Dezenas de manifestantes se reuniram em frente à embaixada brasileira na capital alemã para protestar contra o assassinato brutal de jovem congolês em frente à quiosque na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.Dezenas de manifestantes se reuniram neste sábado (05/02), em Berlim, para pedir justiça e se solidarizar com os atos de protesto no Brasil pela morte do congolês Moïse Kabagambe, de 24 anos, assassinado brutalmente na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.

O protesto aconteceu em frente à embaixada do Brasil. Manifestantes se revezaram ao microfone para pedir que o caso não fique impune. Eles lembraram que Moïse foi para o Brasil em busca de segurança, mas acabou morto de forma brutal. Também foram cantadas músicas brasileiras que fazem referência ao sofrimento dos negros na história do país.

“Depois da ascensão do neofascismo no Brasil, com Jair Bolsonaro, parece que se tem uma carta branca para matar os negros. Não dá mais para dizer que são casos isolados. Mas o racismo não começou neste governo. Ele apenas se agravou”, disse à DW Sandra Bello, coordenadora do movimento Quilombo Alê Berlim e uma das organizadoras do protesto.

Para Bello, é importante que o protesto seja realizado também no exterior. “O racismo e a xenofobia estão em todos os lugares, inclusive na Alemanha”.

Sandra também integra o Instituto de Pesquisa das Culturas Negras, que participou da coordenação dos atos no Brasil e no exterior. Além de Berlim, estavam previstas manifestações em Nova York, Londres e, de forma virtual, em Paris.

“Vamos eleger pessoas pretas”

Organizado por ativistas do movimento negro, o ato em Berlim reuniu cerca de 50 pessoas, e contou com a presença de brasileiros e alemães. “A gente não quer mais ser maioria nos presídios, nos hospitais psiquiátricos, debaixo da lona preta. Vamos eleger pessoas pretas este ano para ter representatividade e mudar essa realidade”, conclamou a produtora cultural Uriara Maciel, que vive há seis anos em Berlim.

Maciel, que integra o Comitê Ruas Marielle Franco na Europa, lembrou que a vereadora carioca negra “morreu perguntando quantos ainda terão que morrer para que essa guerra acabe” – uma referência à morte de um jovem morador de favela. Marielle Franco foi assassinada no Rio de Janeiro, em março de 2018. O crime não foi esclarecido até hoje.

Ativista vê semelhanças com práticas da milícia

A cantora Tâmera Vinhas, a Formosa, contou à DW Brasil que foi ao ato, sobretudo, para levar sua solidariedade à família de Kabagambe. “Como mulher negra e imigrante, tento usar a minha voz como um ato político também”, disse a ativista, que cantou algumas músicas durante o protesto.

“Esse crime se assemelha muito às práticas da milícia no Rio, onde a brutalidade contra corpos negros é comum. Temos que tomar cuidado para que não haja uma federalização dessa milícia que atua no Rio”, disse Vinhas à DW Brasil.

Para ela, a milícia hoje “é onipresente na cidade, e controla um sistema que vai da venda do gás ao uso da internet nas comunidades”.

A porta-voz da Organização Pan-Africana para o Empoderamento e a Libertação das Mulheres, Marianne Ballé Moudoumbou, também pediu que os responsáveis pela morte do congolês sejam levados à Justiça e que haja mais proteção para os negros no Brasil, através de “medidas preventivas”.

O protesto durou cerca de uma hora e meia. Os manifestantes respeitaram o uso de máscaras, que continua obrigatório nas manifestações na Alemanha. No final do ato, foram distribuídas tulipas e frutas aos participantes.

Protestos no Brasil

No Brasil, protestos ocorreram em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, e Porto Alegre.

Na capital carioca, centenas de manifestantes se reuniram em frente ao quiosque Tropicália. O ato teve a participação de familiares de Moïse, incluindo a mãe do jovem, e dezenas de entidades defensoras da causa negra e dos direitos humanos, além de organizações políticas.

Moïse foi espancado até a morte em frente ao quiosque Tropicália no dia 24 de janeiro. Três homens foram presos suspeitos do crime – um deles era funcionário do quiosque Biruta. De acordo com a família de Moïse, ele foi ao local para cobrar dívidas do proprietário do quiosque Tropicália, onde ocorreu o crime. Recentemente, o jovem tinha começado a trabalhar em outro quiosque da região, chamado Biruta. A defesa do homem apontado como dono do Tropicália nega que ele tivesse dívidas com Moïse.