram cerca de 350 mil pessoas.
Petro, no entanto, calculou o número de manifestantes em 250 mil e afirmou no X que várias concentrações foram fracas, e que o principal objetivo delas era “derrubar o governo da mudança” com “um golpe suave”.
‘Marcha dos jalecos brancos’
Essa não foi a primeira manifestação contra o governo, mas foi a maior.
Um dos projetos de reforma de Petro, o da saúde, dividiu o país quando ele começou a implementar por via administrativa vários dos seus eixos centrais, devido à dificuldade de obter apoio no Congresso.
O presidente deseja reduzir a participação de entidades privadas na prestação de serviços de saúde. Nos últimos dias, fez intervenções em várias entidades que atuam como intermediárias dos recursos entre o Estado e os hospitais, a fim de controlar o seu orçamento.
Especialistas concordam em que o sistema está em colapso e precisa de uma reforma, mas alguns questionam a forma como o governo pretende fazê-la.
Com o nome de “marcha dos jalecos brancos”, os médicos manifestaram seu “desacordo com a gestão atual gestão do sistema de saúde pelo governo”. Segundo a Invamer, 56% dos entrevistados em abril rejeitaram a intervenção do governo “em algumas das Entidades Promotoras de Saúde (EPS) na Colômbia para administrar diretamente o sistema”.
“Estou aqui como cidadão, médico e colombiano. Como médico, vejo o declínio, porque não há medicamentos para dar aos pacientes, porque esperam muito tempo pelo atendimento”, relatou Julio Rivero, 35 anos, em Bogotá.
Paz frágil
Manifestantes em diferentes cidades carregavam faixas alusivas à insegurança e à violência de rebeldes e narcotraficantes no campo.
A ambiciosa política de “Paz Total” do governo para encerrar seis décadas de conflito armado gera descontentamento. Seus detratores rejeitam as concessões recebidas pelos grupos armados durante as negociações de paz, apesar das violações frequentes do pactuado nas mesas de diálogo e da pouca vontade de abandonar as armas.
As negociações com os rebeldes do Exército de Libertação Nacional (ELN) e as dissidências das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) passaram por várias crises, devido a assassinatos, sequestros e ataques às forças públicas.
O país está “piorando” para cerca de 70% dos colombianos, segundo a Invamer.
Os protestos ocorrem também em meio a uma crise hídrica devido a uma grave seca, fazendo mais de 10 milhões de pessoas racionarem água em Bogotá. As chuvas voltaram no fim de semana, mas não foram suficientes, indicaram autoridades.
O presidente ordenou a suspensão da exportação de energia para o Equador e Petro decretou, na última sexta-feira, um “dia cívico”, com um pedido para economizar água e energia e “ir neste fim de semana para lugares de outras bacias hidrográficas, a fim de reduzir a pressão do consumo” em Bogotá.
A medida foi vista por opositores como forma de atingir os protestos deste domingo.