08/03/2023 - 13:17
A polícia grega usou gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes que lançaram bombas incendiárias, nesta quarta-feira (8), durante um protesto de dezenas de milhares de pessoas indignadas com a pior tragédia ferroviária do país.
Ao menos 57 pessoas morreram e 14 continuam hospitalizadas depois que um trem de passageiros colidiu com uma composição que transportava mercadorias em 28 de fevereiro.
A maior manifestação aconteceu em Atenas, com cerca de 40.000 participantes, na qual os manifestantes exibiam faixas proclamando: “Não é um acidente, é um crime”.
Do lado de fora do Parlamento, dezenas de pessoas encapuzadas jogaram coquetéis molotov e pedras contra a polícia, que respondeu com gás lacrimogêneo, segundo um jornalista da AFP.
Em Tessalônica – a segunda cidade do país – houve confronto entre a polícia e os manifestantes do lado de fora da estação ferroviária.
A polícia informou que mais de 65.000 manifestantes foram às ruas em todo o país.
Os funcionários públicos também estão em greve durante 24 horas, assim como os professores do ensino fundamental, médicos, motoristas de ônibus e metrô e os responsáveis pelas travessias marítimas às diversas ilhas do país.
Na manifestação na capital grega, muitas faixas pediam a renúncia do governo do primeiro-ministro, Kyriakos Mitsotakis.
“Estou aqui para expressar minha homenagem aos mortos e também minha indignação e frustração”, disse à AFP em Atenas Niki Siouta, um engenheiro civil de 54 anos.
“Este governo tem que sair”, afirmou.
Outros cartazes repetiam a frase “Me ligue quando chegar”, enviada por uma mãe ao filho que morreu no acidente.
Muitos gregos expressaram também seu descontentamento com a decadência dos serviços públicos desde que planos de austeridade foram impostos por credores da Grécia.
A Grécia enfrenta uma onda de indignação não vista desde a crise financeira de 2008-2018, com manifestações cada vez mais violentas.
Muitas das vítimas eram jovens e estudantes. Nos últimos dias, imagens dos pais arrasados enterrando seus filhos foram transmitidas ao vivo pela televisão e comoveram ainda mais o país.
O chefe da estação de Lárissa, que reconheceu sua responsabilidade no acidente, está em prisão provisória.
Os dois trens percorreram o mesmo trilho por vários quilômetros, sem que ninguém percebesse, até colidirem frontalmente na noite de 28 de fevereiro perto de Lárissa, 350 km ao norte de Atenas.
Após esta “tragédia nacional”, como a qualificaram as autoridades, os gregos exigiram prestações de contas de seus governantes, começando pelo primeiro-ministro.
O chefe de Governo, que enfrentará eleições gerais na primavera (Hemisfério Norte), foi duramente criticado por afirmar, horas após o acidente, que o que aconteceu foi um “trágico erro humano”.
Os sindicatos ferroviários, indignados, lembraram que haviam alertado para os graves problemas técnicos desta linha muito antes da tragédia, e que não foram ouvidos.
O primeiro-ministro pediu desculpas às famílias das vítimas no domingo, tarde demais para muitos. Também solicitou ajuda à União Europeia, que deve enviar especialistas da Agência Ferroviária da União Europeia (ERA) a Atenas nesta semana.
A sociedade ferroviária italiana Hellenic Train também é alvo da indignação de manifestantes, que escreveram a palavra “assassinos” em sua sede em Atenas.
Esta empresa privada, que administra o tráfego de passageiros e de mercadorias, respondeu às acusações indicando que a responsabilidade pela manutenção da rede seria da empresa pública grega OSE.
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