No centro de “Os Donos do Jogo”, nova produção da Netflix criada por Heitor Dhalia, está Profeta — personagem que exige de André Lamoglia uma entrega inédita. Ambivalente e movido por uma lógica própria, o protagonista é não só o fio condutor da narrativa, mas também um ponto de inflexão na trajetória do próprio intérprete. É aqui que ele passa a operar em outro registro: mais opaco, mais tenso e mais adulto.
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E essa virada chama ainda mais atenção quando se considera o início da carreira de André. Foi como Rafa Smor, o surfista idealista de “Juacas” (Disney Channel Brasil), que ele estreou nas telas — um papel leve, ensolarado, perfeitamente alinhado ao arquétipo juvenil de mocinho pop. O contraste com o Profeta é tão agudo quanto calculado: não se trata de rejeitar o passado, mas de mostrar que o alcance vai muito além.
“Eu vejo quase como trocar de pele. Existe um certo risco em romper com aquilo que te deu visibilidade, mas também existe uma urgência. O Profeta é um personagem muito diferente de tudo que já fiz anteriormente”, comenta o artista.
“Precisei virar a pele do avesso para acessar características e sentimentos que nunca tinha acessado como ator, me aprofundar nas motivações e complexidade do personagem, que não tem nenhuma cerimônia sobre uma intrigante e abismante flexibilidade ética. E quando eu me vi de fato inserido no processo, entendi que estava no caminho certo”, completa.
Entre esses dois projetos, “Elite” marcou um novo momento do streaming e se tornou um dos maiores sucessos da Netflix.
Em cena como Iván, Lamoglia começou a tensionar as bordas da imagem juvenil: drama familiar, fragilidades íntimas. Ainda era o universo adolescente, mas com rachaduras. O terreno estava sendo preparado.
“‘Elite’ foi um ponto de inflexão, sem dúvida. Até então, eu vinha trabalhando com personagens mais leves, mais alinhados àquele arquétipo mais ‘solar’. Com o Iván, apesar dele ter sido apresentado inicialmente nesse registro, comecei a explorar um terreno bem mais ambíguo, de um garoto que carrega feridas que nem ele entende direito, que está num jogo de aparências, mas despencando por dentro”, diz o artista.
“Foi ali, acho, que comecei a dar vida à essa tensão entre a imagem que se projeta e o que realmente está ruindo por trás. E, olhando o agora, foi mesmo um projeto que mudou a minha vida. ‘Elite’ definitivamente me preparou para o que viria depois”, completa.
Mas a guinada não se deu apenas diante das câmeras; fora delas, Lamoglia também vem conquistando novos espaços. Campanhas para marcas como Bvlgari, Fendi, Ralph Lauren e Prada sugerem que o ator busca transcender a figura que se restringe ao intérprete. Sendo presença em espaços plurais à nível global.
“Eu gosto de sair do lugar seguro. Para mim, tanto na atuação quanto na moda, é interessante poder desenvolver novas perspectivas, outras formas de ver o mundo, conhecer a visão também de outros artistas, designers, suas ideias e concepções, sempre enxergo como uma vivência que acrescenta de diversas maneiras, grande delas, não óbvias”, conclui o artista.