Um protesto contra o alto custo de vida no Suriname resultou, nesta sexta-feira (17), em distúrbios na capital Paramaribo, que foram dispersados pelas forças de segurança em meio a saques de comércios e à tentativa de invasão do Parlamento, testemunhou um correspondente da AFP.

Entre 1.000 e 2.000 pessoas se reuniram pela manhã no centro de Paramaribo para protestar contra o aumento dos preços dos alimentos, da gasolina e da eletricidade, acusando o governo do presidente Chan Santokhi de corrupção. “Fora Chan!”, repetiam.

Por volta do meio-dia, alguns manifestantes romperam as barreiras policiais que protegiam o Parlamento e tentaram entrar no edifício atirando garrafas e pedras contra os policiais, que responderam com gás lacrimogêneo e disparos de balas de borracha.

Lojas foram saqueadas, entre elas uma de telefonia. Um carro foi incendiado, e houve tentativa de atear fogo em diversos prédios. Várias pessoas ficaram feridas.

O governo condenou os distúrbios em um comunicado e advertiu que “não vai tolerar, sob nenhuma circunstância, que o Estado de Direito e as instituições democráticas” do Suriname “sejam afetadas”.

“Condenamos e rejeitamos nos mais duros termos o que aconteceu hoje na Assembleia Nacional [Parlamento] e arredores”, acrescentou. “Entraram à força em edifícios e espaços da Casa da Democracia, causando destruição. Foram tomadas medidas enérgicas contra quem instruiu, perpetrou e provocou esses ataques”.

O ministro de Justiça, Kenneth Amoksi, garantiu que a situação “está sob controle”.

“Vemos distúrbios em outros países e não estamos acostumados a este tipo de coisa no Suriname”, disse Amoksi aos jornalistas. “Processaremos os responsáveis”, frisou.

– ‘Não chego nem à metade do mês’ –

A manifestação foi convocada pelo ativista político Stephano “Pakittow” Biervliet.

Os sindicatos não haviam feito chamados oficiais para esta mobilização, mas ela coincidiu com uma greve que já tinha sido convocada para quinta e sexta-feira.

“Saí mais cedo do trabalho para me unir ao protesto. Não chego nem à metade do mês, tenho três crianças para alimentar e dois empregos. Todos os dias os preços sobem”, disse à AFP Agnes, que não quis ter o sobrenome divulgado.

“Não consigo mais pagar a gasolina para ir trabalhar e levar meus filhos à escola”, reclamou Alfred, outro manifestante, que também não quis divulgar seu sobrenome.

O Suriname, um pequeno país do nordeste da América do Sul (600.000 habitantes), está mergulhado em uma grave crise econômica, com inflação galopante e uma enorme dívida externa.

A ex-colônia holandesa aguarda com impaciência a exploração de suas reservas de petróleo, que devem ser significativas.

O governo insiste em que deve reduzir gastos como parte do programa de restruturação econômica com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e implementou reformas fiscais que incluem o fim dos subsídios à eletricidade, água e gasolina, bem como um novo imposto sobre o comércio.

Essas políticas têm sido alvo de fortes críticas da oposição e dos sindicatos.

O Suriname firmou um acordo de 690 milhões de dólares (R$ 3,6 bilhões) com o FMI, mas os recursos acabaram sendo congelados pelo não cumprimento das condições exigidas.

str-pgf/jt/ad/lb/mvv/rpr